O que este conteúdo fez por você?
- O mesmo pensamento de grandeza pode ser relacionado ao Titanic, ao fundador da OceanGate, e aos fraudadores das Americanas
- Essa lógica é permeada por vieses cognitivos como excesso de confiança, prática de má avaliação de riscos e busca de notoriedade e pode gerar impactos negativos significativos
- Por isso, é importante fazer uma sincera reflexão sobre os próprios comportamentos e decisões, para identificar a frequência com que esses vieses aparecem
A expressão “grande demais para falir” (“Too big to fail”) ficou bastante popular durante a crise financeira de 2008. Ela se referia a algumas instituições financeiras consideradas tão relevantes, em tamanho e impacto sistêmico, que suas falências eram vistas como eventos impossíveis de acontecer. Especialistas em economia e finanças entendiam que governos e outras entidades do mercado financeiro evitariam a todo custo as consequências graves de um colapso dessas companhias, por meio de aportes e medidas que impedissem uma reação em cadeia de efeitos negativos em todo sistema financeiro.
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“Grande e majestoso demais para falhar ou afundar”, assim era visto o Titanic, o maior transatlântico da época. Em linha com o mesmo pensamento de grandeza, Stockton Rush, fundador da OceanGate, proprietária do Titan e morto na implosão do submarino durante sua expedição até o naufrágio do Titanic, disse em entrevista anterior ao trágico acidente que “a cápsula do submersível era indestrutível”.
Na mesma lógica de magnitude “grande demais para vir à tona”, pode ter sido esse o raciocínio dos fraudadores das Americanas (AMER3) ao manterem, por anos, lançamentos contábeis enganosos? Ou até de auditores, acionistas e bancos que indiretamente alimentaram a dívida bilionária da companhia sem grandes questionamentos?
Excesso de confiança
Bill Gates disse: “O sucesso é um péssimo professor. Ele faz com que pessoas inteligentes acreditem que não vão perder nunca”. O viés de excesso de confiança tem sido amplamente estudado. Um dos pesquisadores pioneiros foi Daniel Kahneman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2002.
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Em colaboração com Amos Tversky na década de 70, descobriu que pessoas tendem a superestimar suas próprias habilidades, conhecimentos e crenças. O excesso de confiança é um fenômeno no qual indivíduos acreditam excessivamente em suas próprias opiniões e capacidades, subestimando riscos e incertezas.
Essa atitude pode gerar impactos negativos significativos na vida das pessoas, causar estragos para investidores, levando a decisões imprudentes e com má avaliação de riscos.
Erros cometidos na gestão de riscos
Em seu livro Psicologia Financeira, Morgan Housel fez a seguinte afirmação: “A linha que separa o ‘inspiradoramente ousado’ do ‘estupidamente imprudente’ pode ter um milímetro de espessura e ser visível apenas em retrospectiva”. Então, como lições, em retrospecto, dos casos Titanic, da implosão do submarino ou das perdas nas Americanas, pode-se identificar três importantes erros comuns na gestão de riscos a serem evitados:
1. Ignorar a importância de antecipar, reconhecer e criar uma matriz de riscos;
2. Não se aprofundar nas informações e em pesquisas quanto aos riscos;
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3. Desconsiderar os eventos de alto potencial.
Necessidade de notoriedade
A mãe de uma das cinco vítimas do submarino contou que seu filho Suleman Dawood, obcecado por cubo mágico, levou o brinquedo no submersível porque queria quebrar o recorde mundial debaixo d’água. A motivação por bater recordes é gerada por uma combinação de fatores, entre eles a busca por reconhecimento, notoriedade e fama.
Conseguir diferenciar motivadores que trazem impactos positivos a si próprio e aos outros – como superação pessoal, vontade de explorar o potencial humano para contribuir com a sociedade – dos que podem gerar sérios danos, como ser movido por comparação e prestígio social, requer muita sabedoria e autoconhecimento.
Autorreflexão
Vários memes circularam nas redes sociais a respeito do trágico acidente do submarino. Talvez o humor, aparentemente contraditório à compaixão esperada frente a uma tragédia, seja uma forma de atenuar a comoção, a tristeza ou o medo perante a fragilidade humana. Ou mesmo uma forma de expressar indignação pelo fato de as vítimas terem muito dinheiro (o que mostra que ricos também cometem imprudências e erros graves) e terem escolhido desperdiçar muitos recursos e a própria vida por diversão, enquanto grande parte da população mundial luta para viver.
Não importa se a função do humor dos memes seja uma expressão de autoproteção, comoção ou indignação. Importante, sim, para cada um de nós é fazer uma sincera reflexão sobre os próprios comportamentos e decisões, para identificar a frequência do uso de vieses cognitivos, como os casos do excesso de confiança, da prática de má avaliação de riscos e da busca de notoriedade a serviço da conquista de sucesso, satisfação e felicidade.
Pois, como também diz Housel: “Suficiente é perceber que o oposto disso – ter um apetite insaciável por mais – vai levá-lo até o ponto do arrependimento”.
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