- Temos uma revolução em curso atualmente; algo que irá acontecer de qualquer jeito, quer você entenda e participe do processo, ou não. Estou falando da revolução das criptomoedas.
- Em 2018, por exemplo, lembro que falei numa roda de investidores/analistas que tinha Bitcoins no portfólio. Neste momento, me olharam como se eu tivesse dito que o uso de crack podia ser compatível com uma vida saudável (não, não pode… Melhor deixar claro)
Estou na França no momento. Vim passar uma semana de férias em Paris antes de iniciar alguns meses de trabalho pesado na 17º turma do meu curso de educação financeira.
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Naturalmente, é impossível estar na França sem pensar por alguns momentos na famigerada Revolução Francesa. Entre tantas coisas que podem ser comentadas sobre o assunto, vou me ater ao pequeno e significativo diálogo que aconteceu entre o então soberano da França, Luís XVI, e um de seus ministros, o duque de Liancourt.
Na madrugada do dia 15 de julho de 1789, o duque citado invade a antecâmara do quarto de Luís XVI em Versalhes. Liancourt estava agitado. Ele contou ao rei que uma multidão enfurecida havia tomado a Bastilha, uma prisão que era símbolo do poder absolutista dos monarcas franceses.
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Após o ouvir o relato, Luis XVI questionou o duque: “Então temos uma revolta?”, e Liancourt respondeu-lhe: “Não, majestade, é uma Revolução!”.
Embora usadas por vezes como sinônimos, perceba que o duque fez questão de mostrar ao rei que uma revolução era bem diferente de uma revolta.
A própria origem da palavra já deixa isso bem claro. O termo revolução, tão usado em contextos sociais, veio da astronomia e diz respeito ao movimento dos astros. Uma revolução seria um movimento que não pode ser parado, que irá acontecer de toda forma, quer a gente queira, quer não – ou será que é possível parar a translação da Terra em torno do Sol?
E adivinhe por que fiz este prelúdio? Porque temos uma revolução em curso atualmente; algo que irá acontecer de qualquer jeito, quer você entenda e participe do processo, ou não. Estou falando da revolução das criptomoedas.
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Este movimento, que começou pequeno em 2009, se transformou realmente em uma revolução nos últimos anos por conta de 4 fatores que, segundo o autor Jared Diamond, em seu livro “Armas, Germes e Aço”, aparecem por trás da aceitação de novas tecnologias.
Os fatores são:
(1) a vantagem econômica em comparação com a tecnologia existente;
(2) a facilidade com que as vantagens podem ser observadas;
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(3) o valor social e o prestígio de quem adota;
(4) a compatibilidade com o capital investido.
Explicando cada fator, já falamos em minha coluna anterior sobre quem investiu em Bitcoin mais cedo acabou prosperando em comparação com quem não investiu.
Com uma evolução de preços que saiu de menos de 1 dólar em 2010 para 40 mil dólares em 2022, ao mesmo tempo em que as moedas estatais perderam valor devido ao efeito da inflação, fica fácil ver a vantagem econômica existente a favor do Bitcoin (fatores 1 e 2).
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No ponto seguinte, o valor social e prestígio, até pouco tempo atrás não havia prestígio algum nas criptomoedas. Em 2018, por exemplo, lembro que falei em uma roda de investidores/analistas que tinha Bitcoins no portfólio. Neste momento, me olharam como se eu tivesse dito que o uso de crack podia ser compatível com uma vida saudável (não, não pode… melhor deixar claro).
“Bruno, mas que besteira! Quem liga para o que os outros pensam?”. Quase todo mundo. O valor social é uma questão muitas vezes subestimada, mas bem importante. Basta lembrar que o Japão praticamente se negou a usar armas de fogo até o século XIX porque os samurais viam mais prestígio no uso de espadas – algo que mudou quando os americanos pararam navios de guerra fortemente armados na costa japonesa.
Se as criptomoedas continuassem a ser vistas como subterfúgio de traficantes e terroristas, as pessoas que seguem a lei, 99% do mundo, pensariam dez vezes antes de usá-las.
Felizmente, depois que empreendedores do setor já se tornaram bilionários, que a ideia já está suficientemente disseminada a ponto da sua celebridade favorita, vizinho ou colega de trabalho usar e até mesmo países terem adotado o Bitcoin como moeda oficial, o prestígio chegou e parece ter vindo para ficar.
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Chegará o tempo em que não ter criptomoedas será tão estranho quanto não ter conta numa rede social atualmente.
Em relação a compatibilidade com o capital investido, quanto mais dinheiro está alocado no mundo das criptomoedas, mais complicado é barrar seu avanço.
No começo, quando ninguém conhecia o Bitcoin, exceto alguns poucos cyberpunks, seria fácil legislar contra as criptos. Agora, depois de milhões de usuários e com empresas deste universo possuindo dinheiro e conexões suficientes para fazer lobby em congressos pelo mundo, esta é uma missão muito mais complicada.
E o mais interessante com os fatores apresentados é que eles se retroalimentam, tornando o processo cada vez mais forte e rápido, porque as vantagens econômicas, e a facilidade com que são notadas, geram mais prestígio, o que acarreta em mais capital investido, deixando o setor mais forte e tornando o termo revolução cada vez mais próximo de sua origem: algo imparável.
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Voltando a Revolução Francesa, vale citar que, após a queda da Bastilha, ainda tivemos quase 4 anos até o dia que Luís XVI perdeu a cabeça na guilhotina revolucionária. No mundo atual, a Bastilha está caindo pedra por pedra neste momento, resta saber até quando as moedas fiduciárias manterão suas coroas frente à revolução das criptomoedas.