O "lado B" do mercado

Einar Rivero é Consultor de dados financeiros de mercado. Engenheiro por formação, tornou-se referência para o mercado financeiro por trazer levantamentos e insights inéditos a partir do cruzamento de dados econômicos. Durante 25 anos, atuou como líder e gerente de relacionamento institucional de importantes plataformas de informação financeira. Está nas redes sociais como @einarrivero no Instagram e no Twitter e, ainda, como @einar-rivero, no LinkedIn.

Einar Rivero

Os segredos dos índices da B3 para investir melhor

Os índices funcionam como termômetro do mercado de ações; colunista analisa a composição de 23 deles

Foto: Envato Elements
  • O colunista analisou a composição de 23 índices da B3 que, juntos, somam um total de 269 ações
  • A ação ordinária da Marfrig (MRFG3) está presente em 16 dos 23 índices da Bolsa
  • A ação ordinária da Vale (VALE3), presente em 11 índices, tem a maior participação média entre todos eles

A B3 possui hoje mais de 5 milhões de CPFs cadastrados. Ainda que esse volume seja 23% superior ao registrado no final de 2021, representa apenas cerca de 10% dos quase 50 milhões de investidores que têm dinheiro aplicado na poupança – infelizmente, modalidade ainda tida como a queridinha dos brasileiros. Apesar de tamanha desproporção, é inegável que nos últimos anos o público brasileiro tem buscado alternativas de investimento mais sofisticadas e rentáveis.

Mas bem, dessas 5 milhões de pessoas que hoje estão na B3, quantas de fato são capazes de analisar as movimentações do mercado a fim de otimizar seus investimentos? Onde investir? Quais os setores mais promissores? E empresas? O que devo avaliar? Existe uma fórmula absoluta?

Se você, caro leitor, já se fez alguma dessas perguntas, trago-lhe aqui uma dica que lhe pode ser bastante útil: olhar e compreender os índices baseados em ações listadas na Bolsa brasileira pode ser um bom começo para começar a trilhar um caminho com mais segurança em meio a essa sopa de letrinhas. Os índices funcionam como termômetro do desempenho do mercado de ações e as empresas que fazem parte deles são selecionadas com base em rigorosos critérios específicos.

Se por um lado as companhias passam a ganhar visibilidade e prestígio por estarem em listas compostas por instituições que seguem à risca as melhores práticas de transparência, credibilidade e comprometimento com o negócio, por outro tornam-se mais expostas a flutuações do mercado e à volatilidade dos preços das ações.

No entanto, é certo dizer que, em geral, as empresas que fazem parte dos principais índices da Bolsa são consideradas mais sólidas e representativas do mercado brasileiro.

Para ajudá-los neste desafio, busquei junto à plataforma do TradeMap compreender a composição de 23 índices da B3.  Juntos, eles somam um total de 269 ações. O IGCX (Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada) é o que possui maior quantidade de ativos – 252 no total. Em seguida, estão o ITAG (Tag Along Diferenciado) e IGNM (Governança Corporativa – Novo Mercado), com 240 e 188 ações cada, respectivamente.

Dos 23 índices analisados, 6 têm mais de 100 ações, 8 entre 50 e 99 papéis e 9 até 49 ações. Entre os menos diversificados estão o IMOB (Imobiliário) e o IMAT (Materiais Básicos), com 17 ações cada.

Índice Código Quantidade de ações
Ações com Governança Corp Diferenciada IGCX 252
Ações com Tag Along Diferenciado ITAG 240
Governança Corporativa Novo Mercado IGNM 188
Brasil Amplo IBRA 187
Governança Corporativa Trade IGCT 180
Small Cap SMLL 126
Brasil 100 IBXX 99
Ibovespa IBOV 88
Carbono Eficiente ICO2 78
Consumo ICON 73
Sustentabilidade Empresarial ISEE 69
Igptw GPTW 64
MidLarge Cap MLCX 62
Dividendos IDIV 50
Brasil 50 IBXL 49
Valor BM&FBOVESPA – 2ª Linha. IVBX 49
Setor Industrial INDX 39
Agronegocio AGFS 32
Utilidade Pública UTIL 24
Financeiro IFNC 20
Energia Elétrica IEEX 18
Materiais Básicos IMAT 17
Imobiliário IMOB 17

Pois bem, agora que temos uma fotografia geral dos índices de ações da B3, vale descermos algumas camadas para uma análise mais detalhada. Abaixo, destaco as ações com maior presença entre eles.

A ação ordinária da Marfrig (MRFG3) está presente em 16 dos 23 índices da B3. Outros 6 papéis – SUZB3, JBSS3, ASAI3, BRFS3, BEEF3 e MRVE3 – integram 15 índices, enquanto outros 8 – B3SA3, GGBR4, ITSA4, KLBN11, NTCO3, CYRE3, CIEL3 e VIIA3 – marcam presença em 14 dos índices aqui analisados.

Ações com maior presença em índices da B3

Quantidade de índices Empresa Código Setor Participação média %
16 MARFRIG MRFG3 Carnes 0,35
15 SUZANO SUZB3 Papel 2,88
15 JBS JBSS3 Carnes 1,76
15 ASSAI ASAI3 Dist. Alimentos 1,09
15 BRF SA BRFS3 Carnes 0,82
15 MINERVA BEEF3 Carnes 0,45
15 MRV MRVE3 Incorporacoes 0,39
14 B3 B3SA3 Financeiros Diversos 2,58
14 GERDAU GGBR4 Siderurgia 2,42
14 ITAUSA ITSA4 Bancos 1,78
14 KLABIN KLBN11 Papel 1,30
14 NATURA NTCO3 Produtos Pessoais 0,89
14 CYRELA CYRE3 Incorporacoes 0,88
14 CIELO CIEL3 Financeiros Diversos 0,42
14 VIA VIIA3 Dist. Eletrodomesticos 0,27

Quando falamos de participação média, no entanto, o cenário é um pouco distinto. A ação ordinária da Vale (VALE3), presente em 11 índices, tem a maior participação média entre todos os índices, com 8,72%. Seus papéis têm maior participação no IBXL (Índice Brasil 50) com 22,73%. No Ibovespa, o mais importante e reconhecido índice da B3, a Vale possui hoje uma participação superior a 10% – não à toa, uma vez que falamos aqui de uma das empresas mais valiosas listadas na Bolsa brasileira.

Mas qual o impacto de tamanha concentração? Isso é bom ou ruim? Há vantagens e desvantagens, a depender do cenário analisado. É natural, por exemplo, que com forte presença da Vale em determinado índice haja uma atração de investidores interessados em apostar em empresas do setor de mineração, investidores estrangeiros, inclusive. Esse movimento aumenta a liquidez do índice e contribui para o crescimento do volume de negociações realizadas.

Consideremos, por exemplo, uma situação de desvalorização do real ante ao dólar. Via de regra, as empresas brasileiras perderiam valor de mercado – o que traria impactos negativos a esses índices. A Vale, no entanto, possui uma grande participação nas exportações do País e muitos dos seus produtos são negociados em dólar. Esse cenário fica, então, equalizado pelo aumento das receitas, em reais, da mineradora.

Por outro lado, um índice com grande participação da Vale também tem suas desvantagens. Sua vulnerabilidade à variação dos preços do minério de ferro, principal produto exportado pela companhia, é uma delas. No caso de uma eventual queda dos preços da principal matéria-prima para a fabricação do aço, a Vale pode sofrer grandes perdas financeiras, o que por sua vez pode afetar negativamente o desempenho do índice como um todo.

De modo geral, a grande participação de uma única empresa em determinado índice pode torná-lo mais concentrado e menos diversificado, o que traz mais riscos aos investidores. Listamos então os índices com maiores concentrações.

São três os papéis com mais de 20% de participação: as ações ordinárias da Vale (VALE3), com 22,73% do IBXL (Índice Brasil 50); da Aliansce (ALSO3), com 22,65% do IMOB (Imobiliário) e da Suzano (SUZB3), com 20,47% do IMAT (Materiais Básicos).

Setores mais relevantes nos índices da B3

Por fim, trago ainda um recorte que distribui as ações por seus respectivos setores, de modo a compreendermos qual indústria possui maior participação entre os índices da B3. Como podemos observar, o setor de energia elétrica tem a maior quantidade de ações nos índices analisados: são 24 papéis, o equivalente a 15,09% do todo. Em seguida estão os setores de bancos, com 12,27% e minerais metálicos, com 9,77%. (Veja a tabela abaixo)

Nesse contexto, o setor de energia elétrica tem um impacto significativo em vários dos índices da B3, especialmente no Ibovespa. Isso porque as empresas do segmento possuem grande representatividade na Bolsa, tanto em termos de valor de mercado quanto no que diz respeito ao volume de negociações.

Além disso, os papéis que compõem esse conjunto são considerados defensivos, isto é, menos suscetível a oscilações bruscas do mercado de ações. Logo, em momentos de incertezas e volatilidade do mercado, as ações dessas empresas tendem a ter uma performance mais estável e podem servir como proteção para os investidores – o que justifica, de certo modo, a sua forte presença na composição dos mais diversos índices.

Por fim, chamo ainda a atenção para o setor de bancos, sem dúvida um dos mais importantes da economia brasileira, com grande relevância para o mercado de ações – são 20 papéis entre os 269 mapeados. As empresas que integram o segmento são responsáveis por fornecer financiamento e crédito para empresas e indivíduos e sua performance pode ser afetada por uma série de fatores macroeconômicos, a exemplo da taxa de juros, do nível de atividade econômica e da inflação.

Setores com maior participação porcentual nos índices

Setor Participação (em %) Quantidade de ações
Energia Eletrica 15,09 24
Bancos 12,27 20
Minerais Metalicos 9,77 5
Refin. Petroleo 8,00 9
Siderurgia 4,48 8
Papel 4,17 2
Exp. Imoveis 3,46 9
Carnes 3,38 4
Financeiros Diversos 3,34 5
Incorporacoes 2,80 19
Bebidas 2,72 1
Diagnosticos 2,54 11
Motores 2,36 1
Dist. Medicamentos 2,28 8
Aluguel de carros 2,25 3
Dist. Alimentos 1,80 4
Dist. Tecidos 1,74 8
Seguradoras 1,55 3
Saneamento 1,46 5
Agricultura 1,34 7