Felipe Montenegro Mattos, CEO da Caixa Seguridade.
Existe uma semelhança entre a vida sentimental adulta e a de um acionista que busca dividendos. O melhor relacionamento não vem da adrenalina constante e emoções intensas, mas do que traz segurança, previsibilidade e alegrias, sem sobressaltos – aparentemente mais chato, mas muito mais perene. As ações da Caixa Seguridade (CXSE3) parecem se encaixar nesta descrição.
Esse é o perfil que buscamos ao montar uma carteira de dividendos. Dá vontade de arriscar em ações em reestruturação ou em cíclicas que pagam muito em alguns anos e quase nada nos seguintes. Quem nunca quis uma pimentinha? Nada contra, desde que em doses pequenas.
Mas para garantir renda de longo prazo, liberdade financeira e aposentadoria tranquila, precisamos mesmo é do “crush chato”: previsível e confortável.
BB promete honrar dividendos e aconselha compra. Dá para confiar?
Algumas empresas que já passaram pelo Raio-X da coluna Dividendo à Vista se encaixam nesse perfil. Lucros constantes, negócios resilientes, dividendos generosos, disciplina financeira e até CEOs econômicos nas palavras.
Na coluna de hoje, destaco uma dessas companhias definida por analistas como uma verdadeira máquina de gerar lucros. Subsidiária da Caixa Econômica Federal, nasceu em 2015 e estreou na B3 em 2021. Desde então, já elevou em 111% o pagamento de dividendos por ação, mais que dobrando a remuneração dos investidores.
Conversei com Felipe Montenegro Mattos, CEO da Caixa Seguridade, e compartilho aqui minhas impressões sinceras sobre a empresa.
Por que Caixa Seguridade lucra com qualquer cenário de juros?
Uma seguradora ganha por meio de duas frentes: o resultado operacional, com a venda de seguros e serviços que costumam se beneficiar de juros baixos, e o resultado financeiro, rendimento dos prêmios emitidos em reservas, muitas vezes indexadas ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI, principal indicador de rendimentos do mercado) favorecido por juros altos.
Seguradoras, como a CXSE3, se adaptam bem ao movimentos dos juros na economia: e cai, ganha no operacional; se o juro sobe, lucra no financeiro. (Foto: Marcello Casal Jr-Agência Brasil)
Por isso o negócio pode ser considerado previsível: se o juro cai, ganha no operacional; se sobe, lucra no financeiro. Raramente perde.
Mesmo com juros de 15% ao ano que impactam o operacional, a empresa cresce acima de dois dígitos nessa linha: no segundo trimestre de 2025 (2T25), o resultado operacional subiu 28,1% sobre o ano anterior e 16,1% no semestre.
O CEO explica que, apesar do peso do resultado financeiro diante de juros altos, o foco da companhia está em manter um bom resultado operacional. No 2T25, 32% do lucro líquido gerencial veio do financeiro e 68% do operacional.
Impacto da queda da Selic para o resultado financeiro de CXSE3
Mattos diz que a queda esperada da Selica partir de 2026 não preocupa. Afinal, juros mais baixos trazem mais mercado, crescimento e oportunidades de seguros atrelados ao interesse do cliente. Unidades de negócio como previdência, capitalização e consórcio ganham com juros altos, mas seguros têm maior aderência com taxas baixas.
Financiamentos imobiliários mais baratos permitem que clientes quitem imóveis e contratem novos seguros residenciais, aproveitando sobra financeira para planejar proteção futura. A lógica também se aplica para seguro prestamista (cobre o pagamento de dívidas em situações como desemprego, invalidez ou falecimento) e de vida.
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Embora analistas apontem que a queda do resultado financeiro precisará ser compensada pelo operacional, a gestão se mostra calma.
Sobre a desaceleração econômica que pode reduzir a renda da população e a procura por seguros, o CEO afirma que a penetração de produtos do tipo no Brasil é baixa, cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB), com potencial de chegar a 10% até 2030, o que neutraliza o efeito.
Ele cita também o bancassurance, modelo de negócios com seguros acoplados ao balcão da Caixa, que reforça a capacidade de crescimento da empresa, especialmente por se tratar de banco social alinhado a políticas de governo.
“Não vemos um cenário difícil para os próximos anos”, afirma Mattos, CEO da Caixa Seguridade.
Ele se mostra otimista com crescimento do lucro e rentabilidade em duplo dígito para 2025, projetado pelo mercado, e acima de 2024, mesmo diante da Selic alta.
ROE histórico: lucro de R$ 0,70 para cada R$ 1 investido
O Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE) da seguradora no 2T25 atingiu 69,6%, recorde histórico. Contextualizando, cada R$ 1 de patrimônio gerou R$ 0,70 de lucro. A empresa sempre teve ROE elevado, mas não nesse nível, o que gera questionamentos sobre a sustentabilidade da régua alta.
O CEO afirmou que a expectativa é manter o ROE entre 60% e 70% nos próximos anos, patamar que considera sustentável para a seguradora.
Payout e dividendos crescentes
Para 2025, a empresa espera mostrar crescimento em duplo dígito nos lucros – no 2T25 foi de R$ 1 bilhão, alta de 35,2% sobre 2T24 –, ROE acima de 60% e resultados operacional e financeiro sólidos. Com isso, os dividendos também devem crescer em relação a 2024, seguindo o mantra da Caixa Seguridade: “Distribuir ao acionista sempre o máximo possível”.
“A nossa visão é de crescimento no lucro e isso acontecendo, a tendência é crescer na distribuição de dividendos”, aponta Mattos.
Atualmente, a Caixa Seguridade tem como prática distribuir no mínimo 90% do lucro líquido trimestralmente, com pagamentos em janeiro, maio, agosto e novembro. Segundo o CEO, o foco está em não reter valor, devolvendo o máximo possível com eficiência.
“Nosso foco está em distribuir valores de volta ao acionista. Vale lembrar que nosso principal acionista é o banco Caixa, que sabe melhor o que fazer com o dinheiro do que nós”, diz Mattos, beneficiando também o investidor minoritário.
A política de distribuição trimestral e o payout(porcentagem de lucro líquido distribuído aos acionistas) vão se manter nos próximos anos, de acordo com o CEO, indicando “vacas gordas” por algum tempo. A Caixa Seguridade não utiliza juros sobre capital próprio (JCP) na remuneração ao acionista, apenas dividendos, atualmente isentos de tributação.
Um platô nos dividendos?
Histórico da Caixa Seguridade (CXSE3) mostra pagamento de 90% do lucro em proventos e ainda crescimento anual da remuneração dos acionistas. (Foto: Adobe Stock)
Parece surreal, uma empresa que paga 90% do lucro em proventos e ainda cresce anualmente a remuneração dos acionistas. Segundo levantamento do analista Bruno Oliveira, do Vida de Acionista, desde a oferta inicial de ações (IPO) das ações CXSE3 o lucro líquido da Caixa Seguridade cresceu bem, refletindo no dividendo por ação, que saltou 111%. Quem comprou em 2021 viu os proventos dobrarem.
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Oliveira destaca a estabilidade do payout. “A companhia manteve política de dividir quase todo o lucro, perto de 90%, mostrando comprometimento com os investidores que acreditam no negócio”.
Contudo, veja abaixo que o crescimento anual dos lucros e dividendos vem diminuindo. A alta do lucro passou de 54,76% para 6,86%. Movimento semelhante ocorreu com os proventos.
O estudo considerou todos os dividendos anunciados por exercício, mesmo se pagos no ano seguinte.
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Para Oliveira, é natural em empresas maduras que o crescimento de lucros e dividendos desacelere. Ele prevê um platô em breve nos dividendos da Caixa Seguridade caso não haja novos investimentos ou verticais de seguros. Não é ruim, mas tampouco empolgante, dependerá da gestão.
Novos mercados no radar da companhia
Perguntei ao CEO sobre expansão para novas linhas de seguros. Ele disse que sim, há alternativas em estudo, como seguros digitais e riscos climáticos, mas tudo ainda em fase de testes, possivelmente só divulgados no próximo trimestre.
Entre as linhas existentes, previdência e prestamista decepcionaram. Na previdência, pesou a nova taxa deImposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 5% sobre planos Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) acima de R$ 300 mil (R$ 600 mil a partir de 2026), o que afetou o 2T25 e pode ter impacto potencial de 15% no resultado de 2025.
A companhia estuda medidas como cashback, portabilidade e outras estratégias para amenizar o efeito da tributação. “O nosso melhor prognóstico é de alterações mínimas para clientes. Mesmo com incremento na taxação é importante mostrar a relevância da previdência para planejamento familiar e sucessório”, afirma o CEO.
Fora a previdência, os resultados das outras linhas devem se manter próximos ao primeiro semestre. No prestamista, a perspectiva é de crescimento na segunda metade de 2025.
Quanto à base de clientes de baixa renda, que para alguns analistas pode limitar o crescimento futuro da empresa, Mattos diz que a Caixa Seguridade conhece bem esse público e tem foco estratégico sobre ele. “Fomos criados nesse ecossistema, então sabemos lidar muito bem. É um prazer auxiliar esses clientes a terem proteção de seguros.”
Vale a pena investir em CXSE3 agora?
Se o Itaú (ITUB3; ITUB4) está sendo considerado um relógio suíço, a Caixa Seguridade funciona como a raça bovina Pardo Suíço: resistente, adaptável e produz mais leite que a vaca holandesa.
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No caso dos investimentos do mercado financeiro, lida com juros altos e baixos, taxações e trocas de governo, entregando lucros crescentes e dividendos robustos. Desde o IPO até 14 de agosto, CXSE3 valorizou 92,2%, enquanto o dividend yield (rendimento de dividendos) acumulado em 2025 já chega a 9,15%.
“Se reinvestidos todos os dividendos desde o IPO, a ação rendeu em média 20% ao ano, um destaque no mercado segurador”, reforça Milton Rabelo, da VG Research.
O desempenho mais tímido de 2025 não assusta o analista. Os pagamentos trimestrais seguem atraindo investidores focados em renda passiva e o dividend yield deve alcançar 9% nos próximos 12 meses, com potencial de preço-alvo de R$ 18, nos cálculos dele. Rabelo sinaliza que vale comprar até R$ 14,40.
A minha visão sincera vem do racional com que comecei esta coluna. A gente precisa de um amor mais “chato” como a Caixa Seguridade, mas que traz previsibilidade aos investidores. E não sou eu que diz: conversei com alguns acionistas e todos se mostraram otimistas e seguros com o investimento feito na companhia.
Entre um amor montanha-russa na Bolsa de Valores e os dividendos da Caixa Seguridade (CXSE3), eu fico com o Pardo Suíço. Já invisto em outras seguradoras, estava de olho nessa, e agora deu match na certa.