Marco Saravalle é analista CNPI-P e sócio-fundador da BM&C e da MSX Invest. Foi estrategista de Investimentos do Banco Safra, estrategista de Investimentos da XP Investimentos, analista e co-gestor de fundos de investimentos na Fator Administração de Recursos e GrandPrix e analista de ações na Coinvalores e Socopa. Formado em Ciências Econômicas pela PUC-SP, Pós-graduado em Mercado de Capitais pela USP e Mestrando em Economia e Finanças pela FGV/EESP. Iniciou sua carreira no programa de Trainee do Citibank. Atualmente é Diretor Administrativo/Financeiro da Apimec Nacional, membro do comitê de
educação da CVM e presidente do Conselho da ONG de educação financeira,
Multiplicando Sonhos.

Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras

Marco Saravalle

Todos os sinais indicam: o momento é propício para investir nos EUA

Janeiro não foi fácil para quem investe na Bolsa brasileira; já quem tem exposição americana passou um mês de alegrias

Painel da Nasdaq, a bolsa americana de tecnologia. (Imagem: Heorshe em Adobe Stock)
  • O S&P 500 subiu 1,66% no período, mesmo com taxas de juros em patamares bem restritivos nos EUA
  • No Brasil, a euforia de final de ano com a bolsa durou pouco
  • Com as incertezas em relação à China e os problemas da safra agrícola de 2024, há razões para nos preocuparmos com o desempenho da atividade econômica brasileira em 2024

O mês de janeiro não foi nada fácil para o investidor exposto somente na Bolsa brasileira. O Ibovespa caiu 4,29% no mês, influenciado principalmente pelo pessimismo em relação à economia chinesa e incertezas do lado fiscal brasileiro.

Fonte: Bloomberg

Por outro lado, quem tem exposição aos Estados Unidos, janeiro foi um mês de alegrias. O S&P 500 subiu 1,66% no período, mesmo com taxas de juros em patamares bem restritivos na maior economia do mundo.

Fonte: Bloomberg

No Brasil, a euforia de final de ano com a Bolsa durou pouco. As revisões para baixo do crescimento chinês, aliado aos problemas no mercado imobiliário do gigante asiático (falência da Evergrande), contaminaram as expectativas dos investidores. Como a China é nossa principal parceira comercial, qualquer turbulência por lá afeta nossa economia e nossa Bolsa.

Porém o pessimismo não foi explicado apenas por problemas na China, mas pelo resultado fiscal brasileiro. O governo fechou 2023 com déficit primário de R$ 230,5 bilhões, o equivalente a -2,12% do Produto Interno Bruto (PIB). Mesmo tirando as despesas extraordinárias, como o pagamento de precatórios, o rombo foi grande, na ordem de 1,3% do PIB.

Além do resultado ruim, o governo não tem sinalizado nenhuma medida de corte de gastos, mas apenas de aumento de arrecadação. O problema dessa política fiscal é que, num crescimento econômico menor do que o esperado, a arrecadação tende a cair.

O cenário de menor alta do PIB não é tão improvável, pelo contrário. Com as incertezas em relação à China e os problemas da safra agrícola de 2024, há razões para nos preocuparmos com o desempenho da atividade econômica brasileira em 2024. Por outro lado, a inflação segue sobre controle, a taxa Selic está em queda e ocorre uma recuperação gradual do mercado de trabalho.

Recuperação da renda do trabalhador

De fato, a queda da taxa Selic poderá compensar os efeitos adversos sobre o crescimento econômico. Provavelmente, a redução da taxa básica de juros já começou a fazer efeito na economia real. Prova disso é que a produção industrial de dezembro cresceu 1,1%, acima do consenso de mercado (0,7%).

Fonte: IBGE

As próximas divulgações da produção industrial serão fundamentais para entender se o bom resultado de dezembro foi um fator excepcional ou se a industrial pegou tração em decorrência da queda dos juros. Por ora, estimamos que a Selic fechará 2024 em 9% ao ano. Porém, há um risco não desprezível da Selic fechar 2024 acima de 9% por conta de preocupações inflacionárias. Por enquanto, nossa previsão de inflação gira na casa de 4%.

No entanto, a recuperação no mercado de trabalho poderá trazer pressões inflacionárias. A taxa de desemprego hoje está em 7,4% e há uma recuperação da renda real do trabalhador. Isso significa que o hiato do produto está fechando – menos ociosidade no mercado de trabalho –, o que poderá trazer pressões de demanda, elevando os preços.

Se no Brasil já existe essa incerteza de como a melhora do mercado de trabalho impactará a inflação, imagina nos EUA, onde o mercado de trabalho está super aquecido. A divulgação do último Payroll (relatório de emprego na economia americana) trouxe dados surpreendentes. A taxa de desemprego ficou em 3,7% e, pasmem, foram criadas 353 mil vagas no mercado de trabalho não agrícola – contra o consenso de mercado de 187 mil vagas.

Se de um lado os resultados mostram a força da economia americana, por outro trazem preocupações para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) quanto à resiliência inflacionária. Diante deste risco, o mercado mudou de opinião. Até pouco tempo, a maior parte dos analistas acreditava que o Fed Fund Rate – como a taxa básica de juros da economia é chamada por lá – cairia já em março. Agora, para 80% do mercado, ela deverá permanecer a mesma em março (5,25%-5,5%) e para 60% dos analistas, os juros sofrerão um corte de 0,25 ponto porcentual somente. na reunião de maio (5%-5,25%).

Na prática, isso significou aumento das taxas dos títulos públicos americanos para diversos prazos, na medida em que o mercado passou a projetar na média um Fed Fund rate mais elevado de hoje para um vencimento futuro. Com isso, os prêmios na renda fixa americana se elevaram no mês de janeiro.

Fonte: Tesouro americano

Com taxas de juros mais elevadas nos EUA, o câmbio por aqui tende a se desvalorizar porque aumenta a demanda por investimentos em dólares.

Fonte: Banco Central

O que mais chama atenção nos EUA é que, mesmo com os prêmios elevados na renda fixa, a bolsa americana vem performando bem. A explicação está no desempenho excepcional das empresas de tecnologia ligadas ao desenvolvimento de inteligência artificial, como Microsoft, Google e Amazon. Aliás, na semana passada Google, Amazon e Microsoft divulgaram seus resultados e novamente surpreenderam positivamente.

Com a bolsa subindo nos EUA e os prêmios elevados na renda fixa americana, nossa conclusão é: invistam também na economia americana, não apenas pela diversificação global (redução de risco), mas também pelas boas rentabilidades, seja nas ações seja na renda fixa. O momento é propício.

Cenário MSX

Brasil 2022 2023 2024
PIB Real (% a.a) 3,00 3,00 1,40
IPCA (% a.a, fim de período) 5,79 4,62 4,00
Selic (% a.a, fim de perído) 13,75 11,75 9,00
Câmbio – R$/dólar 5,29 4,85 5,10
Taxa de desemprego (%, fim de período) 7,90 7,40 8,00
Resultado primário Governo Central % PIB 0,55 -2,12 -0,90
EUA 2022 2023 2024
PIB Real (%, a/a) 2 2,4 1,5
CPI (%, a/a, fim de período) 6,4 3,4 2,5
Taxa de juros (Fed Fund Rate) 4,5 5,5 4,25
Taxa de desemprego (%, fim de período) 3,6 3,7 4,2
China 2022 2023 2024
PIB Real (%, a/a) 3,0 5,2 4,0
Inflação (%, a/a, fim de período) 1,8 -0,3 2,0
Taxa básica de juros 3,7 3,5 3,0
Taxa de desemprego (%, fim de período) 5,5 5,3 5,5

*dados em negrito: projeções MSX