Alta de 57% do ouro em 2025 desperta o FOMO nos investidores. (Imagem: Adobe Stock)
Existe um conceito no mercado (e não exclusivo dele) que se chama FOMO – “Fear of missing out“, que em tradução livre seria “medo de ficar de fora”. Se você investe na Bolsa de Valores com certeza já passou por isso quando viu uma ação, que não tinha na carteira, subindo e subindo sem parar. E aí vem aquele sentimento de “por que eu não tinha ela? Na próxima eu pego”. O mesmo acontece com o ouro hoje.
Nos últimos anos vimos hypes (alvoroços) que trouxeram esse mesmo sentimento, como Magazine Luiza (MGLU3) quando a varejista subiu mais que um foguete do Elon Musk, como investimentos temáticos em healthtech (startups do setor de saúde) e cannabis e até como o bitcoin (BTC), quando a criptomoeda trazia altas mais fortes – já falei disso no meu último artigo.
Quando eu falo que esse conceito não é exclusivo do mercado financeiro, uso o exemplo de que a gente sempre quer estar em todas as festas. Você vê seus amigos postando foto em um show que você nem gosta, mas a emoção daquele momento traz o FOMO para você.
Sim, é psicológico e não tem nada a ver com economia, mas aqui há um tempero especial: dinheiro. Uma coisa é não ser convidado para um casamento (provavelmente teve motivo para tal), enquanto outro é você não ter um certo ativo ou classe de ativo na carteira que mostrou forte valorização em um determinado período.
Ouro, o vilão do FOMO em 2025
Em 2025, nada trouxe mais esse sentimento do que o ouro – o ativo “mais seguro”, mas que ao mesmo tempo o que mais performou, com uma alta de quase 57% no acumulado do ano. O motivo ninguém sabe, mas o sentimento é o mesmo para todos: “Deveria ter comprado mais”.
Hoje parece óbvio, olhando para trás, que o ouro poderia proteger seu dinheiro contra quedas mais fortes diante de guerras comerciais e geopolíticas e juros altos no mundo todo. Mas não foi isso que aconteceu: os mercados subiram, enquanto o ouro avançou mais ainda.
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O custo de se investir em ouro é muito diferente quando comparamos o tipo de investidor e o mercado “de origem” do dinheiro. Quando falamos em um investidor americano, por exemplo, as opções de segurança dele são inicialmente títulos públicos americanos e, depois, o metal precioso.
Vale lembrar que o dinheiro dele já está dolarizado, ou seja, o investidor americano não tem muito para onde correr, pois já está na maior economia do mundo e a segurança por conta disso paga “pouco”, algo como 4% a 5% ao ano, em se tratando de títulos públicos.
No caso do investidor brasileiro, há algumas opções a mais em termos de segurança, como o Tesouro Direto, hoje pagando 15% ao ano (taxa Selic); a dolarização do patrimônio e de rendimentos de títulos de crédito privado – até mesmo em empresas brasileiros, como Itaú (ITUB3; ITUB4); e, por último, ganhar os mesmos 4% a 5% ao ano do título público americano em dólar, muito relevante quando comparamos com a nossa moeda, mais fraca.
Apenas após essas opções avaliaríamos o ouro, um ativo que não “produz nada”, não gera dividendos nem distribui lucros.
Afinal, vale ou não comprar ouro agora?
Ver um ativo que não temos subir 57% no ano em dólar dói? Sim, faz repensar de modo geral a alocação dacarteira de investimentos, mas este investimento não serve para todos. Investir no metal precioso se traduz em renunciar a 15% ao ano em títulos públicos no Brasil ou 4% em ativos americanos equivalentes em dólar.
Será que é tão óbvia a alocação em ouro?
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Eu acho que não. Hoje, o cenário é de juros altos no mundo inteiro e um dólar mais fraco, principalmente contra o real. Há a possibilidade de dolarizar a carteira e abrir os horizontes, mas rentabilizando em renda fixa americana ou crédito privado em dólar.
Investir, que seja, 2%, 3% ou 5% em ouro significa deixar de render um porcentual da sua carteira na época que os juros estão praticamente na máxima, e para buscar o que, exatamente? Proteção ou alta? Porque, vamos relembrar:
O ouro é um ativo para quem busca proteção, e não alta.
Logo, investir nele serve para diversificare ter um ativo que, na teoria, não vai cair ou despenca menos em um cenário de crise.
“Poxa, mas subiu 57%”. Sim, já escutei isso algumas vezes e, sinceramente, não me importa. Se você tivesse desde o começo 5% em ouro, a rentabilidadeda sua carteira por conta dessa alta seria de apenas 2,5% – o que equivale hoje a dois meses de Certificado de Depósito Interbancário (CDI), praticamente.
No final, e como sempre falo, é tudo uma questão de quanto do seu portfólio você vai direcionar para cada uma das estratégias.
Na minha visão, ter dólar já funciona como uma proteção natural contra o Brasil e contra o mundo. Logo, por que não aproveitar ainda os juros altos por meio de renda fixa americana? Será que a próxima crise vai quebrar os Estados Unidos a ponto de só sobrar ouro no mundo?