- Em 2022, a carreira deve chamar ainda mais atenção no mercado financeiro por conta de possíveis mudanças relevantes para a classe, como nova nomenclatura, segundo texto do Projeto de Lei 2081/21
- “A principal função do profissional nos últimos anos é levar educação financeira”, aponta o presidente da Associação Brasileira de AAI
- Para contratar um profissional, é importante que investidores busquem conferir os dados, autorização e certificação nos órgãos reguladores, como CVM e Ancord
Com o maior número de brasileiros dando os primeiros passos nos investimentos, surgiu também a necessidade de profissionais habilitados responsáveis por orientar e guiar os investidores.
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Para além dos bancos tradicionais, os agentes autônomos têm ganhado espaço pelo País, sendo mais de 17 mil atuantes em território nacional segundo o Anuário de 2021 da Associação Nacional das Corretoras de Valores (Ancord). É o triplo de quatro anos atrás, quando o número era de 5,5 mil.
Para obter a certificação, é necessário realizar o exame elaborado pela Ancord, que pode ser feito de forma on-line ou presencial mensalmente. De janeiro a dezembro do ano passado, foram 6.476 novos habilitados, 33,3% de alta comparado a 2020. A instituição também é responsável pelo Programa de Educação Continuada e Renovação do Credenciamento dos Agentes Autônomos de Investimento, necessário para a manutenção do registro.
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Os profissionais trabalham associados a corretoras, sendo a maioria pela XP, seguido por BTG Pactual, além de Guide e Genial. Ao todo, mais de 1.100 empresas fazem o trabalho, como explica Diego Ramiro, presidente da Associação Brasileira dos Agentes Autônomos de Investimentos (ABAAI). Segundo ele, a organização tem o intuito de orientar os profissionais da classe como um todo.
Em 2022, a carreira deve chamar ainda mais atenção no mercado financeiro por conta de possíveis mudanças relevantes para a classe. De acordo com o Projeto de Lei 2081/21, que tramita na Câmara dos Deputados, a nomeação de agente autônomo de investimento deve ser alterada para assessor de investimento.
Para a Associação, a mudança é vista como positiva porque os agentes atuam de forma associada e a nova nomenclatura torna mais clara a atividade exercida. A proposta, de autoria do deputado Laercio Oliveira (PP/SE) altera a Lei 6.385/76, criada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Outra mudança que está no radar ao longo do ano é o fim da exclusividade contratual: os profissionais poderiam trabalhar com mais de uma corretora. Para Ramiro, o movimento deve beneficiar os profissionais com a abrangência de produtos e os investidores, com a ampliação da concorrência.
Educação financeira para investir
“A principal função do profissional nos últimos anos é levar educação financeira”, aponta o presidente da ABAAI. Segundo ele, o primeiro passo é ensinar o cliente desde noções básicas até operações mais complexas para que o investidor tenha confiança.
Ele ainda ressalta o trabalho da Associação junto a outras frentes como a CVM, em projetos de educação financeira nas escolas da rede pública, e outras instituições significativas no mercado, além das próprias corretoras.
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Ramiro ressalta que há poucos anos o sistema financeiro era bastante limitado, o que dificultava o investimento por parte de pessoas físicas. Atualmente, ele explica que são mais de 1.100 empresas fazendo o trabalho sem a vinculação com grandes bancos.
Um dos principais motivos da demanda por esses profissionais, segundo Ramiro, foi a redução da taxa básica de juros (Selic), que levou um número maior de pessoas para a renda variável. Segundo números da B3, o número de investidores individuais passou de 620.313, em 2017, para 4.976.150, em 2021. Ou seja, em quatro anos, a quantidade de brasileiros investindo na Bolsa cresceu mais de 700%. Em dezembro de 2017 os profissionais credenciados pela Ancord eram 5.514. Já em dezembro de 2021, o número cresceu 209%, chegando a 17.056.
O aumento da demanda também é visualizado na ampliação geográfica da presença de profissionais e investidores, apesar de a grande maioria dos profissionais atuar em São Paulo.
Relação com bancos
Se por um lado o mercado de agentes autônomos cresce, a atuação de gerentes de bancos com clientes não é a mesma. Investidores desejam contato personalizado e atendimento simplificado, incluindo o remoto. Apesar disso, as instituições bancárias ainda possuem peso.
Visando diminuir diferenças, o Projeto de Lei 2631/21 visa evitar a desproporcionalidade da taxa de fiscalização cobrada pela CVM de pessoas físicas e jurídicas e de investidores de grande porte. O texto foi proposto pelo deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP).
Segundo texto do autor na Câmara, a AIs Livres, associação que reúne 10 mil agentes autônomos, calcula que um escritório padrão tem, em média, quatro agentes autônomos. Eles pagam juntos cerca de R$ 16 mil por ano à CVM, enquanto cada um dos cinco grandes bancos gasta R$ 50 mil no período com a mesma taxa.
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Além disso, a Associação avalia que a diversidade de escritórios contribui para o atendimento dos mais diversos perfis de clientes. “Um banco grande não tem interesse em sair do eixo, muitas vezes. O agente é um empresário e vai onde tiver demanda”, indica.
O porta-voz da Associação aponta que o boom dos bancos digitais e, inclusive, de corretoras, fez com que os bancos mudassem a forma de comunicação e trabalho com os clientes.
Apesar disso, há também o caminho inverso. A Blue3, escritório vinculado à XP, tem como meta atrair gerentes de bancos para a carreira de AAI. Segundo a organização, em 2021 foram contratados 200 deles.
Como investidores podem escolher um profissional
Juntamente com a FGV, a ABAAI elabora anualmente o Anuário dos Agentes Autônomos de Investimentos, onde é possível encontrar todas as informações dos escritórios associados e os respectivos profissionais.
Além disso, no site da Ancord é possível fazer busca de agentes, sociedades e instituições financeiras cadastradas e regulamentadas.
O presidente da ABAAI ainda ressalta que investidores de qualquer tipo podem solicitar serviços que atendam às respectivas necessidades. “O primeiro passo é ver se o agente está listado na CVM. Ao fazer a busca, o interessado deve encontrar o nome do profissional e da empresa onde está vinculado. Se não estiver lá, ele não está autorizado. Além disso, é preciso identificar a instituição parceira: BTG, XP, Guide, Safra, por exemplo”, explica Ramiro.
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Outra ressalva essencial, é a ciência de que o cliente deve abrir uma conta no próprio nome. “Transferir para a conta de outra pessoa configura crime”, destaca.
Corretoras
De acordo com Bruno Ballista, head de assessoria e relacionamento com clientes da XP, a corretora possui uma rede de mais de 9 mil assessores de investimentos, que representam cerca de 80% deste mercado.
“O cenário atual de redução de custos por parte dos bancos incumbentes, com redução do número de agências e a busca por melhores opções de investimento por parte dos brasileiros, é favorável para o crescimento acelerado da profissão de AAI nos próximos anos”, avalia.
Ele aponta que, em 2021, a adição bruta de AAIs à rede da empresa foi de 4.409, uma alta de 18%. Por mês, cerca de 370 novos profissionais decidiram empreender e se conectar à rede da XP. Ballista ainda reforça o desejo da empresa em investir para se consolidar como a plataforma mais atrativa para empreendedores desse mercado.
Para Marcelo Flora, sócio do BTG Pactual, o aumento pela procura pelos profissionais é resultado de uma mudança de comportamento do investidor, que valoriza o contato pessoal e personalizado. A companhia possui cerca de 2.500 profissionais vinculados.
“Os juros a 2%, visto de 2020 até um ano atrás, fez com que as pessoas buscassem outras alternativas de investimentos. Com isso, as corretoras e plataformas de distribuição buscam inovar para atrair os investidores. Nesse movimento, a figura do AAI é importante para assessorar e mostrar o melhor caminho”, aponta Alexandre Cassiani, head de B2B da Guide Investimentos. Segundo ele, a Guide é responsável por 100 escritórios e cerca de 400 agentes até janeiro deste ano. Cassiani projeta que o crescimento deve continuar por até cinco anos.
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