Comportamento

A estagflação já chegou no mercado imobiliário dos EUA

Os preços das casas nos Estados Unidos saltaram 18,8% em 2021

A estagflação já chegou no mercado imobiliário dos EUA
| Foto: Envato
  • Embora as construtoras continuem a aumentar o número de construções em resposta à demanda elevada, a quantidade de imóveis que estão sendo concluídos está estagnada por causa dos constantes problemas na cadeia de suprimentos
  • As construtoras estão tentando construir mais casas, mas a cadeia de suprimentos para imóveis ainda não está apta a aumentar a produção

Conor Sen, Bloomberg – Se você quer saber como é a estagflação, dê uma olhada no mercado imobiliário. As condições que existiam nos anos 70 – alta inflação e produção estagnada – já estão ocorrendo nesse setor da economia americana, demonstrando os desafios pela frente para os consumidores, players da indústria e o Federal Reserve (Fed).

Embora as construtoras continuem a aumentar o número de construções em resposta à demanda elevada, a quantidade de imóveis que estão sendo concluídos está estagnada por causa dos constantes problemas na cadeia de suprimentos.

Essa estagflação é uma dor de cabeça tanto para as construtoras como para os compradores de imóveis, mas é um benefício para muitos dos proprietários das casas existentes – e é aí que está o dilema do Fed, já que ele tem como objetivo reduzir a inflação.

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Os preços das casas nos Estados Unidos aumentaram 18,8% em 2021, de acordo com o índice S&P/Case Shiller de preços de imóveis residenciais no país.

No entanto, o investimento fixo nesse tipo de imóvel caiu no segundo e terceiro trimestre de 2021 e permaneceu praticamente o mesmo no quarto trimestre. As construtoras estão tentando construir mais casas, mas a cadeia de suprimentos para imóveis ainda não está apta a aumentar a produção. Com uma base de ajuste sazonal, a conclusão de imóveis para uma família permanece a mesma desde agosto de 2018.

Existem duas maneiras de lidar com essa estagflação. Uma forma adequada seria melhorar a oferta de itens como portas de garagem, armários e janelas que estão travando o mercado da construção civil. Isso é algo que os formuladores de políticas realmente não têm como resolver, pelo menos no curto prazo.

A segunda maneira seria restringir o crédito ou aumentar os preços de hipotecas altas o bastante para reduzir a demanda de compra de casas, controlando deste modo os preços dos imóveis. Mas isso também é um desafio. O estoque de casas novas e existentes para venda está em uma baixa recorde. E, como observou Bill McBride, do blog Calculated Risk, estamos no momento ideal para compra de imóveis residenciais, do ponto de vista do período, para boa parte da geração conhecida como millennial, garantindo uma forte demanda demográfica para os próximos anos. Aumentar as taxas de juros o suficiente para enfraquecer o mercado imobiliário lançaria o restante da economia dos EUA em recessão primeiro.

Não temos, ou não estamos dispostos a usar, ferramentas de política que acalmem a demanda por imóveis residenciais sem afetar o resto da economia. No auge da bolha especulativa, o mercado imobiliário era a parte mais frágil da economia americana. Hoje, pode-se dizer que se trata da mais robusta, do ponto de vista da demanda.

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Isso é um desafio para o Fed, que trabalha para manter a inflação sob controle. Os preços das moradias não entram diretamente no cálculo da inflação dos preços ao consumidor; no entanto, na medida em que o aumento dos preços dos imóveis existentes leva ao aumento dos aluguéis, haverá impacto. O maior talvez seja o efeito riqueza para os proprietários de classe média.

Sessenta e cinco por cento das famílias americanas são donas das casas onde moram. Ações e títulos são bens principalmente dos ricos, mas é o atual valor de mercado de uma casa que representa a riqueza da classe média. E, neste momento, essa riqueza está crescendo, tendo aumentado em mais de um trilhão de dólares em cada um dos últimos três trimestres.

No auge da bolha imobiliária de meados dos anos 2000, esse número era de cerca de US$ 450 bilhões por trimestre.

Essa é a riqueza que as famílias poderiam utilizar para aumentar seus gastos com bens e serviços, o que provavelmente desencadearia uma inflação mais alta. Essa também é a riqueza que eles podem usar como garantia para seus gastos, já que a inflação reduz o poder de compra de suas rendas e as taxas de juros mais altas aumentam o custo dos empréstimos.

Fazer uma segunda hipoteca a uma taxa de 4% ou 5% para bancar gastos mais altos quando sua renda está sendo espremida pela inflação talvez não seja a decisão mais sábia, entretanto ainda é um empréstimo com valor muito menor que aquele oferecido por um cartão de crédito.

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E para uma família de classe média com um imóvel avaliado em US$ 100 mil nos últimos dois anos – uma situação nada incomum em grande parte do país –, é fácil ver o apelo disso.

Em 2021, a esperança era que a inflação fosse resultado de fatores de curto prazo relacionados à reabertura da economia e à escassez de insumos importantes para indústrias específicas, como os semicondutores usados em automóveis.

Mas, conforme as pressões inflacionárias aumentaram nos últimos meses, nosso mercado imobiliário disfuncional e estagflacionário está virando uma máquina implacável de geração de riqueza para os proprietários de imóveis. Isso vai tornar muito mais difícil para o Fed conter os gastos crescentes que estão aumentando a inflação.// TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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