- ESG tornou-se o propósito do mercado e é o que tem apontado transformações nos novos modelos de negócios
- O objetivo da iniciativa, segundo a executiva, é garantir que mais negros alcancem o topo
- Apenas 4 dos 500 CEOs em ranking das maiores empresas do mundo são negros
Enegrecer as lideranças no ambiente corporativo. Esse é um dos propósitos da atuação da executiva Rachel Maia, fundadora da RM Consulting, na divulgação do Pacto de Promoção da Equidade Racial, uma organização sem fins lucrativos para a inclusão de pessoas negras em uma realidade pouco diversa.
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A empresária, que também foi a primeira mulher negra a ocupar um cargo de CEO no Brasil, representa esse pequeno grupo: é uma das poucas mulheres pretas a compor conselhos administrativos de empresas listadas no Ibovespa. E ela quer ver esse número se multiplicar.
A proposta do pacto para adoção do Protocolo ESG (Ambiental, Social e de Governança, do inglês) Racial para o Brasil foi apresentada ao mercado há cerca de um ano e meio. Hoje tem a adesão voluntária de 36 companhias de diversos setores, como Gerdau, Arezzo, Suzano, XP Investimentos e Ambev. Maia integrou a equipe de formulação do documento com mais 26 outros profissionais e está entre as principais divulgadoras da iniciativa.
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“É necessário trabalharmos muito e de forma eficiente para acelerarmos o processo de desconstrução do racismo estrutural, mais fortemente direcionado às pessoas negras. Isso será possível somente com oportunidades”, defende Maia.
Para a executiva, a aceleração de carreira de negros e negras para posições de média e alta liderança dentro das organizações é uma das estratégias primordiais para ampliar a representatividade racial nos conselhos. Em entrevista ao E-Investidor, ela avalia os avanços do pacto no mercado e os desafios das empresas na promoção da equidade racial na alta gestão.
Veja os principais trechos da entrevista:
E-Investidor – Como o mercado recebeu a proposta do Pacto de ESG Racial, considerando que se trata de uma adesão voluntária?
Rachel Maia – Eu costumo dizer que o ESG tornou-se o propósito do mercado e é o que tem apontado transformações nos novos modelos de negócios. Mas esse olhar não está sendo instaurado apenas nas grandes empresas, as PMEs também estão recalculando a rota e adotando um posicionamento com as demandas sociais e estruturais da nossa sociedad.
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Qual a avaliação que a Sra. faz dos resultados e avanços do primeiro ano Pacto?
Maia – Estamos no caminho e mirando para uma configuração de base. Avançamos, mas ainda é preciso vencer mais algumas lutas e traçar batalhas. O objetivo é garantir que não só um de nós suba e alcance o topo. Vamos enegrecer as lideranças com mais corpos negros presentes nas principais tomadas de decisões.
Quais são os desafios que a agenda ESG ainda tem pela frente no Brasil?
Maia – Esse é um propósito que está em alta. Estamos vendo e vivenciando muitas narrativas, transformações e, inclusive, uma aposta para um futuro possível, digno, melhor e diverso. Em paralelo, vejo como uma premissa e até mesmo um valor inegociável. Hoje, uma empresa ou até mesmo uma pessoa influente, só consegue se conectar com os demais caso os valores se conectem com esse outro alguém.
A B3 lançou um programa para ampliar a participação negra nos conselhos e a Sra. é uma das poucas a ocupar essa cadeira. Por que as empresas de capital aberto ainda não conseguiram avançar na diversidade C-Level?
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Maia – Apenas 4 dos 500 CEOs em ranking das maiores empresas do mundo são negros, dado revelado em pesquisa da revista “Fortune”. Com toda certeza, essa baixa representatividade em posições de liderança dentro das organizações reflete para que líderes negros não ocupem mais cadeiras dentro dos Conselhos Administrativos, considerado um dos lugares de maior destaque na carreira executiva. É necessário trabalharmos muito e de forma eficiente para acelerarmos o processo de desconstrução do racismo estrutural, mais fortemente direcionado às pessoas negras. Isso será possível somente através de oportunidades. É através da aceleração de carreira de pessoas negras para posições de média e alta liderança dentro das organizações que será possível ampliar a representatividade racial nos conselhos administrativos. Uma responsabilidade das organizações e de toda a sociedade.
Quais são as iniciativas com grande potencial para transformar essa realidade no curto e médio prazos?
Maia – Ações afirmativas para a ampliação da representatividade, em lugares de destaque, são de extrema importância para acelerarmos o processo de ampliação da equidade racial em todos os setores da sociedade. É necessária uma agenda estratégica e um planejamento tático que possa ser mensurado através de indicadores de performance. Definir os objetivos que queremos alcançar, mapear os caminhos que nos levarão onde queremos chegar, agir para realizar e medir as conquistas.
E como o Pacto tem atuado para mudar esse quadro?
Maia – O Pacto, através de pesquisa, indicativos e estudos aprofundados, está trazendo ao mercado a tangibilização de iniciativas dentro das organizações para a ampliação da diversidade racial. Estamos falando sobre métricas que permitem avaliar o grau de divergência da distribuição das ocupações por raça em uma determinada organização, em relação à distribuição racial da população (economicamente ativa), onde essa instituição está instalada. Através de um olhar mais objetivo sobre os gaps em relação à inclusão no ambiente corporativo, é possível agir de forma planejada e prática para a solução gradativa e, possivelmente, mais acelerada para a correção desse cenário.
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