Comportamento

O que ‘Star Wars’ ensina sobre empreendedorismo

Sair da zona de conforto e aceitar riscos são apenas algumas das lições

O que ‘Star Wars’ ensina sobre empreendedorismo
(Foto: Mario Anzuoni/Reuters)
  • Construída com base na “jornada do herói”, a saga é aquele tipo de produção cinematográfica cheio de ensinamentos para a vida, inclusive no campo dos negócios e do empreendedorismo
  • Sair da zona de conforto, saber antecipar problemas e aceitar riscos são apenas algumas lições vindas de uma galáxia muito, muito distante das quais os empresários podem ser apropriar
  • Nos negócios, há momentos em que é preciso, sim, ser confiante quanto ao seu empreendimento. Ao mesmo tempo, porém, é preciso tomar cuidado para que essa confiança não cegue o empresário a ponto de representar a sua ruína

(Murilo Basso, Especial para o E-Investidor) – Nove filmes da saga principal, spin-offs, série de tevê, desenho animado, jogos de videogame, uma gama enorme de produtos licenciados, atrações no Walt Disney World e milhões de fãs pelo mundo. Não há como negar que “Star Wars” é um grande sucesso há décadas. O primeiro filme chegou aos cinemas em 1977, produzido por um novato na sétima arte, com baixo orçamento e todas as ressalvas possíveis, e se tornou um sucesso estrondoso, que até hoje ainda rende material para aventuras inéditas.

Construída com base na “jornada do herói”, a saga é aquele tipo de produção cinematográfica cheio de ensinamentos para a vida, inclusive no campo dos negócios e do empreendedorismo. Sair da zona de conforto, saber antecipar problemas e aceitar riscos são apenas algumas lições vindas de uma galáxia muito, muito distante das quais os empresários podem ser apropriar.

Lição 1: os perigos do excesso de confiança

Todos sabemos qual foi o destino de Darth Vader. O vilão se afogou em seu próprio egocentrismo, pois acreditava que a Resistência não tinha chance nenhuma de derrotar o Império. Ao mesmo tempo, em “O Império Contra Ataca” (1980), Han Solo (Harrison Ford) precisou de muita confiança para guiar a Millennium Falcon em meio a uma “floresta” de asteroides, mesmo que o robô C3PO o tenha alertado sobre a probabilidade de sucesso na empreitada (3.720 para uma).

Nos negócios, há momentos em que é preciso, sim, ser confiante quanto ao seu empreendimento. Ao mesmo tempo, porém, é preciso tomar cuidado para que essa confiança não cegue o empresário a ponto de representar a sua ruína.

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“Existe uma linha tênue entre a teimosia e a resiliência. Investir a longo prazo exige muita paciência, visão de futuro e controle emocional. O dia a dia do cenário econômico é uma verdadeira montanha-russa, e se você não souber para onde vai, dificilmente vai resistir aos instintos naturais de proteção de seus investimentos”, opina Leonardo Jianoti, economista, investidor-anjo e sócio-fundador da Platta Investimentos.

“O melhor dos mundos é conseguir ser ousado e rebelde na medida certa, como Han Solo sempre foi, com exceção da confiança paternal na redenção do filho Ben [que se transformou no vilão Kylo Ren na trilogia mais recente], e confiante de seu potencial, não como era Darth Vader, mas como era Anakin Skywalker. O ‘lado negro da Força’ criou uma miopia que transformou confiança em arrogância”, completa.

Cristiano Machado Costa, professor da Escola de Gestão e Negócios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), afirma que o tema de excesso de confiança é um dos mais debatidos na área de finanças comportamentais, uma vez que as pessoas tendem a tomar decisões sem o real conhecimento das probabilidades de sucesso e fracasso.

Nesse  sentido, é importante que alguém que deseje empreender faça uma boa análise do mercado, preveja custos, estude as melhores localizações, preços de aluguel, formato de venda, público-alvo, enfim, pense em quais são os pontos relevantes para o funcionamento do negócio e resuma tudo em um business plan.

“Mas isso raramente acontece, pois as pessoas pulam essa etapa do planejamento, seja por subestimarem os riscos ou por entenderem que essa etapa não é relevante. Há um excesso de confiança, que muitas vezes vem acompanhado da falta de conhecimento para acessar as reais probabilidades de ocorrência de cada cenário. Foi o caso do Han Solo, que não acreditou nas probabilidades trazidas pelo C3PO. O excesso de confiança pode ser um dos fatores que, combinado com a falta de planejamento, leve ao fracasso de muitas pequenas empresas no Brasil. Serão raros os casos em que os empreendedores Han Solo prosperarão em uma economia com chuvas de asteroides todos os anos e vindos de todos os lados”, alerta.

Lição 2: a importância da mentoria

Luke Skywalker (Mark Hamill) não teria se tornado o grande jedi que foi se não tivesse passado por um período intensivo de treinamento com o mestre Yoda, precisando, inclusive, carregar a criatura nas próprias costas, literalmente. Aqui, podemos traçar um paralelo com a mentoria, já que é bom que o empreendedor considere um mentor para lhe ajudar a trilhar seu próprio caminho nos negócios.

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Para Jianoti, Yoda foi o maior e melhor mentor de todos os tempos, ainda que o cinema esteja repleto de exemplos, como Senhor Miyagi com Daniel San e Mickey Goldmill com Rocky – e depois Rocky com Adonis Creed. Isso porque a metodologia e paciência da técnica jedi é capaz de superar todas as adversidades.

“Nenhum grande potencial consegue ser transformado em ação efetiva se não for bem orientado e formado. Por isso, acredito que todo empreendedor necessita de boas mentorias para amadurecer seu projeto e seu caminho empresarial. Sozinho é difícil fazer acontecer e manter o foco. As mentorias ajudam a construir e refletir sobre suas crenças e planos”, afirma o investidor.

Costa lembra que muitos empreendedores de sucesso não tiveram o auxílio de mentores, tendo se guiado, possivelmente, observando os erros dos outros. Isso não significa, porém, que a mentoria não seja necessária. Muito pelo contrário.

“Para cada Bill Gates e Jeff Bezos, devem existir dezenas de milhares de jovens que tentaram iniciar uma empresa de suas garagens e quebraram. Nesse sentido, a mentoria pode, sim, ajudar muito o desenvolvimento profissional e também empresarial. Em geral, é feita por meio de consultorias especializadas em determinadas áreas. A questão é onde buscar essa assessoria ou mentoria. Deve-se sempre buscar profissionais com experiência de mercado e, claro, que possuam casos de sucesso”, explica.

Lição 3: antecipar problemas e tendências é um diferencial

O mesmo Yoda que ajudou Luke a desenvolver seus talentos diz, sabiamente, que é impossível ver o futuro. Ocorre que quando se conduz um empreendimento, é possível tomar cuidados para não ser pego 100% de surpresa por uma situação adversa, como a crise do coronavírus. Nesse caso, planejar-se corretamente é fundamental. Além disso, um empreendedor que dê conta de antecipar tendências também tem tudo para sair na frente.

“É mesmo impossível prever o futuro ainda mais quando se trata de mudanças provocadas por variáveis incontroláveis, como está sendo o caso do coronavírus. É muito difícil pensar em previsibilidade em situações como a que os negócios estão passando nesse período. O que se pode fazer, de forma contínua e ininterrupta, é manter uma estrutura organizacional enxuta, com processos bem definidos e flexíveis e com um capital de giro que consiga suportar adversidades do mercado por pelo menos três meses. Esse período servirá como um laboratório de criatividade e inovação para que o modelo de negócios possa ser repensado”, aponta Plínio João, doutor em Ciências Sociais e professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) em São Paulo.

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João complementa que estudos e análises são sempre necessários, independentemente da situação, seja para a prevenção de problemas, seja para tentar prever tendências. Tanto cursos de curta duração como aqueles um pouco mais longos, como MBAs, podem ajudar nesse sentido.

Lição 4: não tenha medo de se arriscar

Apesar de tentar “prever” o futuro ser um ponto importante na condução de um negócio, empreender significa aceitar riscos. Em “A Ameaça Fantasma” (1999), Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) oferece sua nave em troca da liberdade de Anakin Skywalker (Jake Lloyd) porque viu potencial no garoto.

Tudo bem que no futuro ele se torna o maior vilão do universo, mas não dá para negar que ele poderia ter sido um grande jedi se não tivesse ido para o “lado negro da Força”. E, pensando bem, Darth Vader talvez tenha sido um dos melhores vilões da história do cinema, o que demonstra que ele era realmente bom no que fazia. De qualquer forma, Anakin realmente tinha algo de especial, e a jogada arriscada de Qui-Gon Jinn deu certo.

Nos negócios, riscos e oportunidades andam lado a lado. “O risco é parte integrante de qualquer empreendimento e está associado ao retorno esperado e aos movimentos da dinâmica do mercado. A busca da certeza na incerteza pode minimizar os riscos a partir de estudos estatísticos probabilísticos e não probabilísticos, com planejamento e com construção de cenários”, pontua Plínio João, da ESPM.

Leonardo Jianoti afirma que risco e retorno nunca caminham separadamente. Segundo ele, uma forma de diminuir o risco, ou a percepção que se tem dele, é se cercar do maior volume de conteúdo possível. O instinto, diz o empreendedor, se refere a um conjunto de informações armazenadas tanto no consciente quanto no inconsciente, que permitem ao empreendedor tomar atalhos de decisão:

“Em ‘Rápido e Devagar’, Daniel Kahneman explica que esse sistema intuitivo pode lhe ajudar muito, mas se não estiver alimentado de boas informações e investigações, ele pode ser tolo e preguiçoso. Por isso, aliar intuição ao maior número de informações possíveis, seja do presente ou do passado, vai lhe ajudar a encontrar potenciais inexplorados em ativos ainda em construção. Essa união entre intuição e trabalho com as incertezas pode auxiliar a criar um nível confortável de risco para a tomada
de decisão”.

Lição 5: trabalho em equipe é fundamental

É impossível falar em “Star Wars” sem mencionar o trabalho em equipe, em especial por parte da Resistência. Talvez eles não parecessem o time ideal no início, mas Luke Skywalker, Han Solo, Princesa Leia Organa (Carrie Fisher), Chewbacca, C3PO e R2D2 acabaram se tornando uma espécie de dream team. Juntos, conseguiram derrotar o temido Darth Vader. Em uma empresa, engajar sócios e colaboradores para que todos deem o melhor de si no negócio é um passo importante rumo ao sucesso.

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“A melhor forma de engajar uma equipe é definir claramente quais são a missão, os valores e objetivos. As pessoas se engajam se acreditam no que estão fazendo e no sentimento de pertencimento. Nesse sentido, é muito importante que os desenhos dos mecanismos de incentivos, financeiros e não-financeiros, estejam também alinhados aos objetivos e valores da empresa. No mundo empresarial moderno, as funções, mesmo bem definidas, acabam requerendo trabalho transversal, para que as áreas trabalhem juntas em um mesmo objetivo”, afirma Cristiano Machado Costa, da Unisinos.

Plínio João, da ESPM de São Paulo, diz que o engajamento depende muito das lideranças. Assim, os líderes devem ser os facilitadores de ações que busquem promover o engajamento da equipe. O que pode ajudar muito, diz o professor, é uma comunicação clara e objetiva, associada ao envolvimento dos colaboradores no delineamento e execução de projetos.

“A descentralização é um elemento chave nesse processo e contribuirá para engajar a equipe e diminuir a resistência às mudanças. Os valores da empresa precisam ser disseminados e, de fato, praticados pelas lideranças”, aponta.

Lição 6: saia da sua zona de conforto

Antes de se tornar jedi, Luke Skywalker era um pacato jovem de fazenda. Talvez ele não estivesse completamente feliz ou se sentindo realizado, mas sua vida era confortável. Ao sair da zona de conforto, entretanto, Luke se tornou o herói que a Aliança Rebelde precisava. Quando se opta por empreender, não se pode ter medo de sair da zona de conforto. É preciso expandir seus horizontes.

“Mar calmo nunca fez bons marinheiros, diriam alguns. Outros argumentariam que não se mexe em time que está ganhando. Aquela conversa de Obi-Wan tentando acender a chama no pacato Luke parece com o desafio de resgatar o incômodo que estava adormecido, mas que existia de fato. Ou seja, o trabalho do venerável Kenobi não era tirar Luke da zona de conforto, mas encontrar a fagulha do que poderia se tornar uma fogueira. O senso de missão em Luke era vivo e pujante, mas estava escondido e apagado”, pontua Jianoti.

Cristiano Machado Costa diz que Luke tinha uma missão a seguir, como se seu destino já estivesse escrito nas estrelas – literalmente. No planeta Terra, porém, isso não acontece. As pessoas se veem diante das escolhas profissionais que a vida oferece e decidem incorrer em riscos ou não.

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Sair da zona de conforto, nesse caso, é sinônimo de correr riscos, mudar o status quo da sua vida profissional. E isso pode ter grandes consequências financeira e familiares.

“Um dos conselhos mais importantes na vida profissional é sempre buscar ter alternativas de fontes de renda e oportunidades. Você pode estar muito satisfeito com o seu negócio ou seu cargo, mas deixe, por exemplo, sempre o seu perfil do LinkedIn atualizado, converse com empreendedores de outros setores, engaje-se em relacionamentos profissionais de áreas diferentes. Quem sabe surge uma oportunidade de expansão para outro segmento, a compra de um fornecedor ou uma fusão etc? Todas essas alternativas devem estar na mesa”, finaliza.

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