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Educação Financeira

E-Investidor tira dúvidas de internautas em live com especialistas

Investimentos, coronavírus e bolsa de valores são temas

E-Investidor tira dúvidas de internautas em live com especialistas
Foto: Pixabay
  • Conversamos com o analista Ricardo França e o educador financeiro Eduardo Medeiros, da Ágora Investimentos
  • Para os analistas, a retomada da economia brasileira será gradual
  • A recomendação do momento é de organizar as finanças e buscar a educação financeira

Queda da taxa básica de juros Selic, coronavírus, abalo na Bolsa de Valores: em um cenário econômico tão movimentado, é natural que o investidor tenha dúvidas de sobra a respeito do que fazer com suas aplicações. Pensando nisso, o E-Investidor reuniu dois especialistas para uma live em que os internautas puderam enviar suas perguntas.

Participaram da conversa o analista Ricardo França e o educador financeiro Eduardo Medeiros, ambos da Ágora Investimentos. Foi o primeiro de uma série de encontros virtuais que o E-Investidor irá promover com especialistas do mercado.

Confira a seguir as perguntas e respostas dessa primeira live.

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E-Investidor: A Bolsa de Valores de São Paulo fechou o mês de março com uma queda trimestral de 37%, a pior desde 1968. Qual o balanço que você faz desse período tão difícil para o investidor e para a Bolsa brasileira?

Ricardo França: Os números dizem muita coisa. Eles mostram toda a preocupação dos investidores, e é parte de um movimento global de aversão ao risco. Investidor sai dos ativos que são mais arriscados e busca os que são mais defensivos. Dólar acumula alta de mais de 30% frente ao real e também sobe perante outras moedas. Investidor global está correndo para o dólar, uma divisa segura. Ouro também está se apreciando, pois é ativo que mostra resiliência. Preocupação é com todos os impactos do coronavírus.
A gente não sabe quanto tempo a crise vai durar, o impacto que o coronavírus está produzindo e vai produzir na economia não pode ser menosprezado, no mundo e no Brasil também. Vai penalizar serviços, comércio, restaurantes, e a Bolsa reflete esse cenário de piora da economia. Mas a gente entende que essa crise é passageira.
Em contrapartida a esse cenário preocupante, a gente tem um movimento global de cuidado com a economia. Os Bancos Centrais cortaram taxas de juros mundo afora. No Brasil, o Copom reduziu a taxa Selic para 3,75%, com possibilidade de novos cortes; tomou medidas como redução do compulsório para os bancos, linha de crédito específica para folha de pagamento de pequenas e médias empresas; medidas buscando a proteção do emprego e maior liquidez do sistema, com mais dinheiro circulando na economia, para que menos empresas sofram e quebrem e o investidor consiga proteger seu capital. Isso acontece no Brasil e lá fora. O governo dos EUA anunciou pacote de US$ 2 trilhões para minimizar os impactos e botar dinheiro circulando.
Infelizmente medidas econômicas não vão atacar o vírus, mas, quando a pandemia tiver sido controlada, essas medidas vão ajudar a uma retomada da economia depois. O ambiente será mais propício à recuperação.

E-Investidor: Nos últimos dois anos, o pequeno investidor brasileiro entrou de forma mais acelerada no mercado. Às vezes não respeitou alguns limites, entrando na renda variável com muita força. Como você avalia isso, Eduardo?

Eduardo Medeiros: nos últimos 2 anos, falou-se bastante em investimentos no País e muitas pessoas entraram no mercado para aplicar o seu próprio dinheiro. Mas elas pularam a etapa da educação financeira. Pessoas conhecidas me abordavam fazendo perguntas sobre certo papel, que era extremamente volátil, com nível de risco alto. Mas esses novatos não eram educados financeiramente, elas não tinham conhecimentos básicos. Falou-se muito na “morte da renda fixa”; no nosso linguajar financeiro, a gente até entende o que isso significa, mas o iniciante ouvindo isso passou a querer já começar entrando na renda variável, o nível mais alto de volatilidade. Em 2019, tudo em que o investidor aplicou deu certo: títulos públicos, fundos imobiliários, a própria Bolsa. Mas depois essa crise pegou todo mundo, pegou o rico e o pobre. Sendo que o pobre não consegue juntar uma reserva. Agora é o momento de organizar as finanças e buscar a educação financeira.

E-Investidor: Falando sobre “morte da renda fixa”, muita gente usou essa expressão porque a Selic, que já chegou a 14,25%, hoje está em apenas 3,75%. Mas ela é um colchão importante para todo mundo, porque oferece liquidez. Por que ela não pode ficar de fora de nenhuma carteira?

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EM: antes da queda da Selic, o investidor que se posicionava na renda fixa tinha uma rentabilidade boa e confortável, sem precisar fazer muito esforço. Com queda da taxa de juros, a rentabilidade desses investimentos caiu e esses poupadores precisaram aprender novas alternativas, saírem da renda fixa e partirem para a renda variável. Nesse cenário, é preciso mesmo buscar uma taxa melhor. Mas para a educação financeira, esses investimentos mais seguros da renda fixa são fundamentais, para que o investidor consiga atravessar esse período de tribulação financeira.
Imagine o cara que angariou um patrimônio ao longo dos anos e posicionou todo esse patrimônio em renda variável. Imagine em um único mês esse patrimônio sofrer uma perda de 30% ou 40%. Se ele não tiver uma carteira diversificada, com parte em renda fixa ou algo mais seguro, ele vai ver esse patrimônio praticamente derreter junto com a Bolsa.
A crise atual começou com saúde física, mas para o investidor abalou também a saúde financeira. E o emocional também será bastante abalado para quem não conseguir digerir isso. E a educação financeira pode ajudar nisso.

E-Investidor: O que se considera como sendo renda fixa?

RF: Essa questão de a renda variável ter sofrido um abalo tão grande em tão curto espaço de tempo só nos mostra a importância da renda fixa. Qual o charme da renda fixa? É a preservação de capital com uma rentabilidade que ainda é interessante no médio e longo prazo. Claro que hoje muitos investidores ainda ficam com aquele saudosismo, “anos atrás eu ganhava 1% ao mês, era tão fácil”, isso realmente ficou para trás. Mas uma coisa que muita gente não se pergunta, quando diz que antes tinha retorno de 14,25%, é: será que esse retorno era real? Naquela época, você tinha a taxa Selic a 14,25%, mas a inflação era de 10%. Então, o ganho real era bem menor, não era de 14,25%: era de apenas 4%.
A inflação é a variação dos preços. Cada um tem sua inflação particular: quem tem filho na escola tem parte relevante do seu orçamento atrelado à mensalidade; se de um ano para outro ela sobe 5%, 10%, 15%, você tem um aumento dos seus gastos. Mas há uma inflação oficial, formada pela cesta de preços do IPCA. Quando a inflação estava na casa dos 10%, o dinheiro do investidor estava valorizando apenas 3,5%, 4% no ano. Isso também vale para os dias atuais. Hoje selic está num patamar mais baixo, mas inflação está rodando em torno de 2,5 a 3%. Então o ganho real ainda existe, não dá para decretar a morte da renda fixa. Nas nossas recomendações de portfólio, em todos os momentos, mesmo no auge do entusiasmo da Bolsa, nós sempre recomendamos uma parte da alocação em renda fixa, para diversificação.

E-Investidor: Dá para as pessoas darem um passo atrás e começarem a refletir melhor sobre o seu perfil de risco?

EM: Sim. Quando fazemos uma análise macroeconômica, olhando inflação, taxa de juros real, quando uma pessoa tem o controle de todos os seus gastos, ela consegue amenizar os efeitos da inflação. Apesar de identificar o indicador oficial da inflação, ela pode fazer o monitoramento da própria inflação dela. Ela faz isso monitorando se os gastos dela estão condizentes com a receita e vê o quanto as despesas dela estão aumentando. Eu tenho a opção de não ser influenciado pela inflação oficial se eu for educado financeiramente, otimizando o potencial dos rendimentos do meu investimento. Eu não me preocupo tanto porque consigo controlar as minhas despesas.

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E-Investidor: a retomada da economia será tão rápida quanto a queda? Quando ela vai começar a acontecer?

RF: Infelizmente será gradual. Todos estamos sendo afetados de alguma forma, e não sabemos o tempo da paralisação. Não dá para fazer balanço da extensão a curto prazo. Mas a recuperação deve levar alguns meses. A gente tem ouvido opiniões no mercado que acreditam que o segundo semestre já deve ser melhor. Um dos impactos é o aumento do desemprego, que levará à inadimplência, são vários indicadores que penalizam a economia e demoram para se recuperar. Para investimentos, com Bolsa caindo 30% em um mês, ela não vai devolver essa perda em tão pouco tempo. Na medida em que houver melhora na economia, recuperação será gradual.

E-Investidor: Este momento é uma oportunidade de comprar ou de poupar?

EM: Para o investidor que sabe o que está fazendo, que tem conhecimento do mercado, é interessante você seguir uma boa recomendação de casa de investimentos e agir dentro do seu perfil. Se você não sabe nem o que está fazendo, se ouviu dica do cunhado no churrasco do fim de semana, este é o momento de você tomar cuidado. Um olhar poupador vai blindar o seu fluxo financeiro mensal de dinheiro. É momento de enxugar, de não pensar em gastos exagerados, mas sim nas necessidades básicas. Para quem pode investir, buscar boa recomendação. Não é possível aceitar qualquer recomendação.
Existe uma grande diferença entre o investidor que sabe o que está fazendo e aquele que descobriu que não era investidor consciente. É momento para as pessoas se especializarem, fazerem cursos, entenderem os princípios básicos da macroeconomia. Não era comum famílias falarem em educação financeira, e hoje ela já é até matéria curricular obrigatória nas escolas.

E-Investidor: Ainda podemos acreditar em Ibovespa acima de 100 mil pontos em 2020?

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RF: Acima dos 100 mil pontos, acho difícil. A recuperação deve ser gradual. No final do ano ele deve estar negociando acima do patamar atual de 70 mil pontos, acredito em ganho de valor nos próximos meses, mas não sabemos se já passamos pelo pior estresse. A volatilidade continuará. Mas os 100 a 120 mil pontos ficaram em uma região um pouco distante para o cenário atual. A Bolsa reflete lucro das empresas e expectativa de lucro. Antes do coronavírus, a gente esperava uma alta 2,5% no PIB, agora falamos até em queda do PIB. Isso também se reflete na capacidade das empresas de gerar lucro. Não está entrando R$ 1 de receita e essas empresas ainda têm despesas. O movimento de apreciação mais consistente da Bolsa foi adiado alguns meses.

E-Investidor: Qual seria o melhor investimento neste momento?

RF: Sem querer deixar a resposta em aberto, seria irresponsabilidade falar de um produto sem conhecer o perfil do investidor. Posso dizer que a Bolsa tem um potencial de reação muito bom, mas ela não serve para o conservador. Existe espaço para recuperação da Bolsa, mas tudo depende do perfil do investidor. Quando ele está desenvolvendo o perfil de risco, o quanto ele tolera, ele tem que responder qual o objetivo dele. Mas “ganhar dinheiro” não é resposta. Qual o objetivo de vida? Se for poupar para aposentadoria tranquila para longo prazo, será um produto adequado. Para trocar de carro ou viajar no ano que vem, é outro produto adequado. O investidor pode e até deve separar seus objetivos em caixinhas. Para trocar de carro no fim do ano, ele vai entrar na Bolsa, um ativo de risco, com menos visibilidade? Talvez um produto de renda fixa com vencimento adequado para aquele período pode ser mais indicado. Comprar uma casa, você não pode colocar o sonho de uma família no mercado de renda variável, ou ao menos não a maior parte dele. Quando você conseguir descobrir qual é o seu objetivo, a resposta virá muito mais fácil.

EM: Na educação financeira você tem que carimbar o seu dinheiro, identificar para que ele será usado. Dividir em sonhos de curto, médio e longo prazo. É possível você fatiar suas rendas conforme o horizonte.

RF: Um detalhe importante é que o prazo vai interferir na questão do imposto de renda. Você diz que se sente mais confortável na renda fixa, sem levar sustos. Se vc está montando um plano de longo prazo, guardando para a aposentadoria, e está aplicando com vencimento de um ano, você está no produto errado, no prazo errado. Está pagando um imposto alto, deixando na mesa um dinheiro de IR que poderia estar gerando mais renda lá na frente.

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E-Investidor: Investi em um fundo de ações de construção civil e tecnologia. O valor das cotas só cai. Resgato e realizo a perda ou aguardo recuperação?

RF: Essa pergunta vai servir para muita gente. Quando estou em um fundo, preciso saber o máximo de detalhes possível sobre ele. Será que são empresas maduras, ou startups em início de operação? De forma maior, se eu resgato ou não em momento de prejuízo: quando você alocou, estava pensando em retorno de médio ou longo prazo, essa volatilidade faz parte. Se resgatar esse dinheiro estará realizando o prejuízo. Se a maior parte da alocação estiver nesse fundo, hora de reduzir a exposição para reduzir risco. Mas se o percentual no portfólio for pequeno, segure, converse com seu gestor, evite decisões precipitadas. O momento é de muito estresse, o mercado fica desgovernado, muito volátil. Decisões precipitadas podem levar a prejuízo difícil de reverter mais pra frente. Se objetivo era de longo prazo, não há por que sair do produto agora.

E-Investidor: “Agora é melhor hora de comprar e não de vender, senão você perde dinheiro”. É isso mesmo? O momento é de oportunidade?

RF: Há excelentes oportunidades, mas estamos em um momento de estresse. Se a ação de repente ficou barata, existe um motivo para isso. O preço das ações está interessante, mas não dá para generalizar e dizer ‘comprem qualquer coisa’. É preciso reforçar a escolha. Por trás da ação, existe uma empresa. É importante o investidor entender essa empresa por trás. Infelizmente empresas quebram. Muitas foram piorando, até fecharem as portas. Pegue o último resultado da empresa, dê uma olhada na situação de caixa, de endividamento. Esses resultados podem piorar. Será que essa empresa vai sofrer mais ou menos com período de recessão? A lojinha fechada está sofrendo muito, já a empresa de telefonia nem tanto. Tem que olhar se a gestão é boa. Surgem muitas oportunidades sim, mas tem que saber escolher bem o veículo de investimento.

EM: Você tem que ver o fundamento da empresa, mas também o seu fundamento pessoal. Como está o seu caixa? Quanto o investimento nessa empresa vai afetar a minha sustentação financeira no mês?

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E-Investidor: As casas de investimentos incentivaram o ingresso em renda variável. O investidor deve esperar derreter?

EM: O investidor deve conhecer o perfil dele e seguir as recomendações. Este é o momento de buscar aconselhamento especializado. O momento não é de parar de recomendar o investimento em renda variável, mas também não dá para fazer isso de forma generalizada.

RF: Quando alguém vai trocar de carro ou de celular, em geral faz uma pesquisa caprichada na internet, ouve opiniões de especialistas. Mas, quando vai investir, não tem esse envolvimento tão grande. Mas esse é o dinheiro da vida da pessoa! A importância do planejamento financeiro é grande. A gente entende que a decisão não é fácil e por isso mesmo a gente coloca nossa casa à disposição. Quem tem fôlego para aguentar a turbulência, não acho que seja hora de vender. Volatilidade vai continuar presente na renda variável, mas pensando no potencial de recuperação do dia de amanhã, ele deve segurar a posição. Ele tem que olhar a carteira, olhar se tem ativos mais descontados, essa revisão ele tem que fazer sempre.

EM: O histórico de rentabilidade não pode ser único motivo para olhar um investimento, mas ele dá uma boa base. Se você olhar no nosso site o gráfico comparando as nossas carteiras com o Ibovespa, todas as nossas recomendações estão acima do índice. Por isso é fundamental você se aproximar de uma boa casa de investimentos para fazer uma boa indicação.

 

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Publicado por E-Investidor em Quarta-feira, 1 de abril de 2020

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