Educação Financeira

Aprenda a copiar a estratégia de Luiz Barsi para viver de dividendos

Maior investidor pessoa física do Brasil já acumula patrimônio de mais de R$ 4 bilhões; especialistas apontam os pontos-chave

Aprenda a copiar a estratégia de Luiz Barsi para viver de dividendos
Luiz Barsi, o maior investidor pessoa física brasileiro (Foto: Alex Silva/Estadão)

A estratégia de acumular ações no longo prazo para formar uma renda com base em dividendos fez a fama de Luiz Barsi Filho, atualmente o maior investidor pessoa física da Bolsa de Valores brasileira, com um patrimônio de cerca de R$ 4 bilhões. Em documentário lançado pela AGF nesta segunda-feira (10), Luiz Barsi repetiu considerar a renda fixa uma perda fixa e defendeu que investir em ações ao longo de 30 anos pode gerar uma renda passiva atrativa como opção para a aposentadoria.

O método Barsi de investir ganhou adeptos e hoje especialistas no mercado financeiro ajudam o investidor iniciante a definir uma estratégia para buscar uma “mesada” sólida no futuro. Para João Lucas Tonello, analista da Benndorf Research, a renda fixa pode de fato não ser uma boa alternativa para a formação de uma renda passiva.

Para ele, a renda fixa dá retorno somente com o rendimento dos juros, deixando o valor aportado inicialmente inalterado. “No caso da renda variável, o investidor recebe o dividendo regularmente e o valor investido inicialmente pode crescer devido a uma valorização das ações das empresas no longo prazo”, diz Tonello.

O analista, no entanto, ressalta que para conseguir essa combinação perfeita, o investidor deve escolher empresas sólidas e que tragam bons retornos. Ele, inclusive, aponta que o próprio Barsi fez uma escolha um pouco fora da curva nos últimos anos, como a compra das ações do IRB (IRBR3), em julho de 2021.

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Considerando os agrupamentos de ações para evitar que o IRB se mantivesse com uma penny stock, como são chamados os papéis negociados abaixo de R$ 1, o IRBR3 fechou o último pregão de julho de 2021 cotado a R$ 170,40, momento em que Barsi começou a comprar as ações do IRB. Na última sexta-feira (7), os papéis do IRB terminaram o pregão a R$ 31,64. A diferença equivale a uma queda de 81,4%. “Se esse dinheiro estivesse aportado em um título da renda fixa, a certeza de que teríamos é que o investidor estaria ganhando da ação”, aponta Tonello

Como começar a carteira de dividendos?

Para quem está começando, a estratégia exige paciência e disciplina, principalmente para reservar um porcentual da renda para comprar ações todo mês. Segundo Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, o investidor deve estudar bastante para buscar empresas que pagam bons dividendos, tenham bom histórico de frequência de pagamentos e possuem perspectivas positivas de longo prazo.

Mas os riscos sempre estarão presentes. Ele lembra que o investidor deve compreender que o papel pode se desvalorizar em eventos de volatilidade no mercado e que as empresas de dividendos podem diminuir a capacidade e a intenção de pagar proventos, uma vez que o passado não é garantia do futuro. “Quanto a isso, o investidor deve buscar uma boa diversificação e evitar empresas em setores mais arriscados, dando preferência a negócios mais resilientes e empresas bem geridas”, diz Serra.

Régis Chinchila, head de esearch da Terra Investimentos, explica que para encontrar empresas atrativas e fazer uma boa diversificação em busca de dividendos recorrentes, o investidor deve aportar em setores perenes, como energia, bancos e telecomunicação. Ele argumenta que esses segmentos também são boas opções pelo fato de conseguirem fazer reajustes imediatos em caso de inflação, repassando a desvalorização do real para os clientes, o que também garante um repasse inflacionário nas receitas e no lucro, tendendo a garantir dividendos corrigidos pela inflação.

“Mesmo com o foco em bancos, energia e telecomunicações, o investidor deve tomar cuidado para não investir somente nesses setores ou aportar em empresas só porque eles fazem parte desses setores. O mais recomendado é sempre analisar a saúde financeira das empresas, e não buscar apenas altos dividend yields (rendimentos de dividendos) sem considerar a sustentabilidade dos pagamentos. A diversificação e a qualidade das empresas são fundamentais”, diz Chinchila.

João Lucas Tonello, da Benndorf, reforça que, além dos setores citados, o segmento de alimentos básicos também é interessante. Isso porque ninguém deixará de comer mesmo em momentos de crise econômica.

Ele aponta também que o reinvestimento dos dividendos ocupa posição central na estratégia, visto que a medida gera juros compostos – veja mais sobre eles aqui. Conforme o especialista, a longo prazo, o reinvestimento pode aumentar significativamente o valor total da carteira. Sem isso, no entanto, o investidor pode limitar o crescimento do patrimônio, o que pode resultar em renda passiva insuficiente.

Serra, da Ativa, comenta que o investidor não deve olhar simplesmente o yield realizado da empresa. O importante é saber se as empresas mudaram sua política de dividendos já que o realizado até então, de fato, não é garantia de ganhos no futuro. “Evite negócios mal geridos , com retorno sobre o patrimônio (ROE) muito baixo e com resultados muito difíceis de se prever”, conclui.

Quais ações comprar agora para a carteira de dividendos?

A Terra Investimentos indica compra para as ações do Banco do Brasil (BBAS3), Itaúsa (ITSA4), Bradespar (BRAP4), Copel (CPLE6) e Vivo (VIVT3).

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Já a Ativa Investimentos recomenda compra para Brasil Agro (AGRO3), Banco do Brasil (BBAS3), BB Seguridade (BBSE3), Bradespar (BRAP4), CSN Mineração (CMIN3), CPFL (CPFE3), Petrobras (PETR4) e Vivo (VIVT3). A Bendorf recomenda compra para a Petrobras (PETR4) e CPFL (CPFE3).

Os analistas dizem que essas empresas cumprem os requisitos citados nas explicações anteriores. A Petrobras, no entanto, é a única ação que eles pedem um pouco mais de cautela devido aos riscos políticos, que podem provocar muita volatilidade no papel devido ao temor de uma intervenção estatal na companhia.

O receio é de possível congelamento de preços dos combustíveis ou de a empresa fazer investimentos que podem não ser tão rentáveis para a empresa. Todavia, a nova presidente da companhia, Magda Chambriard, afirmou que a empresa deve entregar uma boa rentabilidade para os acionistas com foco no longo prazo.

Assim, se o investidor não temer o risco político, aportar na maior petroleira do País pode ser uma boa oportunidade de lucrar, recebendo 45% do lucro da companhia na forma de proventos, que tende a ser robusto ao longo de 2024.