- Em 2008, Marcelo Claudino criou a TopConsulting em 2008, que ganhou uma empresa co-irmã, a TopSoccer em 2013
- Atualmente, os negócios prestam consultoria, assessoria e fazem o planejamento financeiro de mais de 80 profissionais do esporte - o futebol, claro, é o principal mercado
- O amadurecimento dos atletas com relação aos investimentos foi sentido durante o tenso mês de março de 2020, quando a bolsa de valores derreteu. É um claro sinal da importância da educação financeira
O engenheiro Marcelo Claudino é um colecionador de camisas esportivas. Atualmente, sua coleção pessoal ultrapassa 200 peças. Mas, para entrar no seu hall, a peça precisa de uma única característica: ter sido utilizada numa competição oficial.
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Em meados de 2000, Claudino fez uma viagem aérea e sentou-se ao lado de Walewska Oliveira, jogadora brasileira de vôlei campeã olímpica de 2008. Na conversa com a atleta, ele pensou em incrementar o seu hobby, mas recebeu uma ideia de negócio que mudou a sua vida: orientar profissionais do esporte a ter planejamento financeiro.
Apesar da formação em engenharia, Claudino direcionou desde o começo de carreira para o mercado financeiro. Durante 13 anos, ele foi executivo da seguradora Prudential. Apaixonado por esportes, entendeu na conversa com Walewska que um dos principais problemas dos atletas era a educação financeira. Focados em desenvolver o corpo e preparar a mente para as competições, poucos tinham o mesmo cuidado com o patrimônio. E problemas simples tinham potencial de comprometer a saúde financeira de uma vida. “Os atletas acabam na mão de profissionais não tão honestos”, diz Claudino. “Muitas dessas pessoas têm excelentes ideias, mas com o capital dos outros.”
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Com esse diagnóstico em mente, Claudino criou a TopConsulting em 2008, que se dividiu num segundo negócio em 2013, a TopSoccer. Se a primeira é voltada para todos os esportes, a segunda foi direcionada ao futebol. Atualmente, os negócios prestam consultoria, assessoria e fazem o planejamento financeiro de mais de 80 profissionais do esporte – o futebol, claro, é o principal mercado. E se o mundo dos investimentos discute há pouco tempo os limites do conflito de interesse, Claudino cuidou dessa questão desde o princípio.
“Somos a primeira empresa a não manipular recursos de atletas, ou seja, a ter mandato para operar”, diz ele. “Aqui fazemos a orientação e ensinamos o que fazer e como fazer. Recebemos honorários fixos e fugimos do conflito de interesse. Não queria perder noites de sono por essa situação.”
Um exemplo desse trabalho é que os atletas escolhem onde investir e com quem investir. Se é em um bancão ou em uma corretora de valores, para a TopSoccer isso não importa. O motivo é que esse profissional não fica preso ao relacionamento da consultoria e pode criar um de seu próprio interesse. Por trás dessa ideia está a maneira como todos são orientados.
“O planejamento é pensado na pessoa e não nos investimentos disponíveis no mercado”, diz Claudino.
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Isso não significa que a TopSoccer não possa fazer uma aproximação. Em 2019, a consultoria fechou uma parceria com a Genial Investimentos para criar todo um conceito de informação financeira exclusivamente voltada para os atletas. O garoto-propaganda desse projeto é Gustavo Kuerten, o principal nome do tênis no País.
A ideia de criar algo exclusivo é justamente porque os profissionais do esporte se sentem mais seguros quando a indicação vem do próprio meio. Aliás, esse é um ponto importante: a TopSoccer não faz prospecção de clientes e só “aceita” clientes vindos do boca-a-boca. Um exemplo é o meio-campo do Flamengo Willian Arão, que indicou a consultoria para César Dutra. Há quatro anos, o goleiro flamenguista passou a receber as orientações da equipe de Marcelo Claudino.
“Vim de uma família de poucos recursos e precisava aprender a administrar os meus recursos financeiros”, diz Dutra. “Passei a entender como investir, o que funciona para o curto ou longo prazo e como não me descapitalizar.”
Para o goleiro, tão importante quanto esse conhecimento pessoal é o trabalho que a TopSoccer passou a fazer com os garotos da base do clube: palestras para dividir os princípios básicos de poupar e investir.
“Quem sobe da base para o profissional não tem noção do que fazer com o dinheiro. Simplesmente não sabe. O sonho de todo jogador é ajudar a família, mas se não souber como fazer, essa ajuda pode ser apenas momentânea e faltar para todo mundo o recurso no futuro”, afirma Dutra.
As palavras de César caem como uma luva para o CEO da TopSoccer. Apesar da formalidade do cargo de executivo, é como analista financeiro que ele se sente à vontade. Com isso, consegue evitar que seus clientes fujam do principal erro de todo atleta: o investimento único em imóveis. Ou que não caiam nos golpes de multiplicação fácil do dinheiro, como tem acontecido com as criptomoedas.
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“Já houve uma boa evolução, mas a imobilização de patrimônio sempre foi um desafio”, diz Claudino. “Mas é a educação financeira que é usada para combater isso, assim como evitar os investimentos milagrosos de retorno garantido. As criptos, por exemplo, podem ter um espaço no portfólio, mas precisam ser bem avaliadas.”
O amadurecimento dos atletas com relação aos investimentos foi sentido durante o tenso mês de março de 2020, quando a bolsa de valores derreteu. A TopSoccer não teve problemas sérios de desgaste por conta dessa queda, muito menos notou pânico nos clientes. É um claro sinal de que a educação financeira também pode entrar para a coleção de Claudino.