- O trabalho do agente autônomo de investimento (AAI), ou assessor de investimento, se tornou a profissão da vez no mercado financeiro, mas a atividade ainda é alvo de desconfiança entre a categoria
- O caso mais recente foi de Nathalia Arcuri que, em entrevista ao E-Investidor, disse que seria ruim investir com os agentes e com os bancos tradicionais, pois estes “cuidam dos interesses deles”
- Diego Ramiro, presidente da ABAAI, falou sobre o caso ao E-Investidor, ao que ele atribui ser preconceito e desconhecimento
O agente autônomo de investimento (AAI), ou assessor de investimento, se tornou a profissão da vez no mercado financeiro, mas a atividade ainda é alvo de desconfianças. O caso mais recente foi de Nathalia Arcuri que, em entrevista ao E-Investidor, disse que seria ruim investir com os agentes e com os bancos tradicionais, pois estes “cuidam dos interesses deles”.
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O episódio chegou na Associação Brasileira de Agentes Autônomos de Investimentos (ABAAI), que publicou uma nota nas redes sociais afirmando que “a planejadora e ‘influencer digital’ presta um desserviço à educação financeira com comentários como esse”.
Diego Ramiro, presidente da ABAAI, falou sobre o caso ao E-Investidor, ao que ele atribui ser preconceito e desconhecimento. “Uma coisa é quando um leigo não entende muito bem sobre a profissão. Quando é uma pessoa que tem um dos vlogs mais acessados de finanças pessoais, isso mostra um total desconhecimento”, diz Ramiro.
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Apesar da crítica, ele nota avanços para a categoria, que vem ganhando cada vez mais reconhecimento. Sobre conflitos de interesse, o presidente da ABAAI justifica que esse é um problema inerente a qualquer profissão e que a associação defende a transparência da remuneração dos assessores.
Na entrevista, ele também comenta sobre os impactos da campanha do Itaú (ITUB4), circulada em junho, batendo de frente na categoria, bem como o estudo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que deve pôr fim à regra de exclusividade dos agentes autônomos.
E-Investidor: É comum ouvir que os agentes autônomos defendem apenas os próprios interesses. Por que ainda se tem essa imagem?
Diego Ramiro: Tudo é um julgamento. Uma coisa é quando um leigo não entende muito bem o que faz a profissão. Quando é uma pessoa que tem um dos vlogs mais acessados de finanças pessoais, e que fala sobre uma profissão que hoje é altamente regulada, mostra um total desconhecimento. Esse preconceito do agente autônomo agir por interesses vem do passado, quando o mercado era muito menos regulado. Essa falácia ficou porque hoje serve também para vender outros interesses. Se não usar agente autônomo vai ser quem? Vlogueiros que são jornalistas e não são economistas formados e não têm uma certificação exigida? É importante ver os dois lados e não generalizar. Conflito de interesse pode haver em qualquer profissão.
O que o Sr. acha sobre as pessoas terem mais independência nos investimentos?
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A maioria dos brasileiros não tem nem conta em banco. Se não houver uma pessoa como um assessor de investimento, que tem como principal função dar educação financeira e ajudar a investir melhor, é a mesma coisa que falar não vá mais ao médico porque o laboratório pode ter pagado alguma comissão para ele: entre no Google e digite ‘se automedique’. Isso não faz sentido.
O que a ABAAI faz para mudar essa imagem?
A associação tem uma atuação muito grande em relação à educação. Vamos lançar um curso EAD gratuito, em parceria com a FGV, para formação de agentes autônomos empreendedores. A ideia é capacitar cada vez mais os assessores de investimentos, porque a maioria ainda está entrando nesse mercado. Além disso, temos um código de ética, que todos os membros têm que seguir, e um comitê de ética para apurar fraudes, desvios e má conduta.
Como funciona a profissionalização, tem que prestar uma prova?
Existe uma certificação específica. É necessário prestar uma prova extremamente difícil na Ancord (Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias), que é feita em parceria com a FGV, e tirar uma nota acima de 70%.
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O Itaú fez uma grande campanha com esse argumento. Isso trouxe algum impacto para a categoria?
Foi totalmente positivo porque somos uma categoria que até então era muito pouco conhecida. A partir do momento que um dos maiores bancos privados do Brasil se incomoda ao ponto de fazer uma campanha para tentar mostrar a diferença para o modelo deles (gerentes), isso fez com que a gente tivesse muita visibilidade. Quando nós notificamos o Itaú, em menos 24 horas o banco respondeu pedindo desculpas caso tenha ofendido a profissão, que não era o intuito deles. Pode haver humor, faz parte do marketing, o que não pode, e o Itaú se retratou, é falar do perfil anti ético do profissional.
Quantos agentes autônomos existem hoje no País?
Hoje são mais de 20 mil assessores cadastrados. Mas eles não podem atuar como pessoa física e têm que estar vinculados a uma empresa. Existe um pouco mais de 2,3 mil pessoas jurídicas.
Sobre a remuneração, o Sr. defende um modelo por rebate ou remuneração fixa?
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Defendo as duas porque depende do cliente. Um exemplo, se eu recomendar um CDB que rende 10%, quem vai me pagar é o banco com quem eu negociei um percentual do spread desse CDB. Uma parte fica para mim, a outra para a corretora e o cliente recebe a taxa contratada. Isso vale para qualquer produto que o assessor de investimentos vende. Outra forma é receber uma taxa de aconselhamento, por exemplo, 1% ao ano. O cliente que demanda muito aconselhamento faz sentido cobrar uma taxa de aconselhamento. Aquele que só esporadicamente faz uma realocação, não faz sentido cobrar um percentual ao ano se ele não está mexendo na carteira.
E como explicar que não haveria interesses próprios na recomendação desses produtos se eles são remunerados na venda?
A associação defende a transparência e que o cliente saiba o valor dessa remuneração. Hoje eles já sabem quanto o assessor de investimento ganha. Já defendemos isso em uma consulta pública da CVM, no ano passado. Até brinco que se o meu cliente soubesse o quanto eu ganho ele ficaria com dó.
Por que os AAIs costumam oferecer o COE? Existe uma meta?
No COE (certificado de operação estruturada), a comissão do assessor é acima do normal em relação a outro produto. Como normalmente é uma operação estruturada de quatro ou cinco anos, e se ele ganha pelo tempo, a comissão no final acaba sendo maior. Porém, o agente não pode recomendar um produto que não está no perfil do cliente, sob o risco de ser punido pela corretora, pela BSM. Mesmo que faça parte do perfil, se o assessor só indicar esse tipo de produto, daqui a pouco o próprio investidor vai questionar a venda de algo que não é bom para ele. Essa tendência era maior há uns dois anos, quando houve uma enxurrada, como tudo que é novo. Mas hoje a receita que o agente autônomo faz em COE já baixou muito.
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Um estudo recente da CVM promete o fim da exclusividade para os AAIs e muitos agentes dizem que isso não vai acontecer na prática. Como o Sr. avalia?
Gosto muito do estudo porque um dos pleitos da associação é que a Instrução CVM 497, que regulamenta o agente autônomo, seja mudada. A conclusão do estudo foi em linha com o que a ABAAI acredita. Entendemos que a exclusividade deve ser uma questão contratual e se o escritório quiser, mas não mais regulatório, que foi a conclusão da CVM. A previsão é que no primeiro trimestre de 2021 aconteça a mudança da Intrução 497.
Existe uma crítica de que as corretoras não aceitariam um acordo de não exclusividade. O Sr. vê alternativas?
A CVM aponta que nos Estados Unidos, onde não existe a obrigatoriedade de exclusividade, mais de 90% dos assessores optam por trabalhar com uma casa só. Eu tenho uma empresa há 11 anos e durante quatro trabalhei com várias plataformas ao mesmo tempo. É muito difícil trabalhar com cinco compliances de corretoras diferentes. Com o fim dessa imposição, é possível criar um relacionamento entre escritórios menores, até para fusões. Por que um escritório pequeno do BTG e outro pequeno da XP não trabalham juntos e criam um escritório grande e que trabalhe com duas plataformas? Hoje não é possível. O que se vê na indústria é a fusão ou aquisição de escritórios entre a mesma corretora.
Maisonnave, da Warren, diz que a concorrência nos Estados Unidos é diferente no Brasil, logo, não haveria um paralelo e os agentes sairiam enfraquecidos…
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Nossa indústria não é tão madura como a norte-americana. Como assessores de investimentos, já vivemos com essa regra de imposição de exclusividade por quase dez anos e muitos conseguiram trabalhar de outras formas. A partir do momento que a CVM flexibilizar, não tem como dizer que o agente autônomo vai ser prejudicado. Talvez, na sua plenitude, caiba uma revisão mais para frente, mas já é um sinal de que a exclusividade regulatória vai acabar. Para nossa esse é um avanço. É melhor do que nada.