Bolsa barata, mas risco alto: o que a análise da Genial revela sobre investir agora
Mesmo negociando abaixo das médias históricas, ações brasileiras enfrentam juros reais elevados e prêmio de risco menor, exigindo seletividade e horizonte de longo prazo do investidor
Apesar dos múltiplos descontados, cenário de juros elevados e incerteza fiscal reduz a atratividade da Bolsa brasileira, segundo a Genial Investimentos. (Foto: Adobe Stock)
A Bolsa brasileira nunca pareceu tão barata e, ao mesmo tempo, tão arriscada. Mesmo negociando abaixo das médias históricas de preço e figurando entre os mercados de melhor desempenho da América Latina em 2025, o Ibovespa enfrenta um cenário em que juros reais acima de 7% e a redução do prêmio de risco colocam um freio no potencial de valorização. É nesse equilíbrio delicado entre oportunidade e cautela que a Genial Investimentos alerta: investir agora pode até render ganhos, mas exige seletividade, apetite a risco e um horizonte de longo prazo bem definido.
Do ponto de vista de preço, os números reforçam a leitura de uma bolsa “barata”. Segundo a Genial, o Ibovespa é negociado atualmente a 9,3 vezes o lucro projetado para os próximos 12 meses, abaixo da média histórica de 10,6 vezes.
Mesmo ao excluir Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3) (empresas que costumam distorcer o índice), o múltiplo segue descontado: 11,2 vezes, frente a uma média histórica de 12 vezes.
Esse movimento não se restringe ao índice amplo. A análise mostra que exportadoras, small caps, empresas ligadas à economia doméstica e até mid e large caps estão sendo negociadas abaixo de seus padrões históricos.
No caso das small caps, o desconto é ainda mais expressivo: o segmento opera a 9,9 vezes lucro, bem distante da média de 13,7 vezes.
“Em termos de múltiplos, o mercado brasileiro como um todo está negociando abaixo da média”, resume a casa.
No entanto, valuationbaixo não significa, necessariamente, oportunidade imediata. A Genial chama atenção para a deterioração da atratividade das ações, medida pelo earnings yield, indicador que compara o retorno dos lucros das empresas com o rendimento de títulos públicos indexados à inflação. De acordo com o relatório, esse indicador caiu para níveis próximos ao segundo desvio padrão inferior, patamar que não era observado desde a pandemia.
Em outras palavras, o prêmio de risco do mercado acionário está se estreitando justamente em um momento em que os juros reais seguem acima de 7%, o nível mais alto da última década. Para a Genial, esse patamar reflete a piora do quadro fiscal e o aumento da incerteza macroeconômica.
Assim, mesmo com ações baratas, o investidor é mais bem remunerado ao permanecer na renda fixa, o que limita o apetite por risco.
Desempenho da Bolsa durante o ano
Ainda assim, o desempenho da Bolsa brasileira em 2025 tem sido positivo na comparação regional. O relatório destaca que o Brasil segue entre os mercados de melhor performance da América Latina, ao lado de Chile, Colômbia e México. Internamente, esse avanço tem sido sustentado sobretudo pelos setores imobiliário, de utilitiese financeiro, que continuam superando o Ibovespa e dando suporte ao índice.
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Por outro lado, nem todos os segmentos acompanham esse movimento. A Genial observa que indústria e varejo ficaram para trás em relação ao desempenho do mercado, refletindo tanto o impacto dos juros elevados quanto uma recuperação econômica ainda desigual entre os setores.
Diante desse conjunto de fatores, a palavra-chave do relatório é seletividade. A casa avalia que os principais índices estão posicionados entre a média dos últimos seis meses e o segundo desvio padrão, o que ainda indica espaço para valorização. Mas esse espaço, segundo os analistas, é mais limitado do que em outros momentos do ciclo.
O recado da Genial para 2026
Para quem pensa em entrar agora, a recomendação é clara: cautela. A Genial alerta que a assimetria do mercado começa a se aproximar de um ponto negativo, em que o risco assumido passa a não ser plenamente compensado pelo potencial de retorno.
“O momento ainda permite ganhos, mas com menor margem de segurança”, avalia o relatório.
Nesse contexto, as oportunidades mais relevantes acabam concentradas em ativos de maior risco. As small caps e, em menor medida, as exportadoras, aparecem como os segmentos com maior potencial de valorização, justamente por carregarem descontos mais profundos, ainda que acompanhados de maior volatilidade.
Estratégias para o investidor
Para o investidor que já está posicionado, a estratégia sugerida é mais defensiva. A orientação geral é manter as posições, mas buscar realização parcial em ativos que já acumularam ganhos expressivos. A ideia é reduzir exposição ao risco sem necessariamente abandonar o mercado.
Já para quem investe com horizonte de longo prazo, o relatório mantém uma visão mais construtiva. A Genial reforça que as empresas de menor capitalização seguem oferecendo as melhores assimetrias entre risco e retorno, especialmente para quem consegue atravessar períodos de maior instabilidade.
O comportamento dos investidores em dezembro ajuda a ilustrar esse ambiente de incerteza. Até o dia 12, houve saída líquida de R$ 2,4 bilhões por parte dos estrangeiros, embora o saldo de 2025 ainda seja positivo em R$ 24,8 bilhões.
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Os investidores institucionais também reduziram exposição, com resgates líquidos no mês e um volume acumulado de R$ 50,4 bilhões no ano. Na contramão, a pessoa física manteve participação positiva, com entrada líquida de R$ 1,5 bilhão no período.
A Bolsa brasileira está, sim, barata em termos históricos, mas o investidor paga um preço elevado em risco para acessar esse desconto. Com juros reais elevados e prêmio de risco comprimido, investir agora exige estratégia, paciência e, sobretudo, escolhas muito bem calibradas.