- Em 2023, a praticidade e a menor exposição a risco deve continuar fazendo dos papéis de renda fixa atrativos para grande parte dos investidores
- Rodrigo Knudsen, gestor de renda fixa da Empiricus, indica de os títulos pré-fixados devem ser evitados, pois podem continuar com retorno menor do que o CDI
- Quatro analistas ouvidos pelo E-Investir apostam nos pós-fixados e elencam cinco deles para estar na carteira do investidor em 2023
Não é novidade que a renda fixa é o tipo de investimento preferido dos brasileiros, popularizado pela boa e velha Caderneta de Poupança, atrelada à taxa Selic, atualmente em 13,75%.
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No entanto, 2022 não foi dos melhores para os poupadores mais tradicionais, que vivenciaram o pior resultado da história da Poupança. Com liquidez recorde de R$103,2 bi, o retorno real, descontada a inflação, foi de pouco mais de 2%. O mesmo ocorreu com os títulos pré-fixados, que renderam abaixo do Certificado de Depósito Interbancário (CDI).
Apesar de o cenário para 2023 não prometer ser muito diferente, a praticidade e a menor exposição a risco deve continuar fazendo desses ativos opções atrativas para grande parte dos investidores.
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“O momento de juros altos no Brasil favorece a renda fixa, com as mais recentes projeções do Banco Central indicando a taxa Selic ainda em patamares elevados para 2023. É crucial, no entanto, que o investidor entenda que a renda fixa também apresenta oscilações até o curso de seu vencimento”, afirma Lucas de Alencar Saboya, assessor de investimentos da iHUB Investimentos.
Mas, quais ativos de renda fixa devem ser mantidos na carteira neste ano, considerando que a taxa básica de juros não deve diminuir tão cedo – pelo menos até o segundo semestre – e a inflação projetada pelo mercado para 2023 nos últimos Boletins Focus está acima dos 5%?
Especialistas ouvidos pelo E-Investidor responderam a essa pergunta e elencaram cinco desses títulos para se manter no radar. Para começar, Rodrigo Knudsen, gestor de renda fixa da Empiricus, indica de qual deles se deve fugir: os títulos pré-fixados, que devem continuar com retorno menor do que o CDI.
“Atualmente, um pré-fixado 2025 está saindo a 12,96%, e o 2029 está saindo a 13,08%. Esses números podem, num estresse, irem para 15%. Isso acarretaria uma rentabilidade desses papéis bem menor do CDI novo em 2023. Então, eu ficaria fora de papéis pré-fixados por essa razão”, alerta.
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Confira as opções nas quais o investidor deve manter o foco:
Tesouro Selic pós-fixado (LFT)
O Tesouro Selic pós-fixado (LFT) aparece como uma possibilidade de aposta diante do cenário persistente de juros altos e projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) elevado a cada semana. Para Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos, o título é uma oportunidade para o investidor sair da Caderneta de Poupança e buscar um investimento com rentabilidade maior e liquidez diária.
”Por ter sua rentabilidade atrelada à taxa Selic, a LFT se tornou bem atrativa, visto que no atual cenário a Selic se encontra em patamares elevados, com isso a rentabilidade oferecida nesse papel é beneficiada. Outro ponto é o da liquidez diária, essa característica torna o papel uma ótima opção para o investidor que busca construir sua reserva de emergência”, orienta.
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Já Saboya acrescenta que o Tesouro Selic é considerada o investimento mais seguro do País por causa de sua baixa sensibilidade às flutuações de juros, o que pode ajudar o investidor em um ano que promete instabilidade. “Em momentos de incerteza, como o que o Brasil atravessa, a LFT também adquire a capacidade de funcionar como reserva de oportunidade devido às suas características, podendo ser realocada em outras classes de ativos em momentos oportunos”.
Tesouro IPCA+
Papel indexado à inflação, o IPCA+ vale para quem deseja começar a planejar a aposentadoria em 2023, pensando em viver de renda a longo prazo, sem preocupação com a rentabilidade deste ano. Rodrigo Knudsen explica que esses títulos estão pagando juros reais muito altos. “O de 2035, pagando o IPCA+ 6,16%, e o de 2045, pagando o IPCA+ 6,31%, são papéis que pagam juros que você não vê em nenhum lugar do mundo, juros reais acima de 6%”.
Segundo o analista, os papéis ganham destaque pela retrospectiva positiva da última década, em que foram grandes vencedores em rentabilidade. “Nos últimos 10 anos elas, bateram CDI, bateram Bolsa, bateram tudo. Então, se pensar no longo prazo, 10 anos ou mais, seriam grandes opções nessa taxa”.
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Para investir, Rodrigo Caetano indica a aplicação em ativos mais longos como a NTN-B 55, que tem um vencimento elevado para o investidor que tem maior apetite ao risco, já que o valor investido pode oscilar positiva ou negativamente. O ativo, com juros semestrais, é um investimento para quem busca cautela devido à condução da política fiscal pelo Governo do presidente Lula.
“Recentemente vimos uma disparada nas taxas oferecidas nesses papéis, o que tornou a NTN-B uma ótima opção de investimento não somente para quem busca proteger seu capital e ter retornos acima da inflação, mas também para aquele investidor que deseja realizar uma saída antecipada auferindo ganhos através da marcação a mercado”, pondera.
Renda fixa internacional
Outra alternativa para se ter em foco são os investimentos em renda fixa internacional, com cotação em dólar, que vêm ganhando corpo mais recentemente. Mesmo estando no Brasil, a operação pode ser realizada via ETFs listados na B3, como indica Cauê Mançanares, CEO da gestora Investo. O USDB11 e o BNDX11 são exemplos desses ativos, que podem ser negociados em uma corretora.
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“O USDB11 é renda fixa americana, é dolarizado e você está comprando um ETF que tem mais de 10 mil títulos de tesouro americano. E o BNDX11 também é cotado em dólar. Então você está dolarizando o seu patrimônio numa renda fixa internacional de todos os outros países do mundo que não são os Estados Unidos”, diferencia. “É um retorno de renda fixa dolarizado que está bastante atrativo com os juros nos níveis que eles estão hoje”.
Debêntures Incentivadas
Com o cenário de juros elevados, as debêntures incentivadas voltaram a ter forte destaque no mercado de renda fixa, é o que avalia Rodrigo Caetano. Para o analista, o investidor que focar nesse tipo de ativo deve buscar emissões que ofereçam amortizações e pagamentos de juros periódicos, pois além de disponibilizar recursos ao investidor ao longo do período de maturidade do papel, a duration dessas emissões é menor, e isso diminui oscilações no preço do título.
“Para o investimento em títulos com vencimentos mais longos, o recomendado é buscar ativos com rentabilidade atrelada ao IPCA, pois o intuito é garantir uma rentabilidade superior à inflação. Já para ativos de vencimentos mais curtos o CDI+ também pode ser uma ótima pedida, o contexto de juros altos por um período mais prolongado pode beneficiar esse tipo de emissão”, diz Caetano, frisando que o investidor deve buscar papéis com elevado grau de rating, por exemplo emissões AAA, a fim de minimizar os riscos.
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Emissões bancárias (CDB, LC, LCA e LCI) pós-fixadas
Com a provável persistência de juros altos ao longo do anos, as emissões bancárias estão dentro das indicações. Rodrigo Caetano comenta que, além de possuírem a garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), oferecem taxas mais atrativas se comparadas aos títulos públicos. Para o especialista, a aplicação nesse tipo de papel deve ser mantida dentro dos limites do FGC, para reduzir os riscos de uma possível perda de capital. Já para o investidor que busca ativos isentos do imposto de renda, as LCI e LCA são as opções indicadas.
Dentre as emissões, o CDB também aparece como um investimento acessível e com taxas atrativas, segundo Cauê Mançanares. “É possível encontrar CDBs muito bons de 90% do CDI ou até 100% do CDI. Você tem um rendimento um pouquinho abaixo da taxa Selic, a taxa DI é um pouco abaixo da taxa Selic, então você vai ter um rendimento bruto na casa de 13,60% ao ano”.