- A disparada do dólar nos últimos dias se deve aos risco fiscal nas contas públicas e incertezas sobre os juros nos EUA
- A situação obrigou as corretoras e bancos a revisarem as suas projeções para o dólar no fim de 2024
- De todas as 7 corretoras e bancos consultados pelo E-Investidor, apenas duas acreditam que o dólar pode encerrar abaixo de R$ 5
O mercado acompanha de perto a disparada do dólar que alcançou a cotação dos R$ 5,43 na quarta-feira (12), após as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em evento para investidores. A escalada do câmbio se deve ao risco fiscal no Brasil com a ausência de compromisso do governo em reduzir gastos públicos somado às incertezas sobre a trajetória dos juros nos Estados Unidos.
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A combinação dos dois fatores influenciou na alta de 2,22% do dólar Ptax à venda (índice de referência para o câmbio) em um intervalo de sete dias, segundo dados da Elos Ayta Consultoria. A valorização obrigou alguns analistas a revisarem as suas projeções do câmbio para o fim de 2024. Isso porque, com esse novo desenho econômico, as chances da moeda norte-americana encerrar o ano abaixo de R$ 5 ficaram ainda mais distantes. Agora, a maioria das corretoras e bancos estima um câmbio entre R$ 5 a R$ 5,30.
As mudanças influenciaram na projeção do boletim Focus – pesquisa do Banco Central com os principais players do mercado – para o câmbio de 2024. A estimativa atual é de R$ 5,05, mas já foi R$ 4,92 em janeiro e R$ 5 no fim de abril. “O risco fiscal está sendo mais precificado pelo mercado e consideramos que a dívida líquida do Brasil está bastante elevada. A perspectiva é de que ela continue subindo. Por isso, vemos que a depreciação do real veio para ficar”, Cláudia Moreno, economista do C6 Bank.
A preocupação do mercado se tornou mais evidente quando o governo decidiu mudar a meta fiscal de 2025 e de 2026 em abril deste ano. Na época, a equipe econômica comunicou que a meta para as contas públicas para o próximo ano sairia de um superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para 0% em 2025. Já para 2026, o superávit de 1% do PIB foi reduzido para 0,25%. As alterações aconteceram há menos de um ano do novo arcabouço fiscal entrar em vigor. Desde a mudança, o mercado pressiona o governo por um maior comprometimento com as contas públicas.
Influência que vem de fora sobre o dólar
O estresse no mercado aumentou ainda mais na quarta-feira (12), quando o presidente Lula falou que o governo está “colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal”, mas que “não consegue discutir economia sem colocar a questão social na ordem do dia”. A declaração não agradou os investidores que avaliam a postura do chefe do Planalto mais propenso a expandir os gastos públicos. A reação fez preço e o dólar aquele dia encerrou cotado a R$ 5,40 após uma alta de 0,83%.
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Já na tarde desta quinta-feira (13), a cotação da moeda americana recuou 0,65% em relação ao real e caiu para R$ 5,37 após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falar sobre a possibilidade do governo reduzir gastos com o fim de privilégios e de supersalários dos órgãos públicos. O discurso trouxe alívio aos investidores e esperança em uma melhora no campo fiscal do País.
As incertezas sobre o início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos também ajuda a pressionar ainda o câmbio. Os indicadores econômicos norte-americanos ainda não sinalizaram uma queda consistente da inflação que possa garantir ao Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) confiança para dá início ao processo de afrouxamento monetário.
Os dados do mercado de trabalho norte-americano, conhecido também como payroll, mostraram a criação de 272 mil vagas em maio. A expectativa era a abertura de 180 mil novos postos de trabalho, segundo dados da Bloomberg. “A mudança no cenário para a política monetária americana, onde a primeira queda do juro parece cada dia mais distante, também colaborou neste sentido”, afirma Homero Guizzo, economista da Terra Investimentos.
Veja as projeções para o dólar por bancos e corretoras para o fim de 2024
Corretora e banco | Projeção atual | Projeção antiga |
Ágora Investimentos | R$ 5,10 | Vai revisar em breve |
Ativa Investimentos | R$ 5,30 | R$ 5,10 – até abril |
Bradesco | R$ 5,15 | Não informou |
C6 Bank | R$ 5,30 | R$ 5,10 – até janeiro |
CM Capital | R$ 4,98 | Sem revisão |
Empiricus | R$ 4,90 a R$ 5,10 | Vai revisar em breve |
Guide Investimentos | R$ 5,15 | Não informou |
Itaú | R$ 5,15 | — |
Monte Bravo | R$ 5 | R$ 4,90 – até maio |
Warren Investimentos | R$ 5 | 4,85 – até abril |