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Conheça a polêmica Dommo Energia (DMMO3), antiga OGX de Eike Batista

Empresa já foi a principal do grupo EBX e mudou de nome em 2017, após fim da recuperação judicial

Conheça a polêmica Dommo Energia (DMMO3), antiga OGX de Eike Batista
Empresário Eike Batista durante depoimento da CPI do BNDES no Senado Federal, em Brasilia. FOTO: ANDRE DUSEK/ESTADÃO
  • Em 2017, a antiga OGX Petróleo e Gás, de Eike Batista, mudou de nome para Dommo Energia. A mudança marcou o fim da recuperação judicial, iniciada pela empresa em 2013
  • Ainda como OGX, a companhia passou por uma série de escândalos envolvendo informações falsas divulgadas em fatos relevantes. Os acontecimentos resultaram na condenação de Eike Batista e outros dois executivos da empresa por crime contra o mercado de capitais
  • Agora como Dommo, a empresa tenta uma reestruturação. Os resultados do segundo trimestre, entretanto, vieram negativos, com prejuízo líquido de R$ 193,9 milhões

Olhar para as antigas empresas do grupo EBX que ainda estão na Bolsa é como ser transportado para o passado. Criadas pelo ex-bilionário Eike Batista, as companhias estrearam na B3 em meados dos anos 2000 e mobilizaram investidores que enxergavam o empresário como um visionário dos negócios. O que o mercado não podia prever, porém, é que o executivo seria condenado por corrupção e crimes contra o mercado de capitais.

O caso da principal empresa do grupo, a OGX Petróleo e Gás, estampa esse cenário. A companhia, que há três anos atende pelo nome de Dommo Energia S.A (DMMO3), entrou na Bolsa em abril de 2008, com uma captação recorde na época de R$ 6,71 bilhões. A promessa ventilada naquele momento já era de se tornar uma ‘mini Petrobras’, mesmo que ainda não tivesse produzido uma gota da commodity.

Entre abertura de capital e o início real da produção de petróleo, em 2012, a empresa emitiu vários comunicados em tom otimista sobre a capacidade dos campos de petróleo localizados na Bacia de Campos e de Santos. A expectativa divulgada aos investidores era de uma produção potencial de bilhões de barris, quando a própria companhia já sabia, desde 2009, que a exploração dos poços poderia ser inviável.

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Por conta dessa ‘bolha de otimismo’, Eike Batista não teve dificuldades em capitalizar a empresa – e fez isso através de endividamento. Isso significa que se precisasse financiar alguma atividade, o empresário emitia títulos de dívida. A mistura de falsas perspectivas e alta alavancagem não poderia dar outro resultado: em 2013, um ano depois do ‘início de exploração’, a OGX entrou em recuperação judicial, com dívidas de R$ 13 bilhões.

O sonho de se tornar uma ‘mini Petrobrás’ afundou junto com as previsões de produção, que nunca se concretizaram e deixaram muitos investidores com as mãos abanando. Em junho deste ano, não só Eike Batista, como Paulo Mendonça, ex-diretor de Exploração e Produção da OGX, e Marcelo Torres, ex-diretor de relações com investidores da OGX, foram condenados por manipulação de mercado.

A nova cara da OGX

Na tentativa de se renovar  e deixar os escândalos relacionados ao principal controlador no passado, a OGX mudou de nome para ‘OGPar’ em 2013, após o pedido de recuperação judicial. Em 2017, quando conseguiu sair do processo de recuperação, mudou o nome novamente, dessa vez para o atual ‘Dommo’.

A situação, entretanto, não limou a preocupação. No final, dos bilhões de barris de petróleo potencialmente extraíveis, segundo estimativa divulgada aos investidores em meados de 2010, cerca de 21,5 milhões foram produzidos até 2018 pela companhia.

Na manhã desta quarta feira (14), os ativos DMMO3 surpreenderam com o salto de 53,16%, chegando ao pico de valorização aos R$ 2,42. Mas não demorou muito para as ações inverterem o sinal: no fechamento de hoje, os papéis encerraram o dia com baixa de 10,13%, aos R$ 1,42.

Segundo Juan Espinhel, especialista em investimentos da Ivest Consultoria, a volatilidade é puxada por uma possível volta da influência de Eike Batista não só na Dommo, mas nas demais empresas do grupo EBX. Na última semana, a MMX, por exemplo, tomou conta do noticiário após uma valorização de 225% em um único dia.

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A mineradora, que está em recuperação judicial e sem atividade, publicou um fato relevante em que avisa os acionistas sobre uma petição feita na Justiça para retomar os direitos de exploração sobre a mina Emma. Se o pedido for concretizado, sinalizaria não só uma eventual recuperação da MMX, mas também um possível retorno de Eike ao mundo dos negócios.

“Ele está proibido de atuar como administrador, por conta das condenações por manipulação de mercado, mas pode colocar pessoas da confiança dele lá dentro e é isso que está acontecendo”, diz Espinhel.

Na visão do especialista, apesar da reação positiva nas ações, o retorno de Eike pesaria ainda mais contra os papéis da Dommo.“Vejo como negativo, até por conta de todo o histórico dele. A nossa recomendação é ficar de fora de DMMO3.”

Essa também é a opinião de Mario Goulart, analista CNPI da Polyface. “Petróleo já é um negócio arriscado porque depende do bom/mau humor de um cartel internacional que de vez em quando decide ‘discutir a relação’, vide briga entre sauditas e russos em março. Por que o investidor vai escolher logo uma empresa na ‘bacia das almas’?”, diz. “Existem opções melhores, como PRIO, ENAT e a própria Petrobras, que vem melhorando depois de anos de gestão assustadora.”

Apesar dos saltos recentes, a Dommo Energia segue longe dos tempos áureos. Em 2010, três anos antes da bomba sobre a situação real da companhia estourar, e ainda como OGX, os papéis foram cotados a R$ 23,27 . Atualmente, a petrolífera possui patrimônio líquido negativo, com prejuízo de R$ 193,9 milhões no segundo trimestre de 2020. O resultado é 1109,8% pior em relação ao mesmo período do ano passado, quando as ações chegaram a valer centavos e passaram por grupamento. Ainda assim, desde o início do ano, a cotação do DMMO3 não ultrapassa a marca de R$ 5.

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