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Uso do FGTS para investir na Eletrobras foi vantajoso para o trabalhador?

Saiba o que justifica a distância entre o desempenho das ações e a rentabilidade dos fundos

Uso do FGTS para investir na Eletrobras foi vantajoso para o trabalhador?
Analistas apontam avanços importantes em termos de eficiência operacional na Eletrobras (ELET3;ELET6) após a privatização. (Imagem: Envato Elements)
  • Segundo levantamento da Elos Ayta Consultoria, os fundos mútuos privados de Eletebroas apresentam uma rentabilidade de até 5,7% desde junho de 2022
  • Já as ações ordinárias da gigante do setor elétrico apresentaram uma valorização de quase 12% durante o mesmo período

Os trabalhadores que utilizaram o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para investir nos fundos da Eletrobras (ELET3;ELET6) não tiveram o mesmo retorno que as ações da companhia,  quase dois anos após a privatização.

Os papéis da empresa valorizaram mais do que o dobro da rentabilidade dos fundos da gigante do setor elétrico durante o mesmo período. A discrepância coloca em dúvida se o uso do saldo do FGTS para investir na empresa foi vantajoso para o trabalhador.

A oportunidade surgiu durante o processo de desestatização da Eletrobras no primeiro semestre de 2022. Na época, os investidores poderiam utilizar até 50% do saldo da conta do FGTS para investir na companhia, por meio dos Fundos Mútuos de Privatização (FMPs). O valor mínimo da aplicação foi limitado a R$ 200. Na prática, os FMPs deveriam acompanhar a rentabilidade das ações da companhia,  já que foram criados para investir apenas em uma única empresa.

No entanto, um levantamento da Elos Ayta Consultoria mostrou que as expectativas não se concretizaram. Os fundos de Eletrobras tiveram um retorno de até 5,7% no acumulado de junho de 2022 a março deste ano, enquanto as ações ordinárias da Eletrobras (ELET3) entregaram uma rentabilidade de 11,86% durante o mesmo período. O baixo desempenho ajuda a explicar a fuga de 36,4 mil investidores desses fundos durante os 21 meses.

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Há algumas razões que justificam a distância entre o desempenho das ações e a rentabilidade dos fundos. Uma delas é o custo da taxa de administração cobrada pelos bancos e gestores que varia de 0% a 0,50% ao ano. Segundo Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed, a diferença reduz a margem de retorno dos investidores, mesmo em um período de valorização do papel.

Além disso, os recursos dos fundos não estão 100% alocados em ações da Eletrobras. Um percentual mínimo é distribuído para outras classes de ativos com o objetivo de atender aos pedidos de saques dos cotistas. “O fundo precisa ter liquidez diária para atender as demandas de caixa de curto prazo. Então, no regulamento do fundo, por exemplo, 90% do patrimônio precisam estar comprados na Eletrobras e o restante em ativos de renda fixa com liquidez diária, como Tesouro Direto”, afirma Piovesan.

Vale a pena ficar no fundo?

Diante dessas particularidades, a decisão de manter ou não os recursos nos fundos da Eletrobras vai depender do perfil de cada investidor. Se não fossem por esses instrumentos, os recursos estariam limitados à rentabilidade do FGTS que corresponde a 3% ao ano mais taxa referencial (TR).

Já nos FMPs com posição nas ações ordinárias da Eletrobras, há perspectivas de ganhos ainda maiores nos próximos anos. “É importante lembrar que investimentos em renda variável, como esses fundos, precisam ter perspectivas de longo prazo que correspondam a um tempo mínimo de investimento superior a cinco anos”, diz Joquim Gomes, analista da RJ+ Investimentos.

Ou seja, ainda faltam pelo menos três anos para o investidor ter condições de avaliar com segurança se o investimento foi válido ou não.

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Já Alexandre Alvarenga, analista de fundos da Empiricus Research, destaca a importância de os investidores avaliarem sua disposição para estar expostos a uma única ação. Caso vise rentabilidade, o ideal seria alocar o patrimônio em uma carteira diversificada. “A ideia da diversificação dos investimentos é ter uma carteira mais resiliente e descorrelacionada a uma única variável. Fora o fato da gestão ativa que troca as posições, conforme as perspectivas de mercado”, diz Alvarenga.

Perspectiva de melhora operacional

O mercado mantém projeções otimistas para Eletrobras no médio e longo prazo após a privatização. Até o momento, os resultados ainda não chegaram no patamar ideal, mas o otimismo com o papel ainda perdura na tese de investimento da empresa com os pequenos avanços já vistos em seus balanços. No quarto trimestre de 2023, por exemplo, a empresa reportou um lucro líquido de R$ 893 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 479 milhões registrado no mesmo período de 2022.

O desempenho só não foi melhor devido às despesas não recorrentes que pesaram nas margens da gigante do setor elétrico. No entanto, o mercado levou mais em consideração a redução de custos com Pessoal, Material, Serviços de Terceiros e Outros (PMSO) em torno de 47% no intervalo de um ano. Além disso, a Eletrobras entregou um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado de R$ 21,5 bilhões em 2023, cerca de 19% maior em comparação ao de 2022.

O grande ponto de atenção para os investidores, especialmente para aqueles com posição nos FMPs, é o risco político que pode adicionar volatilidade para o papel. Mesmo privatizada, o governo federal ainda é responsável por 32,95% das ações da companhia, segundo dados da Economatica. Se levarmos em consideração a posição de 3,68% do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a participação governamental fica próximo aos 40%. No entanto, as regras do novo estatuto da Eletrobras reduziram o poder político da União nas decisões da empresa para 10%.

Ainda assim, o governo ainda possui influência na percepção do mercado sobre a empresa. Em fevereiro do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a Advocacia-Geral da União (AGU) entraria na Justiça contra as cláusulas do processo de privatização da empresa. A declaração impactou os papéis da companhia na Bolsa. As ações ordinárias e as preferenciais da Eletrobras encerraram o pregão do dia 7 de fevereiro com quedas de 4,11% e 3,70%, respectivamente. Se não fossem por essas declarações, os ganhos das ações teriam sido bem maiores desde a privatização.

Apesar dos riscos, o mercado enxerga um potencial de valorização interessante para o papel nos próximos meses. A Levante Corp. mantém uma recomendação de compra com um preço-alvo de R$ 51, o que representa uma alta de 18,6% em relação ao fechamento de sexta-feira (15). Já a Genial projeta um avanço de 20,9% para as ações ordinárias da Eletobras ao recomendar compra para o papel com um preço-alvo de R$ 52.

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