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Laiz Carvalho: “O brasileiro não está preparado para o futuro”

Economista-chefe da Brasilprev fala sobre desafios e acertos da gestora líder em previdência do Brasil

Laiz Carvalho: “O brasileiro não está preparado para o futuro”
Laiz Carvalho, economista-chefe da Brasilprev, revela que contato com clientes foi fundamental para adaptar os produtos de investimento à nova realidade dos investidores. Foto: Divulgação/Brasilprev
  • Laiz Carvalho é economista-chefe da Brasilprev, líder em previdência no Brasil
  • Em resposta ao cenário de Selic baixa, a empresa lançou produtos mais arrojados para ajudar os clientes com retornos melhores
  • Bolsa, crédito privado e ativos ligados à inflação são as apostas da gestora para 2021

A pandemia do coronavírus deixou ainda mais em evidência uma realidade difícil no Brasil: grande parte da população não tem planejamento financeiro para o futuro. Com o reforço nas medidas de isolamento para conter o avanço do vírus, milhares de trabalhadores perderam as fontes de renda e muitos não contavam com nenhuma reserva de emergência para enfrentar os períodos de maior turbulência.

E quando o assunto é previdência, são poucos os que poupam pensando na aposentadoria. “A educação financeira é o principal ponto que vai fazer com que o brasileiro passe a ser um investidor mais forte, não só na previdência, mas de maneira geral”, afirma Laiz Carvalho, economista-chefe da Brasilprev, gestora líder em previdência no Brasil.

A taxa básica de juros, a Selic, no baixo patamar de 2,75%, também se tornou um desafio para o mercado de fundos de previdência. Esses produtos eram majoritariamente focados na renda fixa, que viu os retornos derreterem com as quedas sucessivas nos juros. De acordo com Carvalho, a palavra de ordem para contornar essa situação foi ‘diversificação’.

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“Um ativo que fez bastante sucesso em 2020 foi o Ciclo de Vida 2050, um fundo que se ajuste conforme chega perto do target do ano 2050”, afirma a economista. “Como faltam 30 anos para ele chegar lá, esse produto tem um perfil muito mais agressivo.”

Para o E-Investidor, Carvalho contou como a pandemia afetou a Brasilprev e o que esperar do segmento de previdência privada para o futuro.

Leia na íntegra:

E-Investidor: Como a pandemia impactou a Brasilprev?

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Carvalho: Por um lado, a pandemia trouxe uma certa aversão aos ativos de risco. Vimos uma parte dos nossos clientes migrando para a renda fixa por conta da volatilidade e pelo medo de perder o patrimônio. Mas também vimos clientes utilizando esse movimento de mais volatilidade como oportunidade.

Ano passado tivemos muita gente migrando para fundos mais voltados a multimercados ou fundos diferentes dentro da renda fixa. Hoje também temos um mundo de renda fixa, não só aqueles títulos prefixados, mas muita coisa atrelada à inflação, com crédito privado.

Além disso, ficamos muito mais próximos do cliente. Fizemos muitos calls, mandávamos informes explicando para eles o que estava acontecendo e o que aquilo significava para a previdência. Essa junção de coisas fez com que conseguíssemos nos manter firmes nos piores momentos da pandemia. Fechamos o ano batendo a meta de R$ 300 bilhões sob gestão.

E-Investidor: Quais foram as medidas tomadas em 2020 para evitar saques nos fundos, principalmente com a queda da Selic?

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Carvalho: Como havíamos projetado que 2020 seria o ano da diversificação,  haviam diversos produtos na nossa plataforma esperando para serem lançados e que poderiam ajudar nossos clientes nesses momentos de volatilidade.

Com a pandemia e a queda da taxa Selic para o patamar de 2%, esses lançamentos foram acelerados. As pessoas começaram a ver que o rendimento em renda fixa pós-fixada estava muito menor e que precisariam diversificar os investimentos.

Além disso, o IPCA fechou o ano em 4,5%. Por mais que no início da pandemia se falasse muito sobre um impacto desinflacionário, assim que o quadro começou a evoluir vimos uma aceleração da inflação. Sempre batemos na tecla que a carteira tinha que render pelo menos o IPCA.

Para isso, usamos diversos produtos. Lançamos 4 carteiras baseadas no apetite de risco do cliente arrojado, conservador ou moderado. É um produto que está tendo uma receptividade muito boa.

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E-Investidor: Qual o impacto do novo ciclo de alta dos juros no mercado de previdência?

Carvalho: Já esperávamos essa normalização. O que acabou pegando os economistas de surpresa foi esse aumento mais rápido da Selic. A expectativa é que o ano termine com juros entre 4% e 5%, mas ainda é um momento de bastante oportunidade para o investidor brasileiro.

A previdência é para se preparar para o futuro e manter o poder de compra. A inflação deve bater a Selic em quase todos os meses, então o investidor que deseja manter o poder de compra em 2021 vai ter que fazer algum tipo de diversificação. Mesmo com a perspectiva de normalização da Selic, o IPCA vai estar em um patamar mais alto.

Isso também traz um certo alívio para a taxa de câmbio, muito influenciada pelo que acontece no exterior. Com a perspectiva dos EUA crescendo mais rápido, vemos um maior fluxo de dinheiro vindo para emergentes. A volta do estrangeiro para o Brasil também é impulsionada pela nossa taxa de juros um pouco mais alta. Tudo isso faz com que tenhamos nossa taxa de câmbio caindo também.

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Com o câmbio em queda, a nossa produção fica mais eficiente e começamos a ver a economia se recuperando com mais força é de aceleração da recuperação da economia a partir do 2º semestre e uma geração de muita oportunidade em mercados de maior risco, ao câmbio e à Bolsa. E se for um investidor mais conservador, ele consegue se beneficiar dos ativos atrelados ao IPCA.

E-Investidor: Quais as principais tendências para o segmento de previdência privada no Brasil?

Carvalho: É um mercado que deve continuar bastante desafiador. Vemos de maneira bastante positiva o open insurance, a entrada de novos concorrentes, a agenda do Banco Central em dar mais poder para o cliente, com informações desse cliente estando disponíveis para todos os players do mercado e não só as instituições que esse cliente tenha algum tipo de relação, faz com que ele receba propostas mais equânimes.

Essa concorrência vem muito positiva para poder desenvolver esse mercado de seguradoras e também para trazer as novas tendências que já são vistas em outros fundos, que chamamos de fundos 555, para investidores no geral. São tendências de investimento no exterior, taxas de câmbio e em diversos produtos, para esse mundo de seguradoras, historicamente mais conservador.

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Vemos um desafio muito grande de abertura desse mercado que vai trazer evolução de tecnologia e informação do cliente. Temos uma oportunidade muito grande de cuidar de um cliente por décadas, então estamos sempre nos renovando.

Além disso estamos vendo a economia brasileira caminhar para um patamar de maturidade econômica. Temos toda uma agenda de reformas em pauta para fazer com que o Brasil consiga chegar no nível fiscal esperado. Estamos caminhando para trazer nosso investidor para esse mundo das economias mais desenvolvidas, que aplica mais de 70% em ativos muito arriscados. O brasileiro investe pouco nesse nicho.

Eu vejo o mercado de previdência como a nova menina dos olhos do segmento de fundos de investimentos.

E-Investidor: Quais estratégias a BrasilPrev pretende usar para se manter como a maior do mercado?

Carvalho: Completamos 27 anos em 2020, então temos uma expertise desse setor. A empresa como um todo é voltada para o mercado de previdência. Esse é o grande diferencial nosso, pensar previdência todos os dias.

Temos um conhecimento muito grande da legislação desse meio, sabemos quais tipos de produto são melhores e quais podemos inserir. Isso refletiu bastante no ano passado. Mesmo nesse momento de pandemia, fomos a empresa de previdência que mais captou em ativos de multimercado previdenciários.

Afinal, não adianta sermos a maior empresa de previdência se nosso cliente está recebendo uma rentabilidade baixa comparado ao que ele poderia ter. Sempre tentamos nos atualizar com o que está vindo de novo no mercado. Fomos pioneiros na criação de fundos ESG de previdência, ligados à manutenção do meio ambiente, governança e melhora socioeconômica, por exemplo.

E-Investidor: E por que decidiram apostar em ESG?

Carvalho: O acesso maior à informação está fazendo com que os investidores estejam muito mais atentos na forma com que as empresas estão fazendo a gestão dos portfólios e que tipo de ativos entram nesses fundos. Toda essa movimentação de ESG é algo que já acontece muito fortemente no exterior e começou a ficar mais forte aqui no Brasil a partir do ano passado.

Vemos essa agenda como positiva e é algo que a Brasilprev vem pregando há bastante tempo. Não só na questão de meio ambiente, governança e social, mas também na questão de criar um relacionamento sustentável com o futuro e as finanças das pessoas. É uma bandeira que levantamos e vemos com bons olhos.

E-Investidor: Por que fazer uma previdência privada?

Carvalho: A previdência vem para complementar o valor que você vai receber da previdência social no futuro. O momento em que você é economicamente ativo é o momento para guardar a maior quantidade possível de dinheiro. Depois, com o passar dos anos, você vai se aproveitando desse patrimônio acumulado para manter o poder de compra no momento em que você não é mais economicamente ativo. A primeira vantagem é essa, manter o nível de vida que você tinha antes de se aposentar, com o complemento da sua previdência.

Um outro ponto muito importante é que investimento em previdência é de longo prazo. É uma forma de se preparar para o futuro, definir como você quer viver daqui 40, 30 ou 20 anos. Ela também é uma forma de realizar sonhos. Se você quer abrir um negócio, fazer uma viagem ou algo pensado mais para o futuro, a previdência também ajuda nisso. Guardando a partir dos R$ 100 por mês, a pessoa pode estar bem mais preparada daqui 30 anos.

E-Investidor: Dados do Relatório Global do Sistema Previdenciário 2020 mostram que cerca de 90% dos brasileiros não guardam dinheiro pensando na aposentadoria. Como atrair esse público?

Carvalho: Na média, o brasileiro não está preparado para o futuro. Muitos ficaram desempregados ou com redução de salário durante a pandemia e sem ter planejamento financeiro.

O grande desafio para o brasileiro investir melhor é a educação financeira. É aprender a controlar as finanças, quanto gasta e quanto recebe para depois começar a pensar em investimentos e em previdência privada.

Já existem muitos fundos com aplicação mínima de R$ 1, por exemplo. Isso faz com que esse tipo de ativo seja mais acessível para a população. Mas não adianta dar acesso sem a pessoa ter a educação financeira. Sem o conhecimento, vamos repetir o movimento de 2019, com pessoas investindo em ativos e setores que não entendem muito bem e aí acabam perdendo dinheiro.

E-Investidor: Uma outra pesquisa, feita pela PrevTech Onze, mostra que 36% não sabem em que tipo de fundo sua previdência está investida. Vocês percebem essa defasagem?

Carvalho: Nesse maior contato com os clientes, com lives semanais explicativas sobre o segmento de previdência, sentimos sim uma ânsia muito grande por informação. Mesmo quem estava satisfeito queria saber mais e conhecer as pessoas por trás dos fundos.

E-Investidor: Segundo a mesma pesquisa, os planos oferecidos por grandes bancos representam mais da metade dos piores fundos de previdência. Você concorda com essa afirmação?

Carvalho: A volatilidade dos últimos meses acabou impactando todo o mercado acionário, não só os fundos de previdência. Vimos nos piores momentos da pandemia os fundos de renda fixa com rentabilidade negativa. Foi um momento bastante desafiador, mas também de muito aprendizado.

Com todo esse movimento de abertura do mercado, e mais concorrentes, faz com que esse número de grandes bancos fique cada vez mais diluído. Dessa forma as pessoas têm acesso a vários tipos de instituições financeiras e diversos tipos de investimentos.

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