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Fundos DI reduzem perdas em outubro, mas rentabilidade segue impactada

Taxa de juros em patamares mínimos compromete desempenho da aplicação

Fundos DI reduzem perdas em outubro, mas rentabilidade segue impactada
Foto: Pixabay
  • Em outubro, os fundos DI simples tiveram rentabilidade média de 0,06%
  • Apesar da recuperação em relação a setembro, os retornos ainda estão aquém do esperado
  • Para especialistas, a mistura de juros baixos e aumento da percepção de risco abala as aplicações

O queridinho das reservas de emergência está passando por maus bocados em 2020. Em setembro, quase a metade dos fundos DI chegou a ter retorno nominal negativo, isto é, sem contar o efeito da inflação. Já em outubro, as perdas nominais foram minimizadas, mas ainda existem aplicações no vermelho.

De acordo com o levantamento exclusivo feito pela Economatica , a pedido do E-Investidor, dos 25 fundos DI classificados pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) como ‘renda fixa simples’, quatro tiveram rentabilidade negativa em outubro – ou 16% do total. Entre esses, quem apresentou o pior retorno nominal foi o BTG Pac Tesouro Selic Simples Inst, do BTG Pactual, com queda de 0,51%.

Na outra ponta, o melhor retorno foi de 0,15%, obtido pelo Itaú Priv Soberano RF Simples, do Itaú Unibanco. Na média, as aplicações tiveram rentabilidade de 0,06% no mês, uma leve recuperação em relação a setembro. O desempenho, porém, ainda assusta os investidores.

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Os fundos DI são uma das aplicações mais conservadoras, com baixíssimo risco, já que 95% do patrimônio é aplicado em títulos públicos federais atrelados à taxa Selic. Ver esse tipo de investimento desandar é algo bastante incomum, pelo menos no Brasil. Afinal, o que está acontecendo com os fundos DI?

Taxa Selic nas mínimas pressiona rentabilidade

Uma das principais causas do retorno aquém do esperado é o atual nível de juros da economia, usado como referência para o CDI, taxa que norteia os fundos DI. Até 2018, a Selic estava acima dos 6%, o que potencializava a rentabilidade desse investimento – cenário bem diferente do atual, em que os juros estão a 2% ao ano, na mínima histórica.

O atual patamar faz com que, inclusive, essas aplicações percam para a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Em outubro, o indicador de aumento geral de preços ficou em 0,86%. Ou seja: se descontada a inflação do mês, todos os fundos ficam com rentabilidade real negativa.

No caso do Itau Priv Soberano RF Simples, fundo DI simples que teve a melhor performance de outubro, por exemplo, a queda fica em 0,70% com o ajuste pelo IPCA. “Temos uma taxa de juros real negativa na economia brasileira, isso é algo histórico para o País”, afirma Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos. “Assim, os fundos DI ficaram cada vez menos atrativos e a perspectiva de melhora vem só quando a Selic aumentar, o que não deve acontecer no curto prazo.”

O especialista explica ainda que, diante de uma Selic tão baixa, as taxas de administração dos fundos DI passam a pesar ainda mais no retorno. “Existem fundos que pagam menos que a poupança, e se a taxa de administração for alta, isso engole a rentabilidade”, diz Bertotti.

Para além da queda na Selic, o mercado de títulos públicos também estaria funcionando de ‘maneira disfuncional’, o que forma a tempestade perfeita para o descompasso dos fundos DI.

Marcação a mercado joga os retornos no vermelho

Para Sandra Blanco, estrategista-chefe da Órama Investimentos, o mercado de títulos públicos atrelados à Selic está passando por um período de estresse. Na visão da especialista, a mistura de instabilidade e juros baixos faz com que os investidores exijam um prêmio adicional para comprar esses papéis do Governo, o que pressiona o preço dos títulos para baixo.

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“A taxa e o preço são inversamente proporcionais. Uma taxa maior implica em um preço menor do título. De certa forma, é uma disfuncionalidade, não deveria acontecer nesse mercado”, explica Blanco. “Mas estamos em pandemia, temos a preocupação com o teto de gastos, crescimento da dívida, ou seja, uma convergência de muitos dados negativos que fazem com que o investidor exija um prêmio maior para compensar os riscos.”

Como os fundos DI são majoritariamente compostos por títulos públicos, a rentabilidade é impactada por essa precificação, também chamada de ‘marcação a mercado’. “A questão hoje é principalmente se o teto de gastos e o compromisso com o fiscal vai ser mantido. Se isso não concretizar, o Banco Central terá que elevar a taxa de juros”, diz a especialista da Órama.

Devo tirar minha reserva de emergência?

Apesar do susto, os especialistas consultados pelo E-Investidor não recomendam a troca de aplicação. “É melhor esperar, estamos em uma situação bastante complexa. Não adianta ficar pulando de um investimento para o outro, uma atitude pode gerar prejuízo. Afinal, os fundos DI cumprem seu papel: têm alta liquidez para reserva de emergência”, explica Blanco.

Na opinião de Nelson Muscari, coordenador de fundos da Guide Investimentos, a percepção de risco em relação aos títulos públicos aumentou, mas essa situação é excepcional e não deve se arrastar pelo longo prazo. “É mais um ruído que algo estrutural. O discurso político se alinhando, os fundos voltam a performar normal, ou seja, próximo a 100% do CDI”, diz.

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