- Em levantamento para o E-Investidor, Luciana Seabra, CEO da Spiti, aponta 18 fundos com nomes chamativos, mas que entregam rentabilidade de apenas 36% do CDI, com taxas de administração que ultrapassam 1,50%
- Para Seabra, não faz sentido acabar com esses produtos enquanto as pessoas não tiverem educação financeira
Os produtos nas prateleiras de investimentos estão se multiplicando. Diariamente há novidades atrativas na renda fixa, renda variável e até nos ativos multimercados e criptomoedas. Mesmo com novas opções, existem fundos com mais de 20 anos de mercado disponíveis com nomes atrativos para os investidores, mas no papel, a rentabilidade não tem nada de especial, pelo contrário.
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As nomenclaturas vão desde pedras preciosas como Safira, Topázio, além de Brilhante e Golden. Os termos Special, Supremo, Prime e Advantage também estão entre os títulos dos FICs. Mas já diria o ditado: nem tudo que reluz é ouro.
Em levantamento para o E-Investidor, Luciana Seabra, CEO da Spiti, aponta 18 fundos com nomes chamativos, mas que entregam rentabilidade de apenas 74% a 36% do CDI, com taxas de administração que ultrapassam 1,50%. Para surpresa, o patrimônio líquido é superior a R$ 22 milhões.
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O Certificado de Depósito Interbancário (CDI) são títulos de empréstimo entre os bancos. A taxa DI é o rendimento utilizado ao realizar essas transações e serve como base para outras aplicações, como fundos e Certificado de Depósito Bancário (CDB). Vale ressaltar que ela está atrelada à Selic (taxa básica de juros), que atualmente é de 5,25% ao ano.
Os 18 fundos são classificados como Fundo de Investimento em Cotas (FIC) e somam 965.444 cotistas. A maior parte deles tiveram início entre 1995 e 2005.
Segundo Seabra, os produtos são ultrapassados. Mesmo com as instituições financeiras oferecendo retornos de 200% do CDI, em reação à escalada de ofertas nos bancos digitais, ainda existe um longo passo de educação financeira para ser dado, de forma que os investidores saibam reconhecer as “furadas” e evitem um rombo na carteira de investimentos.
Entre as gestoras, aparecem nomes dos tradicionais bancos do País. “Não faz sentido acabar com esses produtos enquanto as pessoas não tiverem educação financeira”, diz. Para a CEO, o perfil dos cotistas são pessoas com renda mensal superior a R$ 10 mil, já que são produtos considerados “premium” no mercado.
Influência da concorrência
A crítica de Seabra aos nomes super atrativos acontece de forma lúdica para mostrar um problema muito sério. “Não há motivo para as taxas de administração tão altas se estes são fundos sem qualquer sofisticação”, explica.
Vale ressaltar que os bancos digitais oferecem conta remunerada com rentabilidade de pelo menos 90% e sem taxa administrativa. De acordo com a CEO, a concorrência contribuiu para diminuir as taxas de 2,50% para 1,75%. “Mesmo com essa queda nos últimos anos, ainda não se justifica. Os próprios bancos possuem produtos mais vantajosos.”
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O que dizem as gestoras
Procurado pelo E-Investidor, o Bradesco afirmou que vem ajustando o portfólio e as taxas de administração dos fundos para atender às demandas dos clientes em um movimento de adequação ao mercado e à nova realidade de taxa de juros. "Isso inclui o lançamento de novos produtos e soluções, buscando, dessa forma, oferecer uma plataforma ampla e completa de fundos de investimento, que atende a diferentes perfis", disse o banco.
Consultado pela reportagem, o Santander afirma ter um portfólio de fundos que atende diferentes perfis de investidores. Segundo o banco, os produtos são ofertados de acordo com às condições de mercado vigentes. "Os fundos em questão não fazem parte da oferta ativa e, nesta classe de fundos, o banco oferece produtos competitivos e eficientes aos clientes em todos os segmentos", afirma o Santander.
O Banco do Brasil declara acompanhar os movimentos do mercado, assim como os atuais patamares da Selic. De acordo com o BB, os fundos referenciados DI com taxas de administração acima de 1,50% a.a. encontram-se fechados para captação. Além disso, a instituição ainda garante que está trabalhando na renovação dos produtos. "O Banco do Brasil vem promovendo alterações significativas no portfólio disponibilizado ao investidor, como redução de taxa de administração e das aplicações iniciais com valores a partir de R$ 0,01, para assim democratizar o acesso aos fundos de investimento", afirma a instituição em nota ao E-Investidor.
A Caixa Econômica Federal e o Itaú decidiram não se posicionar.