Luiz Barsi Filho, maior investidor individual da Bolsa brasileira, não está muito otimista com o cenário para as empresas listadas em 2024 e acredita que os impostos devem ter impacto nos lucros e nos dividendos. Embora não seja um cenário caótico, esclarece o megainvestidor, as companhias devem ter mais dificuldades de produzir bons resultados. Contudo, aquelas que sempre remuneraram bem os seus acionistas devem seguir nesta estratégia.
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Com uma fortuna estimada em R$ 4 bilhões, Barsi já chegou a receber R$ 1 milhão em dividendos por dia da sua carteira previdenciária, em 2022. Em live do Ações Garantem o Futuro (AGF) nesta segunda-feira (22), Barsi aproveitou para comentar quais ações comprou e vendeu em 2023 e os ajustes que vem fazendo na sua carteira.
Que ações Barsi vendeu?
Uma das posições das quais o investidor se desfez em 2023 foi da Ultrapar (UGPA3), empresa de combustíveis dona dos postos Ipiranga. Barsi comenta que já tinha exposição ao segmento de combustíveis por meio de outras companhias como Vibra (VBBR3) e Cosan (CSAN3). Segundo o megainvestidor, a Ultrapar passou a ter uma distribuição tímida de dividendos, motivo pelo qual vendeu as ações da companhia.
Barsi desfez posição com os papéis ordinários da Eletrobras (ELET3), que na visão dele, estavam pagando dividendos pífios. Contudo, Barsi destaca que ainda segue exposto a companhia por meio das ações preferenciais (ELET6).
Barsi também vendeu ações da empresa de saneamento Sabesp (SBSP3). Segundo ele, no preço atual dos papéis (R$ 75,86) a companhia não representa um bom investimento. “Eu comprei Sabesp quando estava R$ 3 e até R$ 8, o dividendo dela era melhor porque o lucro era maior”, lembra o megainvestidor. Contudo, Barsi reforça que o lucro da Sabesp diminuiu e o dividendo passou a ser pífio.
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Outra companhia que ele mencionou em suas vendas foi a Itaúsa (ITSA4). Barsi já tinha vendido toda sua posição na holding em 2021, por conta dos dividendos baixos. Ele considera que os investimentos feitos pela Itaúsa em companhias como Alpargatas (ALPA4), CCR (CCRO3), Copa Energia e outras subsidiárias não são bons negócios. “Companhias como Alpargatas, CCR e Copa Energia pagam dividendos pífios, então nunca irão aumentar o dividendo da holding”, avalia Barsi.
Que ações Luiz Barsi comprou?
Entre as ações que Barsi está comprando se encontra uma companhia com menos de cinco anos de listagem na Bolsa, mas que segundo ele possui sólidos fundamentos: a Caixa Seguridade (CXSE3). Exposta ao segmento habitacional, Barsi destaca que a empresa tem apresentado evolução nos seus resultados trimestrais. Segundo o megainvestidor, estão acontecendo diversos movimentos positivos na área imobiliária e como toda casa própria precisa de financiamento, isso pode representar uma boa oportunidade para Caixa Seguridade ofertar seus seguros.
Barsi é fã do segmento de seguros e também já teve posição em BB Seguridade (BBSE3), mas comenta que começou a investir na Caixa por conta do preço. Enquanto os papéis da BB Seguridade custam R$ 34,51, uma ação da Caixa Seguridade está sendo negociada a cerca de R$ 13, ou seja, ele poderia comprar três ações de CXSE3 pelo preço de uma do BBSE3. “Dividendo você ganha por quantidade de ações possuídas e não pelo valor aplicado”, reforça.
Vale lembrar que a Caixa Seguridade remunera os seus acionistas de forma semestral, geralmente em maio e novembro.
Outra empresa que Barsi está investindo é a geradora Auren (AURE3), que em 2023 remunerou seus investidores com R$ 3 por ação, equivalente a um dividend yield (rendimento de dividendos) de 20,37%. Para Barsi, a Auren tem um forte compromisso de distribuir dividendos porque entre seus maiores acionistas está a Votorantim e o fundo canadense CPP Investments, que prezam por proventos.
Além disso, destaca os contratos que a companhia possui que trazem perenidade a receita. “Auren é renda fixa, não é renda variável”, brinca o megainvestidor. Contudo, é importante lembrar que o dividend yield de 20,37% foi não recorrente, fruto de uma indenização pela Usina Três Irmãos. Agentes de mercado acreditam que a Auren tenha capacidade de entregar um dividendo entre 6% e 7% de yield sem grandes dificuldades.
Barsi também segue comprando AES Brasil (AESB3), apesar da companhia não ter distribuído dividendos em 2023. Ele destaca que a empresa elétrica reduziu o seu número de ações, o que facilita no rateio dos proventos. Atualmente, a AES Brasil tem 601.927 milhões de papéis. Para Barsi, empresas com uma base acionária muito elevada precisam ter um lucro muito forte para entregar bons dividendos, o que não enxerga como positivo para o investidor.
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Além destas empresas, o megainvestidor diz ter uma boa posição em Vibra (VBBR3) e Cosan (CSAN3). Mas se mostrou contrário a uma possível fusão entre a Vibra e a Eneva. “A Eneva é geração térmica e tudo mundo está fugindo disso. A empresa já tentou fazer parceria com AES Brasil (AESB3), PetroReconcavo (RECV3) e elas não quiseram. Agora estão tentando com a Vibra. Eles não querem fazer parceira, querem se livrar desse ‘abacaxi’”, comenta Barsi.
Outra queridinha de Luiz Barsi é o Banco do Brasil (BBAS3), que afirma ter ações desde 1970. O banco vem entregando bons lucros e dividendos aos seus acionistas. No entanto, as ações estão com preço elevado. “Gostaria de ver alguma crise no Banco do Brasil para aumentar posição”, diz ele.
O que Barsi não compra de jeito nenhum
Barsi aproveitou para lembrar os investidores dos setores que não são considerados bons para quem busca dividendos. A maioria deles enfrentam diversas crises e já tiveram companhias que quebraram e desapareceram do mercado. Varejo, companhias aéreas, construtoras, shoppings e empresas de turismo estão na lista de “proibidos” do megainvestidor.
Ele exemplifica com as empresas aéreas e lembra que no mercado já existiram diversas companhias como Real Aerovias, Panair do Brasil, Varig, VASP, Trans Brasil e todas quebraram. “O administrador de uma empresa aérea não depende apenas da sua gestão e, sim, de fatores externos como o preço do combustível, fatores regulatórios e o poder aquisitivo dos cidadãos para dar resultados”, comenta Barsi, ao defender que o setor aéreo não inspira credibilidade para distribuir dividendos.