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Inflação de 3,3% reduz ainda mais os ganhos da renda fixa. Como não perder dinheiro?

Pressão inflacionária continuará reduzindo o ganho real de títulos indexados ao CDI, mas cenário é transitório

Inflação de 3,3% reduz ainda mais os ganhos da renda fixa. Como não perder dinheiro?
(Foto: Pixabay)
  • Em 2021, a pressão inflacionária achatou a rentabilidade de vários títulos indexados à taxa CDI, que acompanha de perto outra taxa, a Selic, estacionada em 2% ao ano desde 6 de agosto do ano passado
  • Embora pareça óbvio fugir desses ativos, especialistas lembram que eles têm sua importância para as reservas de emergência, por exemplo, dada a sua segurança e liquidez diária, e que também existem opções vantajosas
  • É importante lembrar que os títulos de renda fixa não estão oferecendo um retorno nominal negativo, mas sim o real, ao descontar a inflação

A perda de atratividade da renda fixa não é mais novidade. Amplamente abordado em 2020, o cenário de retorno real negativo em alguns casos deverá se manter em 2021 – e pelas mesmas razões. É que a pressão inflacionária achatou a rentabilidade de vários títulos indexados à taxa CDI, que acompanha de perto outra taxa, a Selic, estacionada em 2% ao ano desde agosto do ano passado.

Conforme o Relatório de Mercado Focus, divulgado na segunda-feira (11) pelo Banco Central (BC), a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do País, foi de 3,32% para 3,34% em 2021.

Ainda que esteja abaixo da meta central (3,75%), o IPCA vai continuar deixando negativo o retorno real de alguns títulos de renda fixa, como o Tesouro Selic, ideal para reservas financeiras. Isso ocorre porque o principal balizador dessa classe de ativos é o CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro), que atualmente está em 1,90%, bem inferior à inflação.

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Embora pareça óbvio fugir desses ativos, especialistas lembram que eles têm sua importância, principalmente para as reservas de emergência, dada a sua segurança e liquidez diária. Além disso, existem sim opções vantajosas de ativos, desde que sejam direcionados para objetivos de prazos mais longos.

“Estamos vendo um cenário muito difícil para a renda fixa, mas isso é pontual”, diz Laura Bartelle, especialista em investimentos e sócia da 051 Capital. “Quando a gente fala de reserva de emergência, não tem jeito: precisa de liquidez e segurança. Então é Tesouro Selic e CDB de grande banco”, afirma.

O Tesouro Selic consiste na opção mais conservadora do Tesouro Direto. Neste título, o investidor empresta dinheiro para o governo, que tem bom histórico de pagador, e pode recuperá-lo a qualquer momento. Já o Certificado de Depósito Bancário (CDB) é um título de crédito privado em que o investidor, ao adquiri-lo, empresta seu dinheiro ao banco emissor, em troca do recebimento do valor acrescido de juros (CDI). No caso do CDB, o ideal é aportar até R$ 250 mil, que é a quantia máxima assegurada pelo Fundo Garantidor de Crédito (FCG), caso o banco venha a falir, por exemplo.

Guilherme Artmann, head de renda fixa da Easynvest, também reforça que alcançar rentabilidade com a renda fixa está bem complicado para objetivos de curto prazo. Para ele, o cenário de retorno real negativo deverá durar até o próximo ano. “Títulos que pagam 100% do CDI ficariam negativos em 2% a 3% até 2022”, diz Artmann.

Mas nem tudo são espinhos neste caminho. É que a taxa básica de juros, e o CDI, por consequência, deverá retomar seu curso de crescimento em 2021, mas somente a partir do segundo semestre, avaliam analistas do mercado. De acordo com o Focus, a projeção da taxa no fim de 2021 passou de 3% para 3,25% ao ano.

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É importante lembrar que os títulos de renda fixa não estão oferecendo um retorno nominal negativo, mas sim o real, ao descontar a inflação. “Colocar no Tesouro Selic para pagar a escola do filho, não vai dar certo, porque a escola está subindo em um nível muito mais forte do que o seu rendimento”, compara Artmann.

Onde encontrar ganhos com a renda fixa?

Para quem quer ter algum tipo de rentabilidade com previsibilidade, seja em títulos públicos ou privados, é necessário entender qual é o objetivo pretendido para escolher a opção mais adequada.

“A forma mais segura de fazer isso é via Tesouro IPCA +, que tem o menor risco de crédito do país, mas que, infelizmente, só é válido pensando no longo prazo. Para o curto, não tem jeito”, diz Paula Zogbi, analista da Rico Investimento.

Entre as sugestões de Zogbi, está o Tesouro IPCA +, que devolve o recurso investido com uma taxa de juros já determinada, mais o valor da inflação no período. Neste caso, é preciso ficar atento aos vencimentos dos títulos, pois caso o investidor pense em recuperar o dinheiro antes, ele corre o risco de ter um retorno nominal negativo, ou seja, menos do que aplicou.

“O longo prazo oscila muito. Se for comprar um título de dez anos para sacar o dinheiro daqui a seis meses, na hora da recompra pode ser que tenha uma rentabilidade nominal negativa. Ou seja, tirar menos dinheiro do que colocou devido à marcação do mercado”, frisa Artmann.

“Se a pessoa puder correr um pouquinho mais de risco, ainda dá para partir para o crédito privado, como debêntures, fundos de debêntures. Estes pagam um prêmio acima do prêmio do Tesouro, e sempre acima da inflação também, se pegar os indexados pela inflação”, observa Zogbi.

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Nas recomendações da 051 Capital, estão uma Letra de Crédito Imobiliário (LCI) do Banco Original, com vencimento em 2023, e que paga 4,75% ao ano. Nesta classe, não tem cobrança de imposto de renda. “Se a pessoa investe R$ 1.000, ela vai tirar R$ 1.114, se for um aporte único”, diz Bartelle.

Outra sugestão da 051, seria um CDB também do Original, vencendo no início de 2028, com pagamento de 9,3% ao ano. “Com R$ 1.000 investidos, vai dar no final do período R$1.863, em valores brutos”, observa a especialista em investimentos e sócia da 051 Capital.

Além disso, é possível investir em ETFs (fundos de índices) de renda fixa, que acompanham a rentabilidade dos títulos do Tesouro, indexados ao IPCA. Na última década, esses índices golearam o Ibovespa no quesito retorno. “Tem o IMA-B 11, IB-5M que acompanha a rentabilidade do título IPCA + com vencimento a partir de cinco anos”, diz Zogbi.

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