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Para ONU, fundos verdes têm longo caminho a ser trilhado no Brasil

Relatório da ONU reforça a necessidade de investimentos ESG. Gestores da Vitreo, Warren e XP apontam desafios

Para ONU, fundos verdes têm longo caminho a ser trilhado no Brasil
Desde que foi criado, há 16 anos, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) supera rendimentos do Ibovespa (Pixabay)
  • No Brasil, empresas estão buscando ampliar a atuação de responsabilidade ambiental para atrair investimentos e melhorar o perfil de crédito
  • O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) alertou que se não houver reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa, será impossível limitar o aquecimento próximo 2°C nos próximos anos
  • Além de acompanhar empresas integrantes de índices direcionados como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e o Índice Carbono Eficiente da B3 (ICO2), ambos da B3, existem fundos que oferecem alternativas para os investidores preocupados com o impacto ambiental

Nesta semana, a Organização das Nações Unidas (ONU) alertou para a emergência para alocação de capital em fundos verdes com o intuito de diminuir danos climáticos. No Brasil, empresas estão buscando ampliar a atuação de responsabilidade ambiental para atrair investimentos e melhorar o perfil de crédito. As gestoras oferecem possibilidades, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) alertou que se não houver reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa, será impossível limitar o aquecimento próximo 2°C nos próximos anos. Como forma de colocar em prática essa preocupação, os investimentos chamados de “verdes” ganham tração no mercado.

De acordo com o relatório da ONU, formuladores de políticas fornecem evidências mais forte de que as atividades humanas estão causando mudanças climáticas e tornando os eventos climáticos extremos mais frequentes e mais severos em todas as partes do mundo.

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Como parte do tripé ESG (ambiental, social e governança), diferentes empresas e segmentos da economia estão voltados à sustentabilidade. Apesar disso, segundo o próprio IPCC, ainda existem muitos desafios.

No mercado nacional, os que buscam alocar recursos voltados à responsabilidade ambiental e social, tanto por acreditar no crescimento dos ativos, como para diversificar a carteira, existem diferentes possibilidades. Além de acompanhar empresas integrantes de índices direcionados como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e o Índice Carbono Eficiente da B3 (ICO2), ambos da B3, existem fundos que oferecem alternativas para os investidores preocupados com o impacto ambiental.

Segundo a consultoria Morningstar, os fundos globais somaram US$ 2,24 trilhões em ativos no segundo semestre. A empresa define “Investimento Sustentável” como estratégias focadas em sustentabilidade, impacto, ou com fatores ESG descritas nos respectivos documentos regulatórios.

Investidores podem pesquisar o Rating de Sustentabilidade de cada fundo na plataforma da Morning Star Brasil. O índice foi criado para ajudar investidores a analisar o uso do ESG nos portfólios, em 2016. Na metodologia, são avaliados riscos, desempenho da empresa para facilitar, inclusive, a comparação de companhias de segmentos diferentes.

Além disso, estão disponíveis informações sobre o comprometimento do fundo com baixo carbono (principal gás poluidor), a categoria da classe de ativos no portfólio, entre outros detalhamentos.

O que dizem os gestores

George Wachsmann, sócio e chefe de gestão da Vitreo, é cético quanto à efetiva participação de investimentos no mercado. “A diferença de pensamento entre as gerações é clara. Enquanto os mais velhos, muitas vezes, nem entendem o que é um investimento sustentável, parece que os mais novos já nascem com os valores claros. Entretanto, não são eles que possuem capital”, aponta.

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Segundo ele, apesar de serem atraentes e com forte apelo, os fundos voltados a ESG da gestora não atingiram as expectativas em relação ao número de cotistas e ao valor de patrimônio. Para Wachsmann, é necessário que haja um amadurecimento dos consumidores e, dessa forma, haverá investimentos expressivos voltados ao meio ambiente e sociedade.

Ele destaca o lançamento recente da casa com fundos temáticos de carbono neutro, hidrogênio, urânio, água e, inclusive, participação feminina em conselhos. “A aposta em investimentos ESG é legítima e esperançosa. Mas, por enquanto, ainda vivemos em uma vitrine. Ainda existe um longo caminho a ser trilhado para que haja uma transformação efetiva”, diz.

Já o gestor da Warren, Igor Cavaca, acredita que há uma mudança significativa do consumidor que chega ao investidor. Segundo ele, mais do que deixar de comprar algum produto de uma empresa que infringe normas ambientais e sociais, os consumidores estão se tornando investidores das empresas nas quais acreditam e compartilham de valores.

Uma crítica de Cavaca é a dependência do fornecimento de dados das empresas sobre as ações de ESG. Segundo ele, falta clareza. Apesar disso, a revisão da metodologia do ISE, divulgada pela B3, é um passo positivo e necessário que deve estreitar essa barreira.

“O Ibovespa é o principal benchmarking (comparativo de desempenho) no Brasil hoje. Porém, já conseguimos ver uma nova movimentação, que ainda vai se fortalecer no mercado, de começar a analisar investimentos sustentáveis para levar em consideração o retorno dos outros itens”, afirma Cavaca

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O gestor da Warren ressalta que as discussões sobre o tema são antigas, mas no Brasil, o assunto só chegou aos grandes players do mercado financeiro e ao interesse dos investidores no ano passado. “A pandemia e a temporada de queimadas que vimos no ano passado alavancaram a importância da temática”, afirma.

Apesar da pauta ser recente, Cavaca acredita que o País deve seguir a tendência dos mercados internacionais. Para ele, uma prova da maturidade estrangeiro é a maior facilidade em encontrar dados claros das empresas e o respectivo comprometimento com as ações ambientais, sociais e de governança.

Segundo Beatriz Vergueiro, head de produtos ESG da XP, fundos temáticos como Trend Carbono, Trend Água Tech e Trend Energias Renováveis são importantes para chamar a atenção dos investidores e trazer os assuntos para os holofotes. “Mas não adianta lançar um fundo que aloca recursos para evitar a escassez de água, por exemplo, se não houver um trabalho educacional por trás para explicar a tese de investimentos”, diz.

Para Vergueiros, além de desafios em atrair investidores e adaptar empresas de capital aberto, uma das principais dificuldades dos produtos ESG é alcançar os ativos de renda fixa. Mas ela ressalta que o País segue na direção certa.

 

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