Investimentos

Até o ‘pior investimento financeiro’ ganha da Bolsa no ano; mas crise também abre oportunidade

Juros altos nos Estados Unidos e risco fiscal no Brasil derrubam o Ibovespa em mais de 9% em 2024

Até o ‘pior investimento financeiro’ ganha da Bolsa no ano; mas crise também abre oportunidade
A queda do Ibovespa em 2024 desanima boa parte dos investidores que vislumbram ganhos no curto prazo; até poupança rende mais. (Foto: stokkete em Adobe Stock)
  • Segundo dados da Economatica, de janeiro a maio de 2024, a rentabilidade foi superior ao do Ibovespa em quatro dos cinco meses analisados
  • O desempenho tornou a aplicação mais popular entre os brasileiros mais atrativa ao longo do primeiro semestre deste ano
  • Apesar dos baixos retornos, a bolsa de valores recompensa o investidor no longo prazo. Nos últimos 10 anos, a rentabilidade do Ibovespa doi o dobro ao da poupança

A poupança sempre foi classificada pelos analistas como o pior investimento do mercado financeiro apesar da popularidade entre os brasileiros. Há alguns motivos para a aplicação receber esse título. A caderneta não garante aos seus investidores a proteção contra a inflação — responsável por reduzir o poder de compra do consumidor —, além de possuir uma rentabilidade inferior à outras opções de investimentos disponíveis no mercado.

Mesmo com esses “defeitos”, a poupança deixou o Ibovespa, principal índice da B3, “comendo poeira” quando o assunto é rentabilidade entre os meses de janeiro a maio de 2024. Segundo dados da Economatica, os retornos da aplicação na poupança foram superiores em quatro dos cinco meses analisados pelo levantamento. Quem aportou R$ 1 mil na poupança no início de janeiro e resgatou no fim de maio teve um lucro de R$ 28,65. Já quem decidiu investir na carteira teórica do Ibovespa durante o mesmo período teve um prejuízo de R$ 90,08.

Compare a rentabilidade da poupança e do Ibovespa em 2024

Investimento Janeiro Fevereiro Março Abril Maio
Poupança 0,60% 0,54% 0,53% 0,60% 0,55%
Ibovespa -4,79% 0,99% -0,71% -1,70% -3,04%
Fonte: Economatica

Há alguns motivos para essa derrota do IBOV. As incertezas sobre o início de corte de juros nos Estados Unidos atrasam a vinda do investidor estrangeiro para a Bolsa. Com as taxas em patamares a 5,25% a 5,50% ao ano na maior economia do mundo, o gringo prefere investir na renda fixa norte-americana do que tomar risco na Bolsa brasileira.

A preferência justifica a retirada de mais de R$ 37,8 bilhões de capital estrangeiro do Brasil, segundo dados mais recentes da B3. O risco político também não tem ajudado a atrair os investidores para a renda variável. As mudanças na meta fiscal para 2025 e 2026, a interferência política na gestão da Petrobras (PETR3; PETR4) com a demissão de Jean Paul Prates e dúvidas sobre o controle com as contas públicas tornam o ambiente ainda mais pessimista para a renda variável.

Apesar de todos os problemas, engana-se quem acredita que o momento de “lucrar” no mercado acionário já passou. O encanto dessa classe de ativos se encontra no longo prazo. Ainda de acordo com a Economatica, quem aplicou R$ 1 mil em janeiro de 2023 e resgatou no fim de 2023 conseguiu ter um retorno de R$ 1.605,18. Ou seja, quase triplicou o investimento. Já a poupança rendeu em gual período R$ 795,85 – apenas metade dos rendimentos da bolsa.

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Por que a rentabilidade da poupança é baixa?

Desde 2012, após decisão do Banco Central (BC), a rentabilidade da poupança varia conforme o patamar da Selic. Quando a taxa de juros básica da economia estiver igual ou abaixo de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança corresponde a 70% da Selic mais a taxa referencial. No entanto, quando a Selic estiver acima de 8,5% a.a — como ocorre atualmente — a rentabilidade da aplicação muda e passa para 0,5% ao mês mais a taxa referencial (TR).

Ou seja, a decisão do BC em reduzir 3,25 pontos porcentuais da Selic em menos de um ano não influenciou nos rendimentos da poupança. Isso significa que os brasileiros interessados em rentabilizar o seu patrimônio ou protegê-lo contra a inflação precisam dar prioridade a outros tipos de investimentos. Segundo Larissa Frias, planejadora financeira do C6 Bank, os Certificado de Depósito Bancário (CDBs) podem ser opção interessante para o investidor mais conservador.

Os títulos possuem a mesma acessibilidade da poupança e ainda entregam rentabilidade maior. “É possível encontrar CDBs com possibilidade de liquidez diária, enquanto na poupança, o investidor precisa esperar 30 dias para não perder o retorno”, diz Frias. Além disso, caso a instituição financeira responsável pela emissão do CDB vá a falência, o investidor terá a garantia do seu pagamento por meio do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) que garante o ressarcimento de até R$ 250 mil para pessoas físicas e jurídicas.

As Letras de Créditos do Agronegócio (LCA) e Letras de Crédito Imobiliário (LCI) também se apresentam como opções. Esses papéis possuem cobertura do FGC e ainda são isentos de Imposto de Renda, o que torna o retorno do investidor ainda maior. “Isso faz com que as letras de crédito sejam mais interessantes do que a poupança. Às vezes, são mais interessantes do que o próprio CDB, mas o investidor precisa avaliar as taxas de retorno que são oferecidas no investimento”, destaca Frias.

Os títulos do Tesouro Nacional, emitidos pelo governo, também estão entre as alternativas seguras e  mais rentáveis do que a caderneta de poupança. Atualmente, o investidor consegue encontrar opções que protegem o seu patrimônio da inflação e ainda entregam um prêmio a mais no vencimento do papel.

É o caso do Tesouro IPCA+6% que tem ganhado notoriedade no mercado nas últimas semanas. Os títulos indexados à Selic e que acompanham a variação dos juros também agregam valor ao investidor. “Esses títulos podem oferecer menos volatilidade na carteira, liquidez e um rendimento bem acima da poupança, em torno de 10,50% ao ano”, afirma Eduardo Rahal, analista-chefe da Levante Inside Corp.

Oportunidades na Bolsa de Valores

A queda do Ibovespa em mais de 9% em 2024 desanima boa parte dos investidores que vislumbram ganhos no curto prazo. No entanto, os analistas reforçam que a depreciação sinaliza um momento de oportunidades para investir em ações a preços mais acessíveis e poder ter ganhos maiores no médio e longo prazo. A orientação não tira a responsabilidade do investidor em buscar empresas de qualidade que tenham um potencial de agregar valor ao seu patrimônio.

“Para um perfil de investimentos mais conservador, boas escolhas de alocação devem envolver empresas com operações já bem estruturadas, que apresentam fluxos de caixa positivos e entreguem valor para os seus acionistas”, diz Matheus Falci, especialista em renda variável da One Investimentos. Os bancos, seguradoras, empresas do setor de energia, saneamento e telecomunicações costumam ser as companhias mais recomendadas pelos analistas para quem busca segurança e rentabilidade na Bolsa de Valores.

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Para Rahal, analista chefe da Levante Inside Corp, as ações do Itaú (ITUB3; ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3), Porto Seguro (PSSA3), Copel (CPLE6) e Sabesp (SBSP3) atendem a esse perfil. “Os fundos de investimento imobiliários (FIIs) também oferecem maior previsibilidade (em sua maioria), menor volatilidade e dividendos recorrentes. É uma boa opção para um investidor mais conservador que está iniciando a sua jornada no mercado de capitais”, diz Rahal.

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