- Analistas de três casas elegeram ações que podem se beneficiar com a alta de juros
- Os setores de seguros, bancário, saneamento e elétrico são os preferidos para lucrar em momento de alta da Selic
- Especialistas estimam que Selic deve encerrar o ano cotada entre 11,25% e 11,75%
Alta de juros no mundo dos investimentos é sinônimo de queda dos ativos de riscos, com a fuga de capital para a renda fixa. E nesta quarta-feira (18), o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,25 ponto porcentual nesta quarta-feira (18), de 10,50% ao ano para 10,75% ao ano. Mesmo com essa premissa ruim para a renda variável, analistas do mercado financeiro dizem ser possível encontrar ações que podem se beneficiar com a alta de juros.
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Em linhas gerais, os analistas ouvidos pelo E-Investidor esperam um ciclo de alta de juros, com a Selic encerrando 2024 entre 11,75% ao ano e 11,25% ao ano. Para Bruno Benassi, analista de Ativos na corretora Monte Bravo, a Selic deve terminar o ano em 11,75%, com um aumento de 0,25% previsto para janeiro de 2025. O especialista compartilha da visão de que a atividade econômica está aquecida e a inflação pode ficar acima da meta caso o Copom não suba juros nessa velocidade.
Já Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, argumenta que a Selic deve encerrar 2024 perto dos 11% ao ano, dado que a curva de juros dos títulos com prazo de 10 anos gira em torno de 12%, acima da atual meta da Selic de 10,5%. “Dentre as principais razões para vermos o ciclo de alta de juros, destacamos a evolução da dívida pública e das despesas financeiras como percentual do PIB, assim como possível lentidão na queda da curva de juros nos Estados Unidos”, aponta o analista.
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Já Hayson Silva, analista da Nova Futura, estima que a Selic deve terminar o ano cotada a 11,25%. Como a renda variável sofre com a alta dos juros, o investidor deve se posicionar em ações que são mais defensivas ou que até podem se beneficiar desse avanço da Selic.
Quais setores podem se beneficiar com a alta dos juros?
Para Ângelo Belitardo, da Hike Capital, os principais setores que devem se beneficiar com a alta das taxas de juros são bancos, seguradoras, energia e saneamento, logística portuária e aluguel de equipamentos. Na visão dele, esses segmentos possuem alto grau de solvência, baixo custo de capital, e são diversificados – o modelo de negócios dessas companhias oferece retornos superiores ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI) + 4% ao ano.
“Importante comparar o ROIC (Retorno sobre o Capital Investido) e ROE (Retorno sobre Patrimônio) dessas empresas com o CDI+4%, dado que o CDI é referência para o retorno dos produtos da renda fixa, e a renda fixa é considerada o principal custo de oportunidade de se investir em ações. Outra variável importante é o nível de alavancagem dessas empresas, assim como se existem projetos de crescimento intensivos em capital”, diz o especialista.
Por outro lado, Bruno Benassi, analista de Ativos na corretora Monte Bravo, relata que só há um setor claramente beneficiado pela alta da taxa básica de juros, o de seguros. Isso acontece porque as seguradoras aplicam parte do dinheiro que recebem dos clientes em títulos de renda fixa conservadores, como o Tesouro Selic.
Esse dinheiro fica rendendo, como uma reserva de emergência: caso o cliente precise acionar o seguro no período do contrato, o sinistro é registrado e o dinheiro é resgatado. Se o sinistro não for acionado e virar prêmio, todo o dinheiro pago pelo cliente, mais a rentabilidade atrelada à Selic, fica para a seguradora. Justamente por isso que as empresas de seguros são beneficiadas pela alta de juros.
“Nesse caso, podemos mencionar empresas como BB Seguridade (BBSE3), Caixa Seguridade (CXSE3), parte da Rede D’Or (RDOR3) como a Sul América), além da Hapvida (HAPV3), pois essas companhias possuem reservas técnicas. Essas reservas, em sua maioria, estão atreladas ao CDI ou à própria Selic”, aponta Benassi.
Outro setor indicado pelo analista é o setor bancário. Ele comenta que esse segmento pode se beneficiar com a alta de juros pelo ganho com o spread bancário – juros maiores no mercado aumentam a rentabilidade dos empréstimos. No entanto, o especialista deixa claro que essa não é uma regra, mas um ponto.
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O aumento dos juros também pode provocar uma desaceleração da economia e provocar uma redução nos números dos empréstimos feitos pelos bancos, o que pode causar uma desaceleração nos resultados. “De forma simplificada, o único setor que, em tese, se beneficia diretamente da alta dos juros é o setor de seguros. Podemos também discutir o setor bancário, a depender das variáveis. No geral, são poucos os casos de empresas que melhoram com a Selic subindo”, esclarece Benassi.
Quais ações comprar com a Selic em alta?
Em linhas gerais, as três casas ouvidas pelo E-Investidor, Nova Futura, Hike Capital e Monte Bravo, recomendam compra para o setor de seguros e bancário e utilidade pública. As ações recomendadas para lucrar com a alta da Selic foram Banco do Brasil (BBAS3), BB Seguridade (BBSE3), Copasa (CSMG3), Santos Brasil (STBP3), Mils (MILS3), Itaú (ITUB4), Santander (SANB11) e Eletrobras (ELET6).
O papel que foi bem recomendado e reafirmado foi o de BB Seguridade. Segundo Benassi, da Monte Bravo, a companhia opera em um setor sólido, utilizando a rede de distribuição do Banco do Brasil para oferecer serviços de seguro, capitalização e até previdência. Ele afirma que a companhia não está exposta ao risco de inadimplência, embora enfrente o risco de sinistralidade, o que é parcialmente repassado para resseguradoras. Assim, a empresa não carrega todo o custo ou risco da sinistralidade em seu balanço.
“Além disso, a BB Seguridade possui uma receita financeira específica, que tende a aumentar com a alta da Selic. A empresa não paga juros sobre o capital próprio (JCP), mas distribui dividendos. Em linhas gerais, ela é uma excelente pagadora de dividendos. Portanto, a única ação que realmente vemos com potencial de alta ligada ao aumento da Selic é a BB Seguridade”, aponta Benassi.
A Monte Bravo tem recomendação de compra para BB Seguridade com preço-alvo de R$ 43 para os próximos 12 meses, uma potencial alta de 19,57% na comparação com o fechamento de terça-feira (17), quando a ação encerrou o pregão a R$ 35,96. A Hike Capital também recomenda compra para as ações da seguradora. No entanto, o preço-alvo é de R$ 48, um possível crescimento de 33,5% em relação ao fechamento de terça-feira (17).
A casa recomenda compra para Copasa e Sanepar. O analista diz que as duas empresas devem apresentar redução no custo de capital, o que irá desencadear um crescimento agressivo na geração de valor dessas companhias. Já a recomendação para a Mils e Santos Brasil acontece devido à alta geração de caixa, grande potencial de crescimento e ganho de escala sem a necessidade de se endividar.
No caso do Banco do Brasil, a recomendação da Hike Capital se deve pelo fato de a companhia ter apresentado consistência e melhora na qualidade de sua carteira de crédito, em um cenário de desconto para as suas ações. “A manutenção de juros elevados em paralelo a um baixo nível de inadimplência abre espaço para o Banco do Brasil tomar mais risco em suas operações de crédito”, diz Ângelo Belitardo.
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A Nova Futura recomendou compra para Banco do Brasil, Itaú e Santander, pois acredita que as empresas vêm apresentando bons resultados com múltiplos atrativos. No setor de utilidade pública, a recomendação foi para Eletrobras e Copasa. O analista diz que as empresas apresentam um momento técnico favorável para continuidade do movimento de alta.
De modo geral, as ações para lucrar com a alta da Selic recomendadas pelos analistas são defensivas e apresentam um ponto seguro para o investidor em um momento em que a renda variável pode se tornar mais arisca. “Consideramos esses setores e empresas com o menor grau de risco da bolsa de valores, dado a baixa oscilação em suas receitas e margens de lucro, assim como são empresas com baixos níveis de endividamento”, aponta Belitardo. Veja a seguir uma tabela com o preço-alvo de cada casa para as ações que podem lucrar com a alta de juros.