- Prorrogação de corte de juros nos EUA e questões fiscais fazem Tesouro IPCA pagar um juro real maior
- Analistas estimam que taxas devem cair à medida que o Fed sinalize o início do corte de juros
- Especialistas indicam um título do Tesouro IPCA para comprar agora
O Tesouro IPCA voltou a entregar rentabilidade acima dos 6% ao ano e disparou uma corrida dos investidores pelo ativo. Desde então as taxas se seguraram em patamares elevados – o Tesouro IPCA com vencimento para 2029 chegou a 6,15% ao ano mais a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nesta terça-feira (4), mesmo ganho para títulos com vencimentos longos, em 2035 e 2045.
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Para Maria Luisa Nepomuceno, analista de renda fixa da Nord Research, a taxa dos títulos atrelados à inflação em patamares historicamente altos – veja aqui mais detalhes – acontece devido a incertezas de quando o banco central americano, o Federal Reserve (Fed), começará a cortar juros na maior economia do mundo. No começo do ano, o mercado precificava que a taxa de juros dos EUA começaria a ser reduzida em março. No entanto, dados da inflação estadunidense e do mercado de trabalho mostraram uma resiliência na economia, o que forçou o Fed a adiar o plano.
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Atualmente, a maioria do mercado calcula um início de corte de juros americanos em novembro, com 45,2% das apostas para o penúltimo mês do ano e quedas do atual intervalo de 5,5% a 5,25% ao ano para 5,25% a 5% ao ano. Já 39,2% dos analistas estimam que a taxa deve se manter entre 5,25% e 5,5% ao ano no mês de novembro. As informações são da ferramenta CME FedWatch.
“Os juros mais elevados nos EUA obrigam o Brasil a oferecer um prêmio mais interessante para atrair investidores. Ou seja, a redução da taxa básica de juros brasileira fica menor e os nossos títulos públicos passam por ajustes no mercado por causa dessas mudanças de expectativas. Essa influência do mercado internacional acaba pesando sobre o País, que passa a pagar juros maiores para financiar sua dívida”, diz Nepomuceno.
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Fabrício Silvestre, analista de renda fixa da Levante Corp, comenta que além das questões internacionais o cenário fiscal brasileiro também pesa sobre os preços dos títulos públicos, devido ao aumento da relação dívida líquida sobre o Produto Interno Bruto (PIB). Em abril, o Brasil registrou o maior déficit público de sua história com um rombo de R$ 1,043 trilhão. Cerca de R$ 776,3 bilhões do montante total resultam dos juros da dívida.
Em meio a esse rombo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a especulação sobre eventual mudança na meta de inflação fez o mercado reprecificar as expectativas para a alta de preços. Tal especulação se deu após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dizer em audiência pública na Câmara dos Deputados que a meta de inflação de 3% é algo “exageradíssimo”.
Atualmente, a meta de inflação está em 3% ao ano, com margem para chegar a 4,5% no teto estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Em meio à demora para o início do corte de juros pelo Fed e do temor de uma piora fiscal, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu cortar a taxa básica de juros da economia, a Selic, em apenas 0,25 ponto porcentual, para 10,5% ao ano, na sua última reunião em maio.
Silvestre, da Levante, comenta que os receios com a questão fiscal também pesam sobre o juro brasileiro. “Devemos lembrar que, além das questões de inflação, há também receio sobre a credibilidade da âncora fiscal, o que faz com que o investidor cobre um rendimento ainda maior para aplicar no País”, explica.
O juro do Tesouro IPCA vai aumentar?
A analista de renda fixa da XP Investimentos Mayara Rodrigues diz ser muito difícil cravar para onde vão os juros dos títulos atrelados à inflação. Ela lembra que esses investimentos da renda fixa tiveram alta em suas taxas ao longo do ano e que o patamar de 6% ao ano já pode ser considerado raro. “Já estamos em um momento de exceção, visto que juros reais acima de 6% ao ano são difíceis de serem encontrados pelo mundo. É possível que as taxas subam para 7% ao ano? Sim, é possível, mas não é nada concreto”, diz.
Silvestre, da Levante, lembra que se o mercado perder toda a credibilidade no arcabouço fiscal, as taxas tendem a superar os 7% ao ano. No entanto, as chances disso acontecer ainda são remotas, visto que o governo vem tentando compensar os gastos com aumento da arrecadação. “Precisaríamos ter uma grande deterioração das contas públicas para o Tesouro IPCA pagar 7% ao ano de juro real”, pontua Silvestre.
Ele diz que a taxa de 6% ao ano é muito elevada e reflete o temor do mercado com o Brasil. Ainda assim, o especialista da Levante relata que, se ao longo do ano o Banco Central cortar juros com as expectativas de inflação ainda elevadas, a tendência é que o mercado passe a precificar um Tesouro IPCA acima do estimado. “Se esse corte de juros com inflação elevada acontecer, o Banco Central tende a perder sua credibilidade, causando aumentos na curva de juros dos títulos do Tesouro IPCA. Mas vale destacar que esse não é o nosso cenário base”, argumenta Silvestre.
Ou seja, para o analista, as chances dos juros reais irem para o patamar de 7% ao ano são remotas.
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Na mesma linha de pensamento, Maria Luisa Nepomuceno, da Nord, diz acreditar que os juros tendem a recuar para a casa dos 5% ao ano à medida que o governo resolver as questões fiscais e o Fed sinalizar que o corte de juros está próximo. “O investidor deve acompanhar os dados de inflação, mercado de trabalho e crescimento econômico, que saem recorrentemente. Para os juros recuarem nos EUA, os dados de inflação e emprego precisam desacelerar. O mercado espera que isso deva acontecer ao longo do ano, mas vale lembrar que esses números sempre podem mudar”, afirma.
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Com a redução dos juros nos EUA, a expectativa é que as taxas também recuem no Brasil. A analista da Nord estima que a Selic deve encerrar 2024 em 10% ao ano – o último Boletim Focus, da segunda-feira (3), aponta um consenso do mercado em 10,25% ao ano. É justamente essas reduções de juros no Brasil e nos EUA que fazem a analista estimar que é provável que os juros caiam para 5% ao ano ao invés de subirem para 7% ao ano.
É hora de comprar títulos do Tesouro IPCA?
Se o consenso dos especialistas é de que a taxa está atrativa e que há uma maior probabilidade do juro real ir da faixa dos 6% ao ano para 5% ao ano do que se movimentar para cima, a recomendação de todos os analistas segue na linha do aporte no Tesouro IPCA. Simone Albertoni, especialista em investimentos na Ágora Investimentos, afirma que em um período longo os títulos atrelados à inflação têm se mostrado mais eficientes comparando com outros índices.
A analista diz que em um levantamento recente feito pela corretora, o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) –parâmetro para meedir a rentabilidade da renda fixa – entregou retorno de IPCA+ 3,16% anualmente nos últimos 10 anos, enquanto o Ibovespa retornou IPCA + 4,06% ao ano no mesmo período.
“Ou seja, até comparando com outros índices, os juros reais acima de 6% são atrativos para prazos longos e são importantes indexadores para compor uma carteira de investimentos, ajudando a diversificar, dentro de cada perfil de investidor”, diz Simone Albertoni, que recomenda a compra dos títulos do Tesouro Direto indexados à inflação.
O analista da Levante também recomenda a compra dos títulos do Tesouro indexados à inflação. Ele reconhece que existe a possibilidade de os juros irem para 7% ao ano, mas como esse não é o cenário provável, ele estima que o investidor não deve perder a oportunidade atual e garantir um rendimento de 6% ao ano de juro real.
Já a analista da XP aponta que o investidor deve procurar o título do Tesouro com o menor risco. Atualmente, o Tesouro Direto possui seis títulos Tesouro IPCA disponíveis para negociação. São eles: Tesouro IPCA + 2029, Tesouro IPCA + 2035, Tesouro IPCA + 2035 com juros semestrais, Tesouro IPCA + 2040 com juros semestrais, Tesouro IPCA + 2045 e Tesouro IPCA + 2055 com juros semestrais. Os títulos de juros semestrais pagam a cada seis meses e não apenas no prazo de vencimento.
“Entre esses seis títulos, vejo o Tesouro IPCA + 2029 como a melhor alternativa para o investidor. Ele tem o vencimento mais próximo, reduzindo os riscos da marcação a mercado e combina a grande rentabilidade de um juro real de 6% ao ano para os próximos 5 anos. Esse rendimento real com risco de crédito zero é muito difícil de se encontrar”, diz Rodrigues.
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