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- Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3) subiram no mês de agosto
- Esse bom desempenho das companhias em agosto animou os investidores. Será que finalmente é o início de uma recuperação estrutural das varejistas?
- Apesar da alta recente, analistas divergem sobre o momento ideal de voltar a investir nos papéis
O combo de juros e inflação em alta atingiu em cheio o setor varejista da Bolsa, em especial as companhias voltadas ao comércio de produtos não essenciais, como eletrodomésticos e vestuário.
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Com as pessoas consumindo menos pela perda do poder de compra, os resultados das principais companhias de comércio cíclico do Ibovespa acabam sendo impactados. É o caso de Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3). Cada uma delas cai, em média, 70% de março de 2021, quando o Banco Central passou a subir juros no Brasil, até esta terça-feira (30).
As empresas Soma (SOMA3), Lojas Renner (LREN3) e Petz (PETZ3) também fazem parte do segmento de comércio cíclico, mas apresentaram mais resiliência. As quedas destas companhias, desde março de 2021, foram de 0,52%, 17% e 50%, respectivamente.
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No período, a taxa básica de juros (Selic) saiu de 2% para 13,75% ao ano, enquanto a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou 14,04%.
Contudo, em agosto as empresas voltaram a se destacar na Bolsa. De acordo com levantamento feito por Matheus Spina, analista da TC/Economatica, as empresas citadas acima apresentam fortes altas nos últimos 30 dias.
O principal destaque ficou com MGLU3, que acumulou uma valorização de 74,81%, a maior entre os 90 ativos que compõem o Ibovespa. VIIA3, SOMA3 e AMER3 também registraram altas de dois dígitos no mês, de 35%, 31,17% e 21,71%, respectivamente.
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Esse bom desempenho das companhias em agosto animou os investidores. Será que finalmente é o início de uma recuperação estrutural das varejistas?
E agora?
Para Flávia Meireles, analista da Ágora Investimentos, a resposta ainda é negativa. A especialista acredita que a alta nas ações de varejo, principalmente no e-commerce, ocorreu em função de um movimento técnico: os investidores migraram de papéis que já subiram muito para outros mais descontados na bolsa.
Ainda que o fim do ciclo de alta da Selic possa estar próximo e e a deflação tenha sido recorde em julho, o que pode se repetir em agosto, Meireles acredita que é cedo para apostar novamente no varejo. “Essas ações caíram mais do que deveriam cair, ficaram muito baratas. Mas por fundamento não vimos nenhuma melhora que justifique uma recuperação sustentada”, afirma Meireles. “Não acredito que essa alta continuará em setembro. Foi um movimento técnico, um ajuste”, complementa.
A analista da Ágora ressalta que historicamente os papéis de companhias de varejo seguem de perto as elevações e cortes de juros e não costumam se antecipar a essas decisões. Isto é, de incorporar no preço expectativas futuras de melhora nas condições econômicas.
Portanto, somente as ‘perspectivas’ de fim das altas de juros e de inflação mais controlada não seriam o suficiente, na visão dela, para dar início a uma recuperação sustentável dos papéis. Em especial das varejistas de produtos com tíquetes altos (eletrodomésticos e eletroeletrônicos), como Magazine Luiza e Via, mais sensíveis às condições de crédito.
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“Ainda temos uma taxa de juros alta. Isso pesa no crédito ao consumidor e no resultado final dessas empresas. A inflação, por mais que esteja recuando, ainda está em um nível que corrói o poder de compra do consumidor e também afeta os resultados das varejistas”, pontua a analista da Ágora.
Dentro do segmento de consumo cíclico, as únicas recomendações de compra de Meireles são em Lojas Renner (LREN3) e Arezzo (ARZZ3). Ambas tiveram bons resultados no 2° trimestre deste ano, além de terem boas gestões e serem pouco endividadas, de acordo com a analista.
Em produtos essenciais, o atacadista Assai (ASAI3) também é recomendação, pela migração de consumidores dos supermercados para os atacarejos e a capacidade de repassar a inflação. “Só acreditamos que o varejo vai andar de forma consistente quando começarmos a ver os cortes na Selic, o que esperamos para o 2° semestre de 2023. Não esperamos ter um ponto de entrada este ano ainda”, diz.
Danniela Eiger, head de Varejo da XP, também compartilha dessa maior cautela em relação ao varejo. A especialista vê sinais de melhora no cenário macroeconômico com o possível fim do aperto monetário e dados deflacionários, além da possibilidade de as varejistas se beneficiarem do período de Copa do Mundo, quando muitos torcedores compram novos aparelhos de televisão, por exemplo.
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“A gente enxerga muita competição no setor e também um cenário ainda desafiador no ponto de vista de renda. Não conseguimos ficar tão animados (com o varejo), por isso mantemos visão neutra para o setor”, afirma Eiger.
Boas perspectivas
Mas há quem já veja um ponto interessante de entrada nos papéis de varejistas. A Ativa Investimentos possui recomendação de compra para o Magazine Luiza. O preço-alvo é R$ 6,20, mais de 37,4% de potencial de alta em relação ao pregão da última terça-feira (30), em que o papel fechou o dia a R$ 4,51.
A Ativa também recomenda a compra dos papéis das Americanas, com preço-alvo de R$ 21,30, uma valorização de 25% sobre o valor de fechamento da ação nesta terça-feira (R$ 17,04).
Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa, afirma que as varejistas foram ‘massacradas’ pela piora das perspectivas econômicas no início deste ano, quando as expectativas eram de juros mais altos no mundo e crescimento menor.
“O que mudou é que de repente ficamos com valuation muito baixo, os resultados vieram e não foi nenhum desastre. Essa história de que o Magazine Luiza iria quebrar era uma bobagem, a empresa tem capacidade de geração de caixa e risco nenhum de quebrar agora”, afirma Serra.
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Serra também é contra a tese de que o varejo não incorpora expectativas futuras para os juros no preço das ações. “Tivemos uma reprecificação de risco de modo geral. Agora temos uma percepção de crescimento do Brasil melhor. Já sabemos até onde vai o ciclo de juros e que ano que vem os cortes devem começar. Pelo simples fato de sabermos, o mercado já antecipa. Não esperamos os juros caírem para comprar as ações que se beneficiam disso. A gente compra antes”, afirma Serra.
Matheus Spiess, analista da Empiricus, vê espaço para varejo na carteira, apesar das incertezas que pairam sobre essas companhias. Para setembro, o cenário se torna ainda mais complexo com a proximidade das eleições presidenciais – um possível impeditivo para a continuidade da recuperação vista em agosto, segundo o especialista.
O cenário internacional também pode pesar contra o setor no próximo mês. De acordo com Spiess, setembro costuma ser historicamente negativo para as bolsas americanas, o que pode impactar o desempenho do mercado doméstico. E o aperto monetário nos EUA e Europa ainda tem um desenrolar incerto.
“Temos dois desafios em setembro para o ambiente sistêmico (relacionado ao macro) e muito da alta recente é derivada de fatores sistêmicos”, afirma Spiess. “Existe, sim, a continuidade de movimento de alta no varejo, mas temos que deixar claro esses riscos.”
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Considerando esse contexto, Spiess prefere nomes de maior ‘qualidade’ e que promovam uma diversificação dentro do setor. Para ele, uma das grandes oportunidades são as Lojas Quero-Quero (LJQQ3), que vendem materiais de construção, eletrodomésticos e móveis no interior do Brasil. Para ele, quando os juros caírem, o setor de incorporação irá se beneficiar e o investidor poderá ter retorno ao se posicionar na companhia.
Outra recomendação da Empiricus é a calçadista Arezzo, também citada pela Ágora Investimentos. “Entrega resultados, cresce bastante, tem uma gestão excelente”, afirma Spiess. “Se formos pegar alguns nomes mais marginalizados, gostamos em menor proporção de Lojas Marisa, que começaram a apresentar resultados cada vez mais robustos após anos de dificuldades, Guararapes e Centauro.”