- A Ambev (ABEV3) divulgou nesta quarta-feira (2) um lucro líquido de R$ 5,083 bilhões, acima das expectativas do mercado
- Ainda assim, analistas apontam que resultados foram apoiados pela Copa do Mundo do Catar, e que o cenário pode ser mais difícil para a companhia em 2023
- Proximidade da Ambev com o rombo na Americanas, já que ambas têm os mesmos sócios controladores, deu espaço a preocupações com a qualidade dos números da fabricante de cerveja
A Ambev (ABEV3) divulgou na manhã desta quinta-feira (2) o balanço financeiro referente ao quarto trimestre de 2022 (4T22) da companhia, apresentando um lucro líquido de R$ 5,083 bilhões. O resultado não só representa uma alta significativa de 35,7% em relação ao mesmo período de 2021, como veio bem acima do que o mercado esperava dos números.
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Como contamos nesta reportagem, as expectativas para o trimestre da companhia não eram tão positivas. Entendia-se que a eliminação precoce do Brasil na Copa do Mundo do Catar e um clima mais chuvoso no País durante a primavera pudessem afetar o consumo de cerveja no País, reduzindo as margens da companhia.
No entanto, os resultados mostraram que os “volumes de Cerveja Brasil” (forma que a Ambev utiliza para denominar a demanda nacional) atingiram o maior patamar da história da empresa no 4T22, ajudando a sustentar os resultados mesmo frente ao cenário inflacionário de países importantes para os números da companhia, como Argentina e Chile.
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O Itaú BBA considerou que, em linhas gerais, a análise financeira da Ambev foi positiva. Em relatório, o banco destaca que a receita líquida ficou 24% acima das estimativas. O resultado acima do esperado estaria ligado, entre outros fatores, à recuperação de interrupções na cadeia de suprimentos.
Ainda assim, o Itaú diz que os resultados ficaram próximos da margem de consenso. Ao apontar incertezas para os próximos períodos, o relatório do Itaú mantém recomendação neutra para a ABEV3.
“No geral, a análise financeira é positiva, mas é necessário avaliar a tendência de expansão das margens da empresa antes de fazer uma recomendação de compra ou venda das ações da Ambev”, diz.
Veja mais detalhes do balanço nesta reportagem.
Americanas deu lugar a outras preocupações
A expectativa pelos números da Ambev estava no radar desde meados de janeiro, quando o mercado tomou conhecimento de um rombo bilionário nos balanços financeiros da Americanas (AMER3), que obrigaram a varejista a entrar em recuperação judicial. Relembre a cobertura completa do caso aqui.
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Apesar de serem empresas com modelos de negócios diferentes e descorrelacionados, ambas têm os mesmos acionistas majoritários: o trio de bilionários composto por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Por causa disso, o rombo na Americanas acabou respingando certa desconfiança nos números da Ambev.
O tema, porém, não foi mencionado no balanço, como aconteceu com outras companhias da bolsa brasileira, nem em relatórios e análises de bancos e corretoras. “O resultado caiu como uma luva para abrandar a percepção negativa que o mercado vinha imputando a companhia devido aos seus controladores estarem também envolvidos no emblemático case de Americanas”, afirma Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos.
Quase dois meses após a notícia da Americanas estourar, o tema não aparecer nas análises do mercado pode ser um sinal de que tenha causado apenas uma volatilidade passageira nos ativos da fabricante de bebidas.
Para João Lucas Tonello, analista da Benndorf Research, a relação entre a Ambev e o rombo na Americanas está “bem separada por enquanto”. Ainda assim, não vê muitos motivos para estar otimista o desempenho operacional da companhia. “Não vemos melhora na percepção dos investidores nem pelo lado operacional, nem pela relação de seus controladores com a Americanas”, diz.
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Por ora, a Ambev parece ter outras questões para se preocupar. O BTG Pactual classificou os resultados do 4T22 como fracos, ainda que o lucro apresentado pela companhia tenha superado em 19% as expectativas iniciais do banco.
Os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin apontam, em relatório, que o lucro foi impulsionado por fatores que provavelmente não devem se perpetuar. “Os volumes de cerveja cresceram 4% ante um ano, abaixo das expectativas mais baixas, sugerindo que os ganhos de participação de mercado foram interrompidos, enquanto preços abaixo do esperado levaram a uma perda de 12% do Ebitda.”
O BTG mantém a recomendação neutra para a ABEV3, com preço-alvo de R$ 16, com tendência de rebaixamento. “Acreditamos que a qualidade dos ganhos fracos, os riscos da reforma tributária e uma contribuição crescente da Argentina apoiam nossa visão de que a história de rebaixamento continuará”, dizem Duarte e Brustolin.
A Genial Investimentos também tem uma visão mais negativa para o cenário da Ambev em 2023. Na corretora, antes da divulgação dos resultados, a recomendação já era de venda dos ativos, com preço-alvo de R$ 13.
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“Seguimos pessimistas com Ambev, dado que, as operações internacionais da companhia, a alta inflação global e o preço das commodities que compõem parte relevante dos custos de produção da companhia em alta, são fatores que nos levam a ficarmos cautelosos com as ações da companhia”, destacam em relatório os analistas Lucas Bonventi, Antonio Cozman e Adriano Castro.
Às 11h35 desta quarta-feira, os papéis da Ambev caíam 2,08% cotados a R$ 13,19.
*Colaborou Luiz Araújo, especial para o E-Investidor