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Mercado

Americanas amplia desconfiança com a 3G Capital e coloca Ambev no radar

Crise aumenta a desconfiança do mercado com o trio de empresários bilionários capitaneado por Jorge Paulo Lemann

Americanas amplia desconfiança com a 3G Capital e coloca Ambev no radar
Receio do mercado tem a ver com histórico da 3G Capital, do bilionário Jorge Paulo Lemann. (Foto: Lucy Nicholson/Reuters)
  • O rombo bilionário encontrado nas Americanas está criando uma desconfiança no mercado com as empresas controladas pelo 3G Capital, dos bilionários Lemann, Sicupira e Telles
  • Além da preocupação com histórico do grupo, mercado teme que sócios da 3G tenham que vender ações da Ambev para fazer aporte de capital na Americanas

Nesta quinta-feira (19), a Americanas (AMER3) entrou com pedido de recuperação judicial na Quarta Vara Empresarial do Rio de Janeiro. No total, as dívidas da varejista somam aproximadamente R$ 43 bilhões.

O rombo bilionário nos balanços financeiros vem abalando o mercado brasileiro desde que foi divulgado no último dia 11. De lá para cá, o CEO da varejista renunciou, a companhia foi parar na Justiça, arrumou uma briga com o BTG, as ações despencaram na Bolsa e sobrou até para quem parecia não ter muito a ver com a história: a Ambev (ABEV3). Nesta reportagem, reunimos tudo o que o investidor precisa saber sobre o caso.

Desde que a crise na Americanas começou, as ações da Ambev caíram 7,6% entre o dia 11 e a segunda-feira (16), pregão em que os papéis desvalorizaram 4,9%. Na terça-feira (17), conseguiram se recuperar com uma alta de 5%.

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A volatilidade nos ativos ilustra uma desconfiança do mercado não com a companhia, mas com seu controlador. Explicamos por que o caso Americanas está repercutindo na Ambev a partir de dois pontos principais.

3G Capital, a ‘dona’ de ABEV3 e AMER3

A Ambev pertence à AB Inbev, empresa líder mundial no mercado de bebidas que também tem como acionista a companhia de private equity 3G Capital, fundada pelos bilionários brasileiros  Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira. Os três empresários adquiriram a Americanas em 1982 e são os homens mais ricos do Brasil, cuja fortuna somada ultrapassa os US$ 35 bilhões, segundo a Forbes.

Uma das maiores preocupações do mercado, e que vem sendo muito comentada nos bastidores, é a possibilidade de que a crise nas Americanas acabe respingando na fabricante de bebidas. Não por uma relação direta entre os negócios das duas empresas, mas por um sentimento de desconfiança com com o trio fundador  da 3G Capital que ganha força desde as últimas notícias sobre o rombo na varejista.

Mario Goulart, analista de investimentos e criador do canal no Youtube “O Analisto”, destaca que o caso da Americanas não é a primeira “inconsistência contábil” encontrada em empresas nas quais o grupo de bilionários tem grande participação. “Começa a pegar na credibilidade da companhia. O controlador é o mesmo e já aconteceram três episódios de problemas de ‘contabilidade criativa’, vamos chamar assim, em relação às empresas do grupo do trio maravilha Lemann, Sicupira e Telles”, diz.

O primeiro deles ocorreu em 2014, quando a Cosan (CSAN3) decidiu comprar a empresa brasileira América Latina Logística (ALL), que acabou sendo integrada à Rumo, o braço de logística do grupo Cosan.

Na época, ao assumir a ALL, a Cosan se viu obrigada a republicar os últimos balanços da companhia que recém havia adquirido, pois foram encontradas inconsistências contábeis nos números. Lemann, Telles e Sicupira foram um dos principais acionistas da ALL por meio da GP Investments, private equity fundada e controlada pelo trio até 2003.

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Anos depois, em 2019, foi a vez da Kraft Heinz, gigante global do setor de alimentos controlada pela 3G Capital, encontrar erros contábeis cometidos por três anos em seus balanços financeiros. Com o escândalo recente na Americanas, a AB Inbev se tornou uma das poucas entre as grandes companhias do grupo que permanece “intocada”.

“Existe uma preocupação no mercado, que eu acho que é legítima, de que se a Ambev for olhada com lupa podemos achar alguma coisa errada por lá”, explica Mario Goulart.

O analista ressalta, no entanto, que o modelo de negócios da empresa de bebidas é mais estruturado do que o da Americanas, com margens maiores e um market share (fatia de mercado) consolidado. A desconfiança que vem rondando a Ambev seria, então, mais relacionada ao próprio trabalho da 3G Capital do que propriamente aos números da empresa. “Talvez nem tenha alguma coisa ruim ali, mas daqui para frente vai haver desconfiança com tudo que vier da 3G Capital”, diz Goulart.

Com a temporada de divulgação de balanços prestes a começar, o mercado ficará de olho nos números apresentados pela Ambev. “Os resultados do quarto trimestre de 2022 e o fechado do ano das empresas do grupo 3G vão ser observados com lupa para ver se não tem nenhum tipo de informação questionável”, destaca Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. “As perguntas dos analistas vão ser maiores do que em outros trimestres, mas por enquanto entendo que é só uma desconfiança”.

Os resultados das companhias da B3 referentes ao período de outubro a dezembro de 2022 começam a ser divulgados na última semana de janeiro. O balanço da Ambev, no entanto, está previsto apenas para o dia 02 de março.

Aporte em AMER3 com venda de ABEV3

Mostramos nesta reportagem que a recuperação da Americanas passará por alguns pontos importantes. Enquanto a varejista ganhou na Justiça um prazo de 30 dias para decidir se opta ou não pela recuperação judicial, caminho que as fontes acreditam que a companhia não escapará, os acionistas de referência tentam negociar com bancos um valor de um aporte para ajudar as contas.

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Se confirmado, esse aporte de capital provavelmente aconteceria por meio de um follow on, a oferta subsequente de ações para que o trio de bilionários possa comprar novos papéis da Americanas e injetar recursos na companhia. Para financiar essa operação, especula-se que poderiam vender parte de suas posições em ABEV3.

“O mercado está achando que uma das formas dos controladores aportarem dinheiro para recuperar a Americanas é vender as ações que têm da Ambev. É uma transação privada de Sicupira, Lemann e Telles, mas que poderia causar uma pressão vendedora durante um tempo no ativo”, afirma Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos e pós-graduado em análise financeira.

O especialista destaca, no entanto, que seria uma pressão apenas de curto prazo, sem risco de grandes prejuízos para a Ambev em um horizonte mais longo. “O aporte de capital, que ainda não é certo, não necessariamente vai vir das ações da Ambev. Eles podem vender ações de outras empresas ou até mesmo pegar dinheiro que têm em caixa”, diz Brasil.

Veja também: empregados da Eletrobras (ELET6) creem que crise nas Americanas pode impactar empresa.

O que fazer com as ações?

A desconfiança com a 3G Capital, por hora, não precisa alterar as estratégias de investimento de quem tem as ações da Ambev na carteira. “Para quem está posicionado em ABEV3, acho que segue o baile. Não tem que se preocupar absolutamente com nada”, afirma Ricardo Brasil.

João Abdouni, analista da Inv, tem uma visão oposta: quem já tem as ações e está inseguro com a possibilidade de que a história de Americanas se repita na Ambev pode aproveitar a brecha e realizar lucros. “A Ambev está negociando a 17 vezes o lucro, cabe vender”, diz, se referindo à métrica preço sobre lucro (P/L).

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Nesta semana, o Bank of America (BofA) divulgou um relatório dizendo que vê números melhores para a companhia de bebidas em 2023 impulsionados pela desaceleração da inflação no Brasil e na América Central. O banco mantém a recomendação neutra para os papéis, com preço-alvo de R$ 16,5; entenda o porquê do posicionamento.

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