- Desde que atingiu seu patamar mais baixo na crise, no dia 23 de março, Ibovespa já se valorizou 61,79%
- Selic baixa, renda fixa menos atrativa e perspectivas por reformas e privatizações justificam bom momento da bolsa brasileira, segundo analistas
- Apesar disso, bolsa não está livre de riscos e pode voltar a cair se expectativas forem frustradas
Depois de cair 45,03% e atingir seu pior momento na crise da pandemia da covid-19, no dia 23 de março, o Ibovespa já se valorizou 62,73%, aos 103.444,48 mil pontos – até o fechamento desta segunda-feira (10). Porém, como as perspectivas para economia brasileira ainda não são das melhores, voltou à tona a discussão sobre uma possível bolha na bolsa de valores.
Leia também
Para efeito de comparação, enquanto o Ibovespa teve alta 30,18% de abril a junho, o Ministério da Economia espera uma queda de 7,5% no Produto Interno Bruto (PIB) no período ante o primeiro trimestre deste ano, que foi negativo em 1,5% em comparação com o quarto trimestre de 2019.
Dados prévios do Indicador de Atividade Econômica (IAE) de junho, divulgado Fundação Getulio Vargas (FGV), mostram um cenário ainda mais tenebroso, com o PIB encolhendo 11,2% no segundo trimestre em comparação com os primeiros três meses do ano.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Se de fato houver uma bolha no mercado financeiro, o risco para os investidores é enorme. Neste caso, os atuais preços dos papéis estariam supervalorizados e seriam corrigidos em algum momento futuro, gerando prejuízo a quem está “comprado” na bolsa.
Mas Gilson Finkelsztain, CEO da B3, rechaça essa teoria. Em entrevista recente organizada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o executivo garantiu que há fundamentos que sustentam a alta do Ibovespa mesmo com a forte recessão da economia real.
Finkelsztain lembrou que muitas empresas cujas ações estão em alta hoje são de setores que de alguma maneira até se beneficiaram com o atual cenário, como o e-commerce.“Não vejo os preços de ativos no Brasil refletindo uma irracionalidade”, disse.
Os especialistas do mercado consultados pelo E-Investidor também não acreditam na hipótese de uma bolha na B3. O primeiro argumento dos analistas é que o principal índice da bolsa não está em alta no ano, e sim em queda de 10,55% no agregado desde 1º de janeiro.
Publicidade
“O Ibovespa estava na casa dos 120 mil pontos no começo do ano e os quatro meses de alta não foram suficientes para recompor as perdas”, afirma Henrique Castro, professor da Escola de Economia de São Paulo (FGV EESP).
Juros baixo e perspectiva positiva
Outro motivo que sustenta a forte valorização da B3, segundo os especialistas, são os recentes cortes na Selic, que a levaram a taxa básica de juros para 2% ao ano, menor nível da história do País. Após a 9ª redução seguida, o retorno real da poupança ao ano passou de vez a ser negativo. A renda fixa também ficou menos atrativa, fazendo muitos investidores migrarem para a Bolsa.
Segundo dados da B3, mais de 1,143 milhão de CPFs de pessoas físicas já haviam entrado na bolsa neste ano até o dia 31 de julho. No total, a bolsa brasileira conta com 2.824.239 pessoas físicas e
30.004 pessoas jurídicas, somando 2.854.243 de CPFs cadastrados.
“Uma parcela importante de pessoas foi para o mercado de capitais em busca de melhores oportunidades e esse movimento leva os preços para cima”, explica André Galhardo, economista-chefe da Análise Econômica Consultoria.
Outra razão que sustenta o argumento é a de que a Bolsa não reflete o presente, e sim o futuro. E as perspectivas são positivas. “O Ibovespa enxerga lá na frente e mostra que se acredita que o pior já ficou para trás”, afirma o economista-chefe da Análise Econômica Consultoria.
Publicidade
Castro, da FGV, pontua que a visão da B3 é pautada em notícias recentes, que indicam que não ocorrerá uma segunda onda de covid-19. Além disso, a possibilidade de uma vacina contra a doença ficar pronta antes do previsto e a volta do debate sobre reformas e privatizações no País também justificam o momento de alta. “Há expectativa de que as coisas vão melhorar”, diz o professor. “Bolha quer dizer que a alta é irracional e não é isso que acontece. Há fundamentos para a alta mesmo com o descasamento com a economia”, afirma Castro.
Bolsa não está livre de riscos
Mesmo que a valorização da B3 não se caracterize como uma bolha, os analistas salientam que ainda há riscos no mercado e o Ibovespa pode voltar a cair. Apesar disso, os especialistas frisam que esta possível queda não significará que havia uma bolha, apenas que o ânimo não foi correspondido. “Se cair, é por uma questão de frustração de expectativa”, afirma Galhardo.
Castro esclarece que, se houver uma segunda onda de covid-19 ou as reformas e a vacina demorarem para serem concretizadas, ou até mesmo não acontecerem, é provável que os preços caiam novamente. “Uma eventual volta de crise pode destruir a euforia do mercado e trazer grandes perdas”, diz o professor da FGV.
Por isso, os analistas dizem que é de suma importância os investidores terem um portfólio diversificado para, além de buscar uma boa rentabilidade, também se proteger de eventualidades. “As incertezas são muito elevadas, é uma doença que ainda não tem cura e ninguém sabe o que pode acontecer”, comenta Castro.
Nossos editores indicam este conteúdo para você investir cada vez melhor:
Paulo Bilyk: “Quem está comprado em 4 ou 5 ações corre grande risco de perder tudo”
Publicidade