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- O mercado reagiu de forma negativa diante da postura contrária do presidente Lula sobre o processo de privatização de empresas estatais
- A reação também afetou as ações da Eletrobras diante de uma alerta sobre uma possível tentativa de reestatização da empresa
- No entanto, na visão de analistas, a possibilidade segue baixa em virtude do custo político e econômico para resgatar o controle da companhia
Em seu primeiro dia de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou claro para o mercado ser contra a privatização de empresas estatais. Ainda no domingo (1), logo após a posse, o atual chefe do Planalto autorizou os seus ministros a retirarem a Petrobras, os Correios e a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) do processo de privatização.
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A decisão fez com que o Ibovespa mergulhasse em uma queda de 3% no primeiro pregão do ano. A desvalorização prosseguiu até terça-feira (3) com um tombo de 2,13%.
O viés negativo do mercado afetou também os papéis da Eletrobras (ELET6/ELET3) que foi privatizada em junho do ano passado. Nos dois primeiros pregões, as ações preferenciais da companhia de energia elétrica encerraram uma desvalorização de 3,63% e 1,43%, respectivamente, nos dias 2 e 3 deste mês.
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As perdas só cessaram quando a companhia anunciou a aprovação do programa de recompra de ações na quarta-feira (4). A notícia contribuiu para que as ações reagissem e encerrassem com altas de 2,61% (ELET6) e de 2,69% (ELET3). Já nesta quinta-feira (5), o desempenho voltou a ser negativo para as preferenciais com uma queda de 0,56% (R$ 42,2), enquanto as ordinárias com uma leve alta de 0,10% (R$ 41).
Apesar da variação dos preços, as primeiras ações do novo governo reacenderam o alerta entre os investidores sobre o futuro da companhia. Desde as eleições, Lula se mostrou contrário à privatização da maior empresa de energia elétrica da América Latina. Em seu plano de governo, quando ainda era candidato, havia demonstrado a necessidade de “recuperar o seu papel como patrimônio do povo, preservando nossa soberania energética, e viabilizando programas como o Luz para Todos”.
No entanto, o caminho para alcançar esse objetivo almejado pela atual gestão segue cheio de barreiras políticas e econômicas com custos elevados. “Esse fato não exclui tentativas de ‘reestatização’ da companhia. Apesar da oposição à privatização, reverter a oferta de ações que tirou a União do comando da Eletrobras teria um alto custo político e fiscal, tornando esse risco muito baixo”, afirma Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.
A perspectiva se baseia no estatuto da companhia que estabelece à União apenas 10% do poder “político” nas decisões da empresa, mesmo tendo 40,3% das ações. Agora, caso haja uma intenção de aumentar sua posição na empresa ao ponto de resgatar o controle estatal, o governo teria que desembolsar um valor equivalente a R$ 300 bilhões, de acordo com estimativas do mercado, para conseguir ter mais da metade das ações “em mãos”.
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Isso porque o atual estatuto estabelece que qualquer comprador interessado em elevar a sua participação acima de 50% + 1 deve pagar um prêmio de 200% sobre a maior cotação do papel nos últimos 504 pregões. “Isso implicaria em um investimento alto. Além disso, o governo teria que ter a aprovação do Congresso para a reestatização da Eletrobras. Então, o custo da União seria enorme”, diz Leonardo Piovesan, analista fundamentalista da Quantzed.
A outra opção viável representaria um trabalho mais árduo ao governo porque teria que convencer mais da metade dos acionistas a concordarem com possíveis alterações no estatuto da empresa, ao ponto de aumentar o seu poder de influência na companhia. “Teria que ser feita uma Assembleia Geral e o governo precisaria convencer mais da metade de todos os acionistas a votar a favor da alteração. Imagine convencer mais da metade dos acionistas? É um quase impossível”, diz Juliana Raffo, coordenadora da área cível e de contratos públicos do Briganti Advogados.
Já no campo político, o desgaste seria na credibilidade do atual governo que já enfrenta resistência do mercado diante das incertezas no campo fiscal com a ausência de uma definição sobre o novo arcabouço fiscal e com a aprovação da PEC da transição que eleva os gastos públicos neste ano.
“(A decisão) não vai afetar apenas o investidor brasileiro. O investidor internacional também será afetado e o governo sabe da importância do investidor internacional no mercado brasileiro”, diz Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais. “Então, essa tentativa (de reestatização) pode causar uma insegurança jurídica. Se tomasse esse caminho, o governo estaria declarando “guerra” ao mercado”, afirma.
Qual é a recomendação?
O processo de privatização da Eletrobras chegou ao fim no dia 13 de junho do ano passado. De lá para cá, os investidores seguem atentos às mudanças que devem ocorrer com a nova gestão da companhia. A Ágora Investimentos, por exemplo, enxerga como um preço justo de R$ 57 para o papel (tanto a PN quanto a ON) da companhia. Desta forma, as ações teriam ainda um potencial de crescimento a ser conquistado nos próximos meses.
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A perspectiva da corretora se baseia na projeção de crescimento de 33% ao ano do EBITDA ajustado da companhia nos anos de 2023 e 2024. Caso se concretize, a Ágora ressalta que seria o maior aumento da sua cobertura do setor elétrico. “Podemos nos surpreender com a velocidade da reestruturação, pois a administração da Eletrobras espera atingir os níveis operacionais da empresa privada até o final de 2023”, justifica a corretora a sua recomendação de compra para o papel.
O BTG Pactual também possui boas perspectivas para a ação da Eletrobras e recomenda a compra. De acordo com os analistas da instituição financeira, o setor em que a empresa está inserida oferece previsibilidade de receita e resiliência para os investidores, principalmente, em momentos de volatilidade.
Além disso, segundo os especialistas, a nova gestão da companhia acena para o mercado mudanças que podem melhorar o fluxo de caixa nos próximos meses. “A empresa anunciou um programa de desligamento voluntário envolvendo 2,3 mil funcionários elegíveis em outubro, com um custo de R$ 1 bilhão e um payback de 11,2 meses, representando o início da agenda de reestruturação definidos pela gestão e aguardados com ansiedade pelo mercado”, citou o BTG em relatório.