- Balanço da GOLL4 sai dia 26 de outubro.
- Já a AZULL4 divulga relatório em 14 de novembro.
- Mercado observa sob cautela.
As companhias aéreas devem divulgar resultados pressionados no terceiro trimestre de 2023, visto que mesmo após o fim da pandemia de Covid-19 o cenário continua turbulento para o setor devido aos juros elevados tanto no Brasil quanto no exterior, o que fez encarecer as viagens locais e internacionais para o consumidor final.
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Na prática, o céu de brigadeiro não apareceu no horizonte da Gol (GOLL4) nem da Azul (AZUL4), mesmo com as operações ajustadas, corte de pessoal, redistribuição de rota e outras medidas administrativas que visavam recomposição de caixa e lucro. A primeira irá divulgar o balanço no dia 26 de outubro e a segunda, em 14 de novembro, e ambas já vinham “sangrando” desde os lockdowns implementados no período da Covid-19.
Para se ter ideia de como o setor anda de lado, o BTG Pactual (BPAC11) divulgou relatório em maio deste ano somente para atualizar o modelo de sua cobertura para o segmento. “Após grandes mudanças no setor causadas pela Covid, atualizamos nossas previsões para refletir uma recuperação gradual do tráfego, embora as empresas ainda estejam aumentando a lucratividade”, destacou.
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Os analistas Marcel Zambello, Fernanda Recchia e Lucas Marquiori escreveram que o setor aéreo sobreviveu à pior crise de todos os tempos, mas tem pouco a comemorar, pois o endividamento continua alto, o câmbio e os preços do petróleo seguem voláteis e as tensões geopolíticas estão aumentando. “Mas gostamos dos esforços das empresas para manter as operações em meio a uma redução tão drástica de volume e sua capacidade de captar recursos financeiros”, afirmam.
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A cautela que se observa por boa parte do mercado financeiro é corroborada pela própria Gol, que no dia 16 de outubro divulgou relatório estimando prejuízo líquido de R$ 0,70 por ação no terceiro trimestre. Para a margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), a aérea projeta 25%, com aumento de 10% na receita unitária total e de 8% na demanda. Já a margem unitária por passageiro esperada é 6% maior na comparação anual, com aumento de 5% na oferta.
Esses números trazem um panorama misto, ou seja, menos lucro, mas com outros indicadores reportando alta, ainda que modesta. “Esperamos um trimestre positivo para as companhias do setor aéreo, com ambas reportando aumentos de margens nas comparações trimestral e anual devido ao menor preço do combustível”, destaca a Genial Investimentos em relatório divulgado no último dia 17.
O documento, assinado pelos analistas Ygor Bastos e Bernardo Noel, também aponta uma sazonalidade mais favorável e uma manutenção de yields (rendimentos) em patamares elevados. “Com a conclusão das renegociações de dívidas, enxergamos uma redução drástica das necessidades de caixa. No entanto, seguimos cautelosos.”
Aumento da receita, e também dos custos
Para o estrategista chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, a expectativa do mercado para o terceiro trimestre das aéreas é misto, porque de um lado se verá um aumento na receita devido à elevação no número de voos domésticos, mas, por outro lado, os custos também subiram bastante no período em relação ao que foi na primeira metade do ano.
Para ilustrar a recuperação da demanda, ele cita um levantamento da Agência Nacional de Aviação Comercial (Anac) que mostra que o setor teve 82 milhões de passageiros transportados domesticamente em 2022 e 15 milhões transportados internacionalmente. “Se a gente pegar 2019, foram 95 milhões de passageiros transportados domesticamente, e 24,2 milhões transportados internacionalmente”, frisa.
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O especialista lembra, ainda, que as tarifas de viagens estão muito elevadas, principalmente quando comparadas ao período pré-pandemia, e isso afasta bastante o interesse do brasileiro em viajar para fora.
Perspectivas melhoraram, mas cautela se mantém
O analista chefe de ações do Simpla Club, Gabriel Bassotto, afirma que as perspectivas para as aéreas melhoraram e já é possível enxergar uma relação de oferta e demanda mais favorável. “Tanto para Gol quanto para Azul a demanda aumentou acima da oferta de assentos, então, consequentemente elas atingiram uma taxa de ocupação maior, na casa de 83%. Esta é uma taxa bastante atrativa”, diz.
Entretanto, pontua, há um grau de alavancagem (endividamento) muito grande, o que pode afetar o balanço das empresas e, além disso, essas companhias têm uma geração de caixa insustentável historicamente. “Então, mesmo que a gente reconheça que o ambiente está mais favorável, ainda assim a gente não tem otimismo suficiente para recomendar as ações.”
Bassoto pontua que a Simpla Club continua de fora de todas as empresas do setor. “Também tememos que uma eventual escalada na guerra ou um eventual rali no preço do petróleo possa impactar bastante as operações destas empresas”, conclui.
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