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IRB Brasil (IRBR3) despencou com relatório: Por que recomendações pesam tanto sobre os papéis?

Nem todas as ações têm a mesma sensibilidade a essas avaliações. Veja os motivos

IRB Brasil (IRBR3) despencou com relatório: Por que recomendações pesam tanto sobre os papéis?
Foto: Divulgação/Envato
  • Empresas com saúde financeira mais sustentável e de setores com expectativas mais sólidas para o futuro têm os preços menos abalados por relatórios. Já aquelas mais expostas a fatores macroeconômicos sofrem mais
  • O efeito de um relatório é mais bombástico se a empresa é acompanhada por um grande número de investidores, porque nesse caso há um efeito manada. Se a maior base de acionistas for de pessoas físicas, a volatilidade é ainda maior
  • Os analistas partem dos balanços contábeis das companhias e de informações públicas do mercado para construir suas premissas e estabelecer o preço-alvo da ação. Ainda que embasada, essa leitura é subjetiva e depende da perspectiva que a casa tem sobre a empresa e o setor

O preço das ações da resseguradora IRB Brasil (IRBR3) percorreu uma verdadeira montanha-russa na semana passada. Na segunda (5), o papel ganhou 6,92%, no embalo das boas notícias sobre a empresa nas semanas anteriores, como balanços apontando prejuízos menores que o esperado e boa perspectiva de liquidez na visão da Standard & Poor. Até que veio a terça-feira e um simples relatório do banco suíço UBS BB fez a ação desabar 17,11% em um único pregão.

Entendendo que o caminho da empresa até tornar-se lucrativa era longo, o documento trazia recomendação de venda para IRBR3 e um preço-alvo de R$ 4,60 – valor que expressava um potencial de baixa de 47% em relação ao fechamento da véspera. A volatilidade foi tão grande que as transações do dia envolvendo o papel movimentaram R$ 1,83 bilhão, mais de quatro vezes a média dos 30 dias anteriores.

No dia seguinte (7), a IRBR3 caiu mais 10,18%, e somente na quinta-feira (8) os ânimos se acalmaram. O mercado entendeu que o preço-alvo do UBS BB era muito discrepante do de outros bancos, e com isso a queda livre dos dois pregões precedentes foi corrigida: o papel terminou o dia com alta de 20,19%. Ainda assim, a ação se despediu da semana valendo 11,25% a menos.

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O caso do IRB Brasil é bem ilustrativo de como o preço das ações de uma empresa pode ser rapidamente influenciado por relatórios com recomendações de venda (ou compra) emitidos por bancos e casas de análise.

Porém, nem todas as ações sentem o baque na mesma intensidade. Entenda por que isso acontece e como o investidor pode se situar em meio a essas oscilações.

Algumas ações são muito mais sensíveis que outras

Os relatórios emitidos por instituições respeitadas como Credit Suisse, JP Morgan e o próprio UBS BB sempre terão repercussão no mercado, pela própria credibilidade que essas casas construíram ao longo do tempo.

Mas a verdade é que o impacto desses documentos sobre o preço das ações não é o mesmo para todas as empresas. Algumas são mais sensíveis às avaliações e outras, menos vulneráveis a abalos. E isso ocorre por diversas razões.

Ativos mais expostos a fatores macroeconômicos, como o câmbio, tendem a sofrer mais. Quando tais variáveis mudam, as perspectivas de setores influenciados por elas precisam ser reavaliadas.

É o que ocorreu, por exemplo, com as companhias aéreas, que têm passivos altamente dolarizados e, por isso, foram castigadas não só pela paralisação do turismo na pandemia, mas também pela desvalorização do real.

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“Os preços de GOLL4 e AZUL4 precisaram ser revistos, porque os modelos anteriores se baseavam em uma taxa de ocupação de assentos entre 70% e 90%, e ela caiu para 20%. E custos com combustível dispararam com a alta do dólar”, explica a analista Júlia Monteiro, da MyCap. “Isso alterou a capacidade de pagamento dessas empresas no curto prazo.”

Por outro lado, empresas com saúde financeira mais sustentável, ou que estejam em setores com expectativas mais sólidas para o futuro, têm seus preços menos abalados pelos relatórios.

“É o caso da Magazine Luiza, que está em um setor em franca expansão, além de ter indicadores financeiros robustos”, ilustra Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.

Pedro Lang, head de renda variável da Valor Investimentos, diz que os relatórios mais “bombásticos”, que trazem uma recomendação de preço muito distante do preço de tela da ação, sempre suscitam reações mais agressivas do mercado. Mas há outros fatores a se considerar, como a liquidez do papel.

“Uma conhecida casa de análises recomendou as ações da Cambuci S.A. e, apenas por isso, elas tiveram alta de 20%. Se fosse com a Vale, o preço do papel não teria sofrido variação”, diz.

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As crowded positions, empresas que todo mundo está olhando e acompanhando, sofrem oscilações imediatas a cada novo relatório, porque há um efeito manada de investidores. E se a maior parte deles for pessoa física, como é o caso do IRB Brasil, o choque é ainda maior.

“Qualquer ruído gera um ‘ai meu Deus, tô pobre! ai meu Deus, tô rico!’. Quanto mais pessoas físicas há na base de acionistas, mais volátil se torna o papel”, completa Lang.

Quando e por que empresas e ações são reavaliadas

A rigor, as empresas são reavaliadas a cada três meses, depois que publicam os resultados do trimestre anterior. A partir dos balanços, os analistas fazem uma nova leitura da companhia, comparando-a com a posição adotada no relatório anterior e, se for o caso, alteram a recomendação para o papel.

Na prática, porém, os relatórios acabam não se prendendo apenas ao calendário de balanços.

“Ocorrendo mudanças que impactam a tese de investimento da empresa, sejam por fatores ligados à própria companhia, como reduções de custos, sejam condições macroeconômicas, como a variação do câmbio, as estimativas da empresa podem ser revistas, por meio de novos relatórios”, diz Ricardo França, analista da Ágora Investimentos.

Simone Pasianotto destaca que a avaliação de empresas, longe de ser uma ciência exata, comporta muitas variáveis subjetivas. A conduta da empresa não é analisada sob uma ótica cartesiana, mas sim pelos olhos de uma pessoa, o analista.

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“A avaliação vai depender da linha de compreensão de mercado que aquela casa tem, da perspectiva dela sobre a empresa e o setor”, afirma. “É possível construir premissas e pautar o preço-alvo da ação enxergando o copo meio cheio ou meio vazio.”

Ela diz que o IRB é um exemplo claro de como podem coexistir várias óticas conflitantes. “Essa é uma empresa do tipo love it or leave it. Então fica essa disputa entre duas narrativas, ‘dá para ganhar muito dinheiro’ versus ‘é uma grande roubada’”, explica.

Papel descontado é oportunidade? Nem sempre!

Quando um relatório faz o preço de um papel desabar, muitos investidores podem se sentir motivados a aproveitar o desconto para montar posições. Afinal, “comprar na baixa” é uma dessas lições que a repetição transformou em mantra.

Mas a decisão não é tão simples assim. A estimativa do preço de uma empresa é feita a partir de várias premissas. Se ela foi rebaixada, primeiro é preciso ler aquele relatório, acompanhar as premissas e entender por que isso ocorreu.

A empresa pode, por exemplo, ter se endividado muito ou simplesmente não ter performado bem naquele trimestre. Custos adicionais, má negociação com credores e incapacidade de entender os anseios de seu público consumidor podem ser algumas das explicações.

Ainda, a alta do dólar pode ter sido boa se ela é exportadora, ou perversa se os custos da companhia são na moeda norte-americana. Não é porque o preço da ação ficou mais baixo que ela necessariamente se tornou barata, portanto uma boa compra.

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“O investidor deve aproveitar o desconto se achar que aquela empresa está subavaliada. Nesse caso, ele entende que o cenário do relatório foi pessimista demais e o preço está abaixo do que a empresa vale. Aí há oportunidade de compra”, diz Júlia Monteiro. “Por outro lado, se a leitura dele é de que o relatório foi otimista demais e superestimou a empresa, ele pode aproveitar que o papel provavelmente se valorizará e depois vender suas posições.”

Pasianotto pondera que um papel muito descontado pode continuar caindo e nunca mais subir. “Essa história de ‘compre na baixa’ é uma falácia. Qual é a baixa? Esse é o ponto. Como o investidor pode ter certeza de que aquela é a mínima dele?”, indaga a economista. “Ele pode comprar a ação e perder ainda mais dinheiro.”

Como o investidor pode se informar

O acesso aos relatórios com análise das empresas e recomendação dos papéis nem sempre é fácil. Os clientes dos bancos e casas de análises os recebem. Já para o investidor comum, o mais fácil é acompanhar notícias em veículos especializados, como o E-Investidor. Elas incluem trechos das análises, mas não as premissas que as embasaram, o que impede um exame da empresa em maior profundidade.

Pedro Lang diz que, em um mundo ideal, o investidor deveria entrar no site de relações com investidores da empresa em que está interessado e obter ali os dados contábeis que refletem a situação financeira da companhia. “Mas nem todo mundo tem tempo e interesse em aprender a analisá-los”, reconhece.

Ele afirma que os relatórios não devem ser tomados como verdades absolutas, mas sim como opiniões, que merecem uma leitura crítica. “É importante que o investidor crie o hábito de formar a própria opinião, nem que seja contrapondo diferentes fontes de informação”, recomenda.

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