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Petrobras não deverá sentir choque do petróleo, dizem especialistas

Queda brusca da demanda levou a excesso de estoque

Petrobras não deverá sentir choque do petróleo, dizem especialistas
Refinaria da Petrobras em Betim, localizada na grande BH (Foto: Geraldo Falcão/Petrobras)
  • Movimento na cotação do óleo WTI foi provocado pela iminência do vencimento dos contratos futuros para maio, que ocorre amanhã
  • Com estoques cheios, não há espaço para armazenar o produto. Fornecedores estão sendo pagos para ficar com o combustível, o que explica as cotações negativas
  • Choque dos preços não deve afetar diretamente o Brasil. Petrobrás pauta seus preços pela cotação do óleo Brent. Mas volatilidade do mercado não deixa de ser nociva para todos

Os especialistas ouvidos pelo E-Investidor entendem que o tombo histórico do petróleo nos Estados Unidos atingirá principalmente os players que negociam o óleo WTI, o que não é o caso do Brasil.

“A Petrobras não é afetada diretamente porque tem como referência o preço do óleo Brent, o que acaba sendo uma blindagem”, afirma o analista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos. “Por outro lado, a volatilidade no preço do óleo WTI tira o ímpeto dos mercados globais e isso repercute de alguma forma no Brasil.”

Ele lembra que o mercado de petróleo vive uma espécie de guerra de preços. “A Petrobras já foi obrigada a fazer doze reduções de preço neste ano para não perder clientes internacionais”, completa.

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Para o superintendente de research da Ágora Investimentos, José Francisco Cataldo, o ponto de inflexão nos preços do petróleo só ocorrerá no primeiro trimestre de 2021, quando o impacto do coronavírus sobre a demanda tiver diminuído sensivelmente. “Por enquanto, nós estamos estimando que o barril do óleo Brent fechará em US$ 32 em 2020 e US$ 43 em 2021”, avalia.

Cotação negativa pela primeira vez

O preço do barril do petróleo WTI foi negociado em Nova York abaixo de zero pela primeira vez na história. Com queda de mais de 300%, a commodity entrou em terreno negativo, cotada a menos US$ 37,63. Esse movimento inusitado foi provocado pela iminência do vencimento dos contratos futuros para maio, que ocorre nesta terça-feira, 21.

Com a desaceleração da economia por conta do coronavírus, a demanda por petróleo desabou. Isso gerou um problema: com os estoques cheios, não há espaço para armazenar o produto. Fornecedores estão sendo pagos para ficar com o combustível, o que explica as cotações negativas.

“Houve um desequilíbrio muito forte entre oferta e demanda. Com os estoques no limite, praticamente não há compradores”, explica o chefe de análises da Toro Investimentos, Rafael Panonko. “Quando o vencimento se aproxima, em vez de rolar os contratos para frente, os players decidem encerrar suas posições (vender), o que derruba os preços.”

Ainda que a recessão econômica seja global, os norte-americanos sofrem mais, por conta de uma particularidade daquele mercado, em que predominam os pequenos produtores.

“O governo tem controle menor sobre eles, por isso é mais difícil ajustar a produção à demanda. Em países que têm grandes petroleiras, isso facilita um acordo”, compara a economista da Coface para a América Latina, Patrícia Krause. “Com os estoques no máximo, chega um ponto em que se paga para se livrar do excesso. Não dá para jogar o petróleo no mar.”

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A economista assinala que o excesso de oferta naquele país já vinha se desenhando nos meses anteriores à explosão da pandemia. Os estoques cresceram 48% em janeiro e fevereiro, por conta da demanda em queda.

Preço dos contratos para junho (ainda) não foi afetado

Até agora, esse choque de preço ainda não se refletiu nos contratos com vencimento em junho. Por enquanto, o preço do barril de óleo WTI para o mês que vem é de cerca de US$ 20.

“Não existe nenhuma garantia de que o mesmo problema não voltará a acontecer em junho. Pode ser que a situação se estenda por meses”, ressalva Adriano Cantreva, sócio da Portofino Investimentos. “O preço está em US$ 20 porque se espera que a demanda tenha começado a se recuperar até lá. Mas isso é apenas uma aposta.”

Se o desequilíbrio entre oferta e demanda provoca incerteza, a volatilidade tende a se dissipar nos contratos mais longos. “Os contratos para dezembro, por exemplo, não estão tão voláteis, porque a expectativa é de que a situação se normalize no segundo semestre”, diz Panonko.

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