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Petrobras (PETR3) tem pior pregão desde 2021 com decepção sobre dividendos

Estatal perdeu R$ 70 bilhões em valor de mercado nos últimos 2 dias. Agora, empresa está avaliada em R$ 474,7 bi

Petrobras (PETR3) tem pior pregão desde 2021 com decepção sobre dividendos
Tanques da Petrobras (Foto: Geraldo Falcão/Petrobras)
  • As ações da Petrobras (PETR4) caminham para encerrar está sexta-feira (8), com a pior performance em um pregão desde o final de 2022, segundo levantamento feito por Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria
  • A derrocada vem após a estatal comunicar ao mercado que não fará o pagamento de dividendos extraordinários. Em vez disso, a companhia pretende pagar somente o mínimo estabelecido pela Política de Remuneração aos Acionistas
  • A surpresa negativa em relação aos dividendos alimentou os temores de uma reviravolta na empresa. O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, sinalizou uma guinada em direção à energia renovável

As ações da Petrobras (PETR3) encerraram esta sexta-feira (8) com queda de 10,37%, a R$ 36,98. Está foi a pior performance das ações ordinárias em um pregão desde 22 de fevereiro de 2021, segundo levantamento feito por Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria. Já a PETR4 terminou o dia em queda de 9,14%, a R$ 36,70, maior desvalorização em um pregão desde outubro de 2022.

No total, a petroleira perdeu R$ 54,3 bilhões em valor de mercado na sessão. Em dois dias, a desvalorização chegou a R$ 70 bilhões – agora, a empresa está avaliada em R$ 474,7 bilhões. Puxado pela derrocada da petroleira estatal, o Ibovespa também recuou, em 0,99%, aos 127.070,79 pontos.

A expressiva queda ocorre após a estatal comunicar ao mercado que não fará o pagamento de dividendos extraordinários. Em vez disso, a companhia pretende distribuir somente o mínimo estabelecido pela Política de Remuneração aos Acionistas. Ou seja, 45% do fluxo de caixa livre, um montante de R$ 14,2 bilhões. Outros R$ 43,9 bilhões da reserva estatutária devem ser represados. A decisão deve ser oficializada em à Assembleia Geral Ordinária (AGO), prevista para 25 de abril de 2024.

A surpresa negativa em relação aos dividendos alimentou os temores de uma reviravolta na empresa. No final do mês passado, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, já havia sinalizado para um corte no volume de distribuição de proventos. A diminuição vem para suprir os investimentos em uma transição energética entre 2024 e 2028. O objetivo é que a estatal do petróleo deixe de ser dependente de combustível fóssil e passe a prover também energia renovável – uma guinada que provoca dúvidas e não agrada a todos.

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“O grande temor permanece no uso desses recursos com foco de acelerar a transição energética em projetos que julgamos pouco interessantes tendo em vista os grandes retornos do segmento de E&P (exploração e produção), especialmente o pré-sal e a margem equatorial”, afirma a Genial Investimentos, que possui recomendação de “manter” os papéis da Petrobras, o equivalente a “neutro”.

A Ativa Investimentos reforça as incertezas que se abrem após o corte nos dividendos. Mesmo com as falas de Prates, a corretora esperava um pagamento de até R$ 26 bilhões em proventos, cerca de R$ 2 por ação. Portanto, o montante de R$ 14,2 bilhões fica 45% abaixo das expectativas.

“A decisão pela retenção integral dos recursos deve lançar holofotes sobre as intenções da empresa referentes à sua alocação de capital”, afirma a Ativa, em relatório. Fora a questão da transição energética, uma das preocupações é se parte do valor represado e não pago em dividendos será investido para empreitadas pouco apreciadas pelos analistas, como para formar uma parceria com a Mudabala Capital para atuar no setor de distribuição de combustíveis no Brasil.

“Empreender esforços para retomar atuação em um setor de margens apertadas, como a distribuição de combustíveis, é um dos motivos que levam os investidores à se frustrarem quando a companhia anuncia que reterá dividendos extraordinários”, diz a Ativa. A corretora possui recomendação neutra para os papéis.

Frustração com dividendos ofusca balanço da Petrobras

O baque com a diminuição dos dividendos foi tão grande que acabou ofuscando os resultados divulgados pela petroleira, na noite da última quinta-feira (7). A Petrobras apresentou uma queda de 33,8% do lucro líquido em 2023 em comparação a 2022, passando de R$ 188,3 bilhões para R$ 124,6 bilhões. As receitas de vendas caíram 20,2% no período, para R$ 134,2 bilhões, enquanto as despesas operacionais subiram 92,3%, para R$ 32,6 bilhões.

Para a Ativa, a visão foi neutra sobre os resultados. “Ainda que as suas receitas vieram inferiores que as nossas expectativas devido ao menor Brent, seus custos e despesas não retiraram força do seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) recorrente. Com um resultado financeiro ligeiramente melhor no quarto trimestre de 2023 frente ao mesmo período de 2022, Petrobras apurou lucro líquido superior às nossas expectativas”, diz a corretora.

Já o Bradesco BBI rebaixou a recomendação da Petrobras de outperform (equivalente a compra) para neutra após o balanço. O preço-alvo da ação também foi diminuído de R$ 48 para R$ 41. Pesou na revisão, a decisão de reter caixa e não pagar os dividendos extraordinários. “Esta decisão traz incerteza à política, que costumava ser muito clara”, afirma o Bradesco, em relatório.

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Na esteira das incertezas com a Petrobras, as concorrentes da petroleira se deram bem no pregão. A 3R Petroleum (RRRP3), PetroReconcavo (RECV3) e PetroRio (PRIO3), por exemplo, estavam com altas de 1,32%, 2,80% e 3,25%, respectivamente. Os três papéis ficaram entre as dez maiores altas do Ibovespa no pregão.

Isto significa que há fluxo de investidores saindo da estatal para as companhias privadas do petróleo. Corretoras como BTG, XP Santander recomendam a compra principalmente de 3R Petroleum e PetroReconcavo.

Quem ainda vê a Petrobras com bons olhos

Se há um grande número de investidores decepcionados com as notícias recentes sobre Petrobras, há também quem ache que houve um excesso de histeria em torno do corte de dividendos e balanço financeiro. É o caso, por exemplo, da BB Investimentos. A casa reforçou a recomendação de compra para a Petrobras após a queda, considerada “exagerada”. “Em nosso entendimento, nada mudou na tese: vemos uma empresa robusta operacionalmente, com baixo custo de exploração e forte geração de caixa operacional”, diz a instituição financeira.

O pagamento mínimo de dividendos também não assustou o banco. “Sabemos que os dividendos são importantes para qualquer setor, mas o anúncio de ontem mantém a companhia alinhada aos pares internacionais, pagando 45% do fluxo de caixa menos investimentos”, afirma a equipe de Research do BB, em relatório.

O preço-alvo do BB para PETR4 é R$ 42 – um potencial de alta de 15,8%, em relação à cotação desta sexta-feira. De qualquer forma, a Petrobras sente o peso das polêmicas em 2024. As ações caem 13,4% nos últimos 30 dias e 2,66% no acumulado do ano.

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