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- O economista Marcio Pochmann deve assumir o comando do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - principal provedor de dados econômicos do País
- A indicação repercutiu mal no mercado e foi um dos motivos por trás da baixa de 2,10% do Ibovespa nesta quinta (27)
- O “mal estar” vem do perfil atribuído ao economista, que é visto pelos pares como “radicalmente heterodoxo”. Ele também já foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), onde sofreu críticas por suposto uso ideológico do órgão
O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, confirmou na última quarta-feira (26) o nome do economista Marcio Pochmann para a presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), principal provedor de dados econômicos do País, como a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A indicação repercutiu mal no mercado e foi um dos motivos por trás da baixa de 2,10% do Ibovespa nesta quinta-feira (27). O “mal estar” vem do perfil atribuído ao economista, que é visto pelos pares como “radicalmente heterodoxo”. Ou seja, muito mais favorável a expansão de gastos públicos, em vez de controle fiscal, para promover o desenvolvimento do País.
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No Twitter, Pochmann coleciona posicionamento considerados polêmicos, como críticas à reforma trabalhista, à reforma previdenciária e até mesmo ao Pix, visto por ele como “mais um passo na via neocolonial”. “O Pix aprofunda a lógica da financeirização rentista que não se preocupa com a produção, mas com a circulação do dinheiro”, afirmou o economista, em publicação feita na rede em 13 de outubro de 2020.
Ele também já foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 2007 e 2012, ou seja, entre o final do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e início do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Lá, sofreu críticas por suposto uso ideológico do órgão. Um exemplo dessa ação seria o engavetamento de pesquisas lidas como “neoliberais”, como apontado pelo Estadão.
O que o mercado teme?
Agora, no IBGE, o temor do mercado é de que haja algum tipo de ingerência nas estatísticas, apuração ou condução das pesquisas, cujos dados são essenciais não só para as projeções econômicas, mas para definir políticas públicas.
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“O nome dele assusta muito o mercado, porque a passagem dele pelo Ipea já não foi muito frutífera, tiveram problemas, e o IBGE não é um órgão qualquer. É um órgão estatístico, não um vetor político”, afirma Flávio Conde, analista da Levante Ideias de Investimento. “O temor é que o IBGE passe a focar em pautas ideológicas.”
Essa também é a visão de Mario Goulart, analista de investimentos e criador do canal O Analisto. “Ele tem um histórico complicado, é chamado até de ‘terraplanista econômico’ por defender teses desenvolvimentistas consideradas ultrapassadas”, diz. “No Ipea, o que não agradava era escanteado, além de ser identificado como um dos formuladores de políticas econômicas da Dilma Rousseff, que desembocou em uma recessão econômica absurda.”
Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, ressalta a importância de levar a sério as estatísticas econômicas de um país. “Só com um instituto sério é possível mapear as políticas públicas e para onde vão os recursos”, diz.
Já Mário Lima, analista sênior de política e macroeconomia da Medley Advisors, vê os servidores de carreira do IBGE como uma barreira a mudanças ideológicas abruptas. “Não acho que ele teria poder de mudar como são feitas as estatísticas e o gestor da política econômica ainda é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), então os riscos são menores”, diz o especialista, que não vê Pochmann como uma figura qualificada para o cargo.
Diminuição do otimismo
O anúncio de Pochmann no comando do IBGE ocorre simultaneamente a outras notícias que desagradaram o mercado, como a eventual indicação do ex-ministro Guido Mantega para o cargo de diretor-presidente da Vale (VALE3) e possíveis alterações na diretoria da Petrobras (PETR4). As informações são do Estadão.
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“Guido Mantega ali é outro cara profundamente identificado com o desastre econômico da Dilma e com o chamado terraplanismo econômico”, afirma Goulart. “Parece que esse governo não consegue criar uma lua de mel satisfatória com mercado satisfatória sem já querer impor a sua agenda ultrapassada.”
Conde vê as notícias como um balde de água fria no otimismo do mercado. “O governo Lula estava indo muito bem, indicando nomes técnicos para cada área. Quando isso começa a ser revertido, Pochmann no IBGE e Mantega na Vale, isso deixa todo mundo preocupado. Esse é o problema, mudar uma linha bacana, de escolher pessoas técnicas”, afirma.