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44 títulos do Tesouro Direto têm perdas em setembro por causa desses 3 fatores

Poucos entre os 50 títulos públicos negociados se salvaram; confira também as perspectivas para outubro

44 títulos do Tesouro Direto têm perdas em setembro por causa desses 3 fatores
Títulos acumulam desvalorização em setembro (Foto: Adobe Stock)
  • A maioria dos títulos do Tesouro Direto apresentaram desvalorização em setembro
  • O que provocou os prejuízos no mês para boa parte dos títulos públicos foi a subida das taxas
  • Por trás da subida das taxas do Tesouro Direto, estão principalmente o aumento da percepção de risco fiscal, pressões inflacionárias e a decisão de juros no Brasil

A maioria dos títulos do Tesouro Direto apresentaram desvalorização em setembro. Pelo menos 44 dos 50 papéis em circulação tiveram rendimento negativo no período. A maior perda ocorreu no RendA+ 2065, focado em geração de renda para aposentadoria, com um deságio de 10,03%. Já o título vencedor foi o pós-fixado Tesouro Selic, com ganhos de 0,84%.

O que provocou os prejuízos no mês para boa parte dos títulos públicos foi a subida das taxas. A plataforma do Tesouro Nacional possui três categorias de ativos: os prefixados, que pagam um prêmio fixo ao ano; os papéis atrelados à inflação, como os IPCA+, RendA+ e EducA+, que remuneram a variação da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais uma taxa prefixada anual; e o Tesouro Selic, cujo rendimento está atrelado à variação da taxa básica de juros Selic.

Fora o Tesouro Selic, todas as outras categorias sofrem efeitos de “marcação a mercado”. Ou seja, os preços dos títulos variam diariamente conforme as expectativas econômicas e a demanda pelos papéis. Em termos gerais, quando as taxas caem, os preços dos papéis sobem. O contrário também acontece – ou seja, se as taxas sobem, como ocorreu em setembro com boa parte dos ativos, esses títulos se desvalorizam na carteira.

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Pense que você possui um título prefixado para 2029 com rendimento de 11% ao ano. Se o Tesouro passa a emitir outros prefixados com o mesmo vencimento mas com um rendimento maior, de 12% ao ano, quem comprou a 11% verá o papel se desvalorizando. Contudo, o “prejuízo” só acontece de fato se o investidor vender o título antes da data acordada. Caso leve até o vencimento, receberá exatamente o porcentual de retorno combinado.

“Tivemos um desempenho ruim dos Prefixados e IPCA+ no mês de setembro. O Prefixado 2025, por exemplo, rendeu 75% do CDI no mês”, afirma Fabrício Silvestre analista da Levante Inside Corp. “E à medida que a gente vai alongando os vencimentos, os retornos são menores.”

Por que as taxas do Tesouro Direto subiram em setembro?

Por trás da alta das taxas do Tesouro Direto estão o aumento da percepção de risco fiscal, pressões inflacionárias e a decisão de juros no Brasil. Os gastos fora da meta, maior concessão de crédito e a suposta falta de transparência a respeito da condução das contas aumentou a aversão a risco dos investidores, que passaram a pedir mais prêmio para financiar a dívida do País. Esse prêmio significa retornos maiores para adquirir títulos públicos.

Em 18 de setembro, o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central decidiu subir a taxa básica de juros Selic pela primeira vez desde agosto de 2022. A alta foi de 0,25 ponto porcentual, para 10,75% ao ano. Para frente, a expectativa é de que ocorram novas elevações – o boletim Focus, por exemplo, traz uma projeção de juros em 11,75% até o final de 2024.

Embasando a decisão do Banco Central (BC) para aumentar a Selic, fora o risco fiscal, estão alguns dados econômicos sensíveis. É o caso do Produto Interno Bruto (PIB) mais forte do que o esperado e desemprego nas mínimas. Apesar de serem notícias positivas, essa combinação historicamente resulta em uma alta da inflação por conta da economia mais aquecida, o que também significa que o BC poderá ter que subir ainda mais os juros à frente.

“A alta das taxas foi influenciada por vários fatores, incluindo a preocupação com o cenário fiscal brasileiro e a expectativa de novos aumentos da taxa Selic pelo Banco Central. Além disso, a prévia da inflação de setembro apontou para uma aceleração, o que aumentou a pressão sobre os juros futuros”, afirma Mariana Conegero, especialista em mercado de capitais e sócia da The Hill Capital.

Isto também é o que aponta Andressa Bergamo, especialista em mercado de capitais e fundadora da AVG Capital. “O movimento refletiu a elevação das expectativas de juros futuros e a postura mais rígida do Banco Central diante do cenário de inflação persistente e pressões fiscais”, diz.

Como ficam os rendimentos dos títulos em outubro?

Para o próximo mês, o consenso é de que as taxas continuarão em patamares elevados. Como a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) acontece apenas em novembro, os investidores devem se preparar para volatilidade. “Estamos em um momento de inflexão. A expectativa é de que o BC eleve os juros para patamar mais restritivo, já antevendo uma inflação mais persistente. Porém, até isso acontecer, ficaremos em um vácuo de incerteza”, afirma Guilherme Viana, especialista em renda fixa da Veedha investimentos.

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Vale lembrar que o boletim Focus aponta para uma Selic de 11,75% até o final de 2024. Isto significa que os juros ainda tem um bom espaço para subir – o que deve impulsionar os prêmios no Tesouro Direto e fazer os títulos perderem na marcação a mercado, para vendas antes do vencimento.

Nesse cenário, Viana vê oportunidades nos prefixados, que já pagam mais de 12% ao ano. Os títulos de inflação também estão em patamares interessantes, já que o tradicional “IPCA+” paga entre 6,34% e 6,56% de juro real ao ano. “Mas vale atentar para o cenário de alta de Selic adiante. Com o avanço da taxa básica de juros, a expectativa é de arrefecimento e ancoragem da inflação, o que impactaria nos rendimentos dos títulos atrelados a esse indexador”, ressalta o especialista da Veedha.

Para Conegero, especialista em mercado de capitais e sócia da The Hill Capital, os pós-fixados se mostram opções interessantes, já que são os mais seguros do mercado, possuem liquidez diária (o capital pode ser resgatado a qualquer momento), sem marcação a mercado e, agora, estão com os rendimentos em alta em função da elevação da Selic.

“Além disso, os títulos Tesouro IPCA+ podem ser atrativos para proteção contra a inflação, especialmente os de prazos intermediários, como o IPCA+ 2029”, afirma Conegero. Já os Prefixados podem ser oportunidades no momento que o mercado perceber que a Selic atingiu o pico. Isto porque, com as taxas caindo, esses papéis ganham na marcação a mercado. “Já se as taxas continuarem subindo, representam maior risco”, diz a especialista.

Veja os preços e taxas do Tesouro Direto no fechamento desta segunda-feira (30).

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