A corretora “Tullett Prebon” entrou nos holofotes dos pequenos investidores em meados de 2021, após uma suspeita de “insider trading” – uso de informações privilegiadas para obter ganhos financeiros. Um cliente, operando pela Tullett, comprou 4 milhões de opções de venda de Petrobras (PETR4) muito próximas ao vencimento, um pregão antes de quedas históricas do papel devido à demissão de Roberto Castello Branco, CEO da estatal na época, pelo então presidente da República Jair Bolsonaro.
Após explicações dadas pela corretora à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o caso foi esclarecido. Eduardo Azevedo, CEO do TC ICAP, que se originou da fusão da Tullett Prebon Brasil e a ICap, explicou que se tratava de um fundo com bilhões sob gestão e que encerrou a operação bem antes das quedas históricas do papel ocorressem.
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“O lucro foi de cerca de R$ 60 mil, pelo que me lembro. Não os R$ 18 milhões que foram anunciados. O cara ficou bravo porque encerrou antes e deixou de ganhar, mas imagina se ele ganha? O que aconteceria na vida dele, e na minha?”, afirma Azevedo, em primeira entrevista sobre o caso, concedida ao E-Investidor.
Neste ano, outra operação grande com opções de venda viralizou nas redes sociais. A compra de 2,3 milhões de PETRO411 no final do pregão de 7 de março, que antecedeu a queda de mais de 10% dos papéis após notícia de retenção dos dividendos da Petrobras, também chamou a atenção.
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“A operação desse ano, passamos para a nossa chefe jurídica de compliance, que analisou e viu que não tinha nada (que chamasse a atenção). Somos um grupo centenário, não tem a mínima chance de passar uma coisa dessa”, explica Azevedo.
A Tullett é uma corretora voltada a investidores institucionais, ou seja, grandes fundos de investimento, assets e bancos, e não atua somente com derivativos. No ranking de “brokers” da B3, a empresa aparece em quarto lugar entre as maiores em negociações de títulos públicos indexados e prefixados, por exemplo.
A história da corretora no Brasil começou em meados de 2011, quando o grupo britânico comprou a Convenção, corretora que pertencia ao ex-presidente da Bovespa e um dos fundadores da antiga Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), Eduardo da Rocha, pai de Azevedo, atual CEO do TC ICAP.
Na época, haviam corretoras estrangeiras interessadas em ingressar no mercado brasileiro e a Convenção tentava entender como as mudanças impactariam o negócio. Azevedo, então, foi aos EUA e Inglaterra para estudar os cases estrangeiros. Voltou ao Brasil com duas soluções: mudar completamente o negócio ou vender. “A eletronificação traz muita coisa boa, mas aumenta muito a concorrência”, diz o CEO. Além de ser um nome forte, a possibilidade de manter a equipe após a venda fez o executivo se interessar pela proposta da Tullett Prebon.
Agora, com o Ibovespa em queda de mais de 5% no ano, na esteira dos juros altos por mais tempo nos EUA, Azevedo conta como os clientes institucionais estão lidando com as perdas. Leia a entrevista:
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E-Investidor – Qual o sentimento do investidor institucional em relação ao mercado brasileiro?
Eduardo Azevedo – Se você for conversar com um dos nossos clientes hoje, eles estão todos muito machucados. Viemos de um período longo, de uns 12 ou 18 meses, em que se você for pegar, por exemplo, os fundos multimercados mais agressivos, eles estão quase todos perdendo dinheiro.
Se eu for perguntar para eles, vão dizer que o mercado não tem tendência, que o “Governo é isso, que lá fora é aquilo”. É um dinheiro grande que esses clientes perderam, mas são pessoas super capazes, bem-estruturadas. Tem players locais que são relevantes no estrangeiro também, possuem uma quantidade de operações muito grande
Para vocês, como corretora, esse mercado mais volátil gera oportunidade? Pensando pelo lado de aumento de operações.
A gente não gosta desse mercado muito disfuncional. Tem muita volatilidade, o que geralmente para as corretoras é uma coisa boa. Mas depois que o mercado apanha muito, ele para e fica um tempão sem operação. Você vê as pessoas stopando as posições, ou zerando as posições, é como se fosse uma bola de neve. Gostamos do mercado quando ele tem uma tendência.
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Quais fatores pegaram os investidores institucionais de surpresa este ano?
Teve movimento nos juros (futuros) muito agressivo na semana passada e retrasada, que ninguém esperava. O câmbio subiu um pouco, mas já era dado. Então estou vendo eles tentando acertar, às vezes até com o call certo, mas no timing errado. Está difícil de ganhar dinheiro, mas é aquilo, uma fase. Já passei por várias outras crises, como do México, da Ásia, Rússia, os anos do governo Dilma Rousseff, covid-19 e etc. Fase.
A Tullett ficou conhecida no varejo em alguns episódios de operações com opções de venda da Petrobras que levantaram suspeita de insider trading. Como essas situações foram enfrentadas?
Nós somos cumpridores de ordens. Naquela operação, de 2021, o cliente abriu a operação na quinta-feira e fechou na sexta-feira (antes que pudesse lucrar com a queda decorrente dos rumores de que Castello Branco seria demitido). Foi um fundo grande, com alguns bilhões sob gestão, e o lucro foi de cerca de R$ 60 mil, pelo que me lembro. Não os R$ 18 milhões que foram anunciados. O cara ficou bravo porque encerrou antes e deixou de ganhar, mas imagina se ele ganha? O que aconteceria na vida dele e na minha, com CVM, Bolsa, Banco Central, imprensa?
Já a desse ano, foi uma operação um pouco mais complexa. Não era simplesmente uma compra de opção. Era a compra de uma opção, com a compra de uma outra opção e a venda do papel. É uma operação com trava de alta e trava de baixa. Em 2021, a gente se antecipou e fomos até a CVM (dar explicações). A desse ano, passamos para a nossa chefe jurídica de compliance, que analisou, e viu que não tinha nada (que chamasse a atenção).
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Como funciona a análise do compliance da Tullett?
Pensa que o investidor é um sujeito que toda vez vem aqui e opera mil ações em Petrobras. Aí um dia ele liga e pede para comprar um milhão de ações. Temos as travas de risco. Não é que o investidor faz a operação do tamanho que ele quer e a gente fica quieto. Tudo que não faz sentido, levanta um alerta e a nossa obrigação é reportar.