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Via Varejo: investidores não podem ser punidos por informação privilegiada via Twitter

Especialistas avaliam os possíveis impactos para os pequenos acionistas

Via Varejo: investidores não podem ser punidos por informação privilegiada via Twitter
(Divulgação/ Rede Globo)
  • Para os analistas, ainda que a companhia tenha errado na escolha do Twitter como canal de repasse das informações, não teria havido, com o que se sabe até o momento, privilégio de informação para uma quantidade seleta de investidores
  • O estrategista-chefe da Levante Investimentos, Rafael Bevilacqua, argumenta que informações operacionais já costumam ser divulgadas, por exemplo, em reuniões instituições com investidores, o que também acaba resultado em movimentações de mercado sobre os papéis

Investidores posicionados nas ações da Via Varejo (VVAR3) não deverão ser penalizados, pelo menos diretamente, caso seja confirmada alguma irregularidade na divulgação de dados de vendas da varejista, que é dona da Casas Bahia e do Ponto Frio, na tarde de segunda-feira (21) em uma rede social. A opinião é de alguns analistas de mercado ouvidos pelo E-Investidor.

Para esses especialistas, ainda que a companhia tenha errado na escolha do Twitter como canal de repasse das informações, não teria havido, com o que se sabe até o momento, privilégio de informação para uma quantidade seleta de investidores.

“Acredito que não houve tentativa de manipular o mercado porque isso seria um pensamento de curtíssimo prazo”, avalia Bruno Komura, analista de renda variável da Ouro Preto Investimentos. Para ele, o risco dessa atitude seria muito alto para pouco upside, ou seja, pouco potencial de valorização do ativo dela, e que o ganho através da “volta por cima” da empresa, que está vem de um processo de reestruturação, seria “muito maior”.

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No dia 15 de junho, a companhia conseguiu captar R$ 4,45 bilhões na sua oferta de 297 milhões de ações, precificadas em R$ 15. O follow on foi considerado um sucesso e faz parte do processo de renovação da empresa, que tem entre os seus objetivos o fortalecimento do e-commerce.

“Um ponto negativo que pode impactar o valor das ações e a percepção do mercado é a credibilidade dos executivos. Se a governança é ruim ou se os gestores tem a credibilidade posta em dúvida, como confiar que eles vão conseguir fazer o turnaround da Via Varejo?”, reflete Komura.

O estrategista-chefe da Levante Investimentos, Rafael Bevilacqua, acredita que a empresa errou por ter apagado a postagem, e defende que o uso de redes sociais como canal oficial de divulgação tem sido cada vez mais comum entre empresas e governos. Além disso, Bevilacqua argumenta que informações operacionais já costumam ser divulgadas, por exemplo, em reuniões instituições com investidores, o que também acaba resultado em movimentações de mercado sobre os papéis, como a alta de 7,35% verificada nesta segunda nas ações da varejista brasileira.

“Seria problemático alguém ter uma informação privilegiada e utilizar isso para ter ganho financeiro. Se tivessem contado para dois acionistas, e eles tivessem tomado a ação, por exemplo. Mas o que fizeram foi público”, analisa Bevilacqua. “Se alguém dentro da empresa comprou ação um dia antes e divulgou, aí sim teria problema.”

No entanto, o maior problema pode estar no fato da divulgação ter acontecido em um dia de vencimento de opções.

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“[A Via Varejo] Não é das maiores liquidez em opções, mas mesmo assim uma notícia dessa em dia de vencimento de opções pode atrapalhar ou ajudar bastante, dependendo da posição que você estiver. A CVM vai avaliar isso, principalmente se dentro da empresa tinha alguém, de diretoria ou área de comunicação, que tinham posição em opções e fez isso em benefício próprio”, diz Victor Hasegawa, gestor da Infinity Asset.

A divulgação em si, para Hasegawa, poderia representar mais um problema de organização da companhia. “Isso mostra talvez um pouco de desorganização da empresa neste sentido, caso a área de comunicação tenha soltado as informações sem autorização da área de RI (Relações com Investidores).”

Empresa reconheceu o erro na divulgação

Ao final da noite de segunda-feira (20), a Via Varejo esclareceu que os dados operacionais publicados em um sequência de posts (thread) no Twitter foram indevidamente divulgados pela área de comunicação da empresa, contrariando sua prática e política de divulgação, e por isso foram apagados. Ao lamentar o ocorrido, a companhia afirmou que está aumentando seus controles internos para que situações como esta não voltem a ocorrer.

A resposta da empresa atendeu a um pedido de esclarecimento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que abriu um processo administrativo no fim do dia para analisar a divulgação dos resultados via rede social. Para o órgão, a maneira como a Via Varejo divulgou as informações pode não estar de acordo com as regras estabelecidas pelo mercado.

“Esclarecemos que aplicam-se às divulgações realizadas em mídias sociais as mesmas regras previstas nas normas que tratam da divulgação de informações, notadamente as que disciplinam a divulgação de informações relevantes e estabelecem regras gerais sobre conteúdo e forma das informações que os emissores devem observar”, disse a CVM, em comunicado enviado à imprensa.

Na terça-feira 21, a VVAR3 recuou 2,6% e fechou cotada a R$ 20,62. No dia anterior, os papéis foram negociados a R$ 21,71, na máxima histórica da ação da varejista.

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