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Troca na cúpula da Via, dona da Casas Bahia, gera dúvidas: e agora?

Após anúncio da mudança de comando, inclusive do CEO, ações despencaram na Bolsa

Troca na cúpula da Via, dona da Casas Bahia, gera dúvidas: e agora?
Loja da Casas Bahia, cujo dono da marca é a varejista Via (VIIA3). Foto: Ricardo Prado/Estadão
  • Na última sexta-feira (31), a Via anunciou que o CEO desde junho de 2019, Roberto Fulcherberguer, deixaria o cargo
  • O executivo deve ser substituído por Renato Franklin, que estava na presidência da Movida (MOVI3) desde maio de 2014
  • Entretanto, a notícia provocou incertezas entre investidores e fez as ações desabarem na sequência

Março foi um mês agitado para a Via (VIIA3) do ponto de vista organizacional. No dia 6, veio a renúncia de Marcel Cecchi Vieira, membro do Conselho de Administração e coordenador do Comitê de Auditoria, Riscos e Compliance.

Depois, em 10 de março, a empresa comunicou que Helisson Brigido Andrade Lemos, vice-presidente de inovação digital da companhia, renunciou ao cargo. O comunicado da saída de Lemos, responsável pela inovação digital iniciada na Via em 2019, ocorreu um dia após a divulgação do balanço do quarto trimestre de 2022 – que veio com prejuízo de R$ 342 milhões no ano passado (alta de 15,2%) e margem líquida negativa.

Na noite da última sexta-feira (31), a varejista divulgou que o CEO desde junho de 2019, Roberto Fulcherberguer, deixaria a empresa. Foi ele também o responsável por guiar a Via pelas novas estratégias dentro do varejo on-line e fortalecimento de marca.

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No ano em que Fulcherberguer assumiu o comando da companhia, a empresa recebeu denúncias de fraude contábil, o que impactou em R$ 1,19 bilhão o balanço na época. “Além disso, veio a Covid-19 e o isolamento, ou seja, tempestade perfeita”, afirma Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos. “Ele já era um funcionário de 20 anos na empresa, últimos 3 como CEO, e realmente pegou um momento muito difícil.”

O executivo deve ser substituído por Renato Franklin, que estava na presidência da Movida (MOVI3) desde maio de 2014, trabalhou em diversos cargos na Vale entre 2003 e 2013 e deve assumir a Via no início de maio.

“Ambos têm vasta experiência. Fulcherberguer vem tentando desde a pandemia trazer a empresa mais para o on-line. Esse é um desafio grande porque a Via não era muito forte nesse segmento e teve que reestruturar muita coisa, enquanto Magazine Luiza já era muito digital”, afirma Fábio Sobreira, sócio e analista da Harami Research. “Franklin é ex-Movida e ex-Vale, vão trocar um bom executivo por outro bom executivo.”

Entretanto, a notícia provocou incertezas entre investidores e fez as ações desabarem no pregão seguinte. Na segunda (3), a VIIA3 chegou a cair quase 8% na mínima da sessão. O papel chegou a esboçar alguma recuperação, mas ainda fechou em baixa de 3,72%.

Por que a mudança?

As dúvidas do mercado não estão relacionadas à competência de Franklin, considerado um executivo de gabarito, mas ao momento para esta mudança. Com a taxa básica de juros Selic em 13,75% ao ano e inflação persistente, a Via e os demais players do varejo atravessam um período difícil.

No último balanço, por exemplo, a empresa apresentou uma elevação de 80,5% nas despesas financeiras (despesas com pagamento de juros de empréstimos e financiamentos), fenômeno que acontece na esteira da alta da taxa Selic.

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Este cenário de juros altos também eleva o risco de inadimplência e esfria o consumo, principalmente de eletrodomésticos e eletroeletrônicos, produtos que são praticamente o foco da Via.

Além disso, o aumento da competição no setor, com a chegada de players como Shein e AliExpress, deve pressionar ainda mais as margens de lucro. Segundo Fábio Sobreira, sócio e analista da Harami Research, existe uma desvantagem competitiva entre as varejistas brasileiras e estrangeiras.

“A carga tributária no Brasil é muito alta e as varejistas brasileiras estão tendo prejuízos grandes para acompanhar os preços praticados nas players estrangeiras, o que fez com que as despesas financeiras aumentassem muito nos últimos balanços. A situação não é fácil”, afirma Sobreira.

Tendo em vista esta conjuntura complexa, movimentações grandes e inesperadas em cargos estratégicos tendem a ser encaradas de forma negativa. O fantasma do colapso da Americanas (AMER3), cujo rombo contábil foi descoberto pelo CEO que estava há menos de dez dias no cargo, também impulsiona a aversão a risco.

“Vejo com preocupação a troca do CEO. Os resultados do 4º trimestre não são bons e observando o curto prazo, a empresa tem um capital de giro líquido negativo”, afirma Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos.

O consenso, portanto, é de que Franklin terá muitos desafios à frente da Via. “Em menos de um mês ocorreram todas essas mudanças na administração da companhia e isso gera desconforto. Adiciona-se a isso o ambiente desafiador e um balanço patrimonial alavancado na varejista. A Via também tem desempenho inferior aos pares”, afirma Boragini, da Davos.

Futuro incerto

O cenário macroeconômico adverso afasta a possibilidade de resultados positivos para a companhia nos próximos meses. Por isso, Sobreira, da Harami Research, não recomenda a compra dos papéis. “Não enxergo uma virada na perspectiva da empresa, mesmo com bons gestores”, afirma.

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Essa também é a visão de Pedro Accorsi, analista da Ticker Research, que possui recomendação neutra para os papéis. Ele entende que a troca no comando, apesar de não prejudicar a empresa, só adiciona mais pontos de interrogação para os investidores – tudo que a companhia não precisava no momento.

“O setor varejista está passando por um momento desafiador nos últimos dois anos, marcado por grandes pressões de preços, juros altos, crescente inadimplência e queda na demanda por parte do consumidor”, afirma. “ Qualquer mudança inesperada na macroeconomia joga o retorno das varejistas para o ‘fundo do poço’ ”.

Depois de dois dias de queda, o papel VIIA3 terminou o pregão de quarta (5) com uma alta de 6,36%, a R$ 1,84, a maior do Ibovespa na sessão. Para Bertotti, da Messem, se trata de especulação. “Sabemos que a empresa continua muito desvalorizada, destoando dos pares no varejo”, afirma.

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