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Ele criou uma firma de investimentos bilionária e empresa ruiu em dias

Bancos se mostravam ávidos para fazer negócios com Bill Hwang e sua Archegos Capital Management

Ele criou uma firma de investimentos bilionária e empresa ruiu em dias
Bill Hwang, da Archegos Capital Management (Foto: Reprodução)
  • Bill Hwang possuía uma das maiores — e talvez menos conhecidas — fortunas de Wall Street.
  • Até meados de março, Hwang era a força financeira por trás dos US$ 20 bilhões em ações da ViacomCBS, o que o tornava, de fato, o maior acionista institucional da empresa de mídia
  • Isso mudou no fim de março, após o valor das ações da ViacomCBS cair vertiginosamente e os credores exigirem seu dinheiro

(Kate Kelly, Matthew Goldstein, Matt Phillips e Andrew Ross Sorkin/The New York Times) – Até pouco tempo atrás, Bill Hwang possuía uma das maiores — e talvez menos conhecidas — fortunas de Wall Street. Então a sorte dele acabou.

Hwang, um investidor veterano, de 57 anos, administrava US$ 10 bilhões em sua firma de investimentos, a Archegos Capital Management. Ele tomou emprestado bilhões de dólares dos bancos de Wall Street para comprar um grande volume de ações de algumas empresas americanas e chinesas.

Até meados de março, Hwang era a força financeira por trás dos US$ 20 bilhões em ações da ViacomCBS, o que o tornava, de fato, o maior acionista institucional da empresa de mídia. Mas pouca gente sabia de sua absoluta fragilidade, já que as ações eram mantidas, em sua maioria, por meio de complexos instrumentos financeiros, chamados derivativos, criados pelos bancos.

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Isso mudou no fim de março, após o valor das ações da ViacomCBS cair vertiginosamente e os credores exigirem seu dinheiro. Quando a Archegos não conseguiu pagar, eles tomaram os ativos da empresa e os liquidaram, o que ocasionou uma das maiores implosões de uma firma de investimentos desde a crise financeira de 2008.

Praticamente da noite para o dia, a fortuna pessoal de Hwang se esvaiu. Na anedota tão antiga quanto a própria Wall Street, a combinação certa entre ambição, astúcia e timing é capaz de gerar lucros fantásticos — e também de se estraçalhar em um instante quando as condições mudam.

Hwang recusou-se a conceder comentários para este artigo.

A trajetória dele é uma história proverbial de alguém que saiu da miséria e ficou rico nos EUA. Nascido na Coreia do Sul, Hwang se mudou para Las Vegas em 1982, onde cursou o ensino médio. Ele mal falava inglês, e seu primeiro emprego foi como cozinheiro de um McDonald’s da Las Vegas Strip. Um ano depois, o pai dele, um pastor, morreu. Hwang se mudou com a mãe para Los Angeles, onde estudou economia na UCLA, mas se distraía nas imediações da universidade, com a animação de Santa Monica, Hollywood e Beverly Hills.

“Sempre culpo as pessoas que decidiram construir a UCLA em uma região tão legal”, afirmou ele à congregação da Promise International Fellowship, uma igreja de Flushing, um bairro do distrito nova iorquino do Queens, em 2019, durante um discurso. “Para ser honesto, eu não conseguia frequentar muito a faculdade.”

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Hwang se formou — por um triz, segundo afirmou — e depois obteve um mestrado em administração de empresas na Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh. Então, trabalhou por cerca de seis anos em uma firma sul-coreana de serviços financeiros com base em Nova York, finalmente aterrissando em um trabalho bem pago, como conselheiro de investimentos de Julian Robertson, um respeitado investidor do mercado de ações, cuja firma, Tiger Management, fundada em 1980, foi considerada pioneira nos fundos de hedge.

Depois que Robertson fechou o fundo de Nova York para investidores estrangeiros, em 2000, ele ajudou a financiar a fase inicial do fundo de hedge de Hwang, o Tiger Asia, que tinha foco em ações de empresas asiáticas e cresceu rapidamente, chegando a administrar US$ 3 bilhões para investidores estrangeiros.

Pouco depois de encerrar o Tiger Asia, Hwang fundou em 2013 a Archegos, que em grego significa líder ou príncipe. A nova firma, que também investia nos mercados de ações dos EUA e da Ásia, era similar a um fundo de hedge, mas seus ativos eram constituídos inteiramente pela fortuna pessoal de Hwang e de alguns parentes. Esse arranjo protegia a Archegos de escrutínios regulatórios, em razão da ausência de investidores públicos.

O Goldman Sachs, que havia emprestado dinheiro para Hwang no Tiger Asia, se recusou inicialmente a negociar com a Archegos. O JPMorgan Chase, outro “prime broker”, ou grande credor de firmas de negócios de ações, também manteve distância. Mas conforme a empresa cresceu, chegando a ultrapassar US$ 10 bilhões em ativos, de acordo com uma fonte informada a respeito do montante dos títulos da firma, sua atração se tornou irresistível. A Archegos estava negociando ações em dois continentes, e os bancos podiam cobrar consideráveis taxas sobre as operações que ajudavam a realizar.

Posteriormente, o Goldman mudou de ideia e, em 2020, se tornou um dos principais credores da empresa, juntamente com o Credit Suisse e o Morgan Stanley. O Nomura também trabalhou com Hwang. O JPMorgan se recusou.

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No começo deste ano, Hwang se afeiçoou por certas ações: da ViacomCBS, que tinha depositado grandes expectativas em seu nascente serviço de streaming; da Discovery, outra empresa de mídia; e de firmas chinesas, incluindo a fabricante de cigarros eletrônicos RLX Technologies e a empresa de tecnologia educacional GSX Techedu.

Negociadas a aproximadamente US$ 12 há pouco mais de um ano, as ações da ViacomCBS valiam cerca de US$ 50 em janeiro. Hwang continuou a acumular dividendos, afirmaram fontes a par de seus negócios, por meio de complexas posições combinadas com os bancos, chamadas “swaps”, que davam a ele o risco e o retorno — mas não a posse de fato — dessas ações.

Em meados de março, com as ações perto de valer US$ 100, Hwang havia se tornado o maior investidor institucional da ViacomCBS, de acordo com aquelas fontes e uma análise do New York Times de registros públicos. As fontes avaliaram a posição em US$ 20 bilhões. Mas, em razão de a participação da Archegos ser sustentada por dinheiro emprestado, se o valor das ações da ViacomCBS caísse inadvertidamente, Hwang teria de pagar aos bancos para cobrir as perdas ou seria rapidamente liquidado.

Em 22 de março, a ViacomCBS anunciou planos de uma nova oferta pública de ações, uma negociação com a qual a empresa esperava gerar US$ 3 bilhões em novos fundos para financiar seus planos estratégicos. O Morgan Stanley estava à frente do negócio. Ao mesmo tempo em que sondavam a comunidade de investidores, os banqueiros contavam com Hwang como investidor-âncora, que compraria pelo menos US$ 300 milhões em ações, afirmaram quatro pessoas envolvidas na nova oferta pública.

Mas, em algum momento entre o anúncio da negociação e sua realização, na manhã de 24 de março, Hwang mudou de planos. As razões não estão inteiramente claras, mas as ações da RLX e da GSX tinham despencado nos mercados asiáticos mais ou menos no mesmo momento. A decisão de Hwang fez com que o esforço da ViacomCBS para levantar capital resultasse em novos US$ 2,65 bilhões para a empresa, significativamente menos do que seu objetivo original.

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Os executivos da ViacomCBS não tinham conhecimento da enorme influência de Hwang no preço das ações da empresa, nem que ele havia cancelado os planos de investir na nova oferta de ações, até a negociação ter sido completada, afirmaram duas pessoas próximas à ViacomCBS. Eles ficaram frustrados ao saber disso, disseram as fontes. Ao mesmo tempo, investidores que tinham recebido participações maiores do que esperavam na nova oferta pública e viram que a negociação fracassou em levantar o capital que pretendia começaram a vender suas posições, o que baixou o preço das ações ainda mais (o Morgan Stanley se recusou a comentar o assunto).

Em 25 de março, a Archegos estava em situação crítica. O preço em queda das ações da ViacomCBS estava desencadeando “coberturas adicionais”, ou exigências de mais dinheiro ou ativos, de seus principais corretores, que a empresa não conseguiu atender completamente. Esperando ganhar tempo, a Archegos convocou uma reunião com os credores, pedindo paciência enquanto despejava seus ativos silenciosamente, afirmou uma fonte próxima à empresa.

Essas esperanças foram despedaçadas. Farejando o fracasso iminente, o Goldman começou a vender ativos da Archegos na manhã seguinte, seguido pelo Morgan Stanley, para recuperar seu dinheiro. Outros bancos logo fizeram o mesmo.

Conforme as ações da ViacomCBS inundaram o mercado em 26 de março por causa da enorme oferta dos bancos, a fortuna de Hwang se esvaiu. O Credit Suisse, que foi lento demais em estancar a sangria, anunciou a possibilidade de perdas significativas; o Nomura anunciou até US$ 2 bilhões em perdas. O Goldman conseguiu se livrar de suas posições mas não registrou perdas, afirmou uma fonte a par do assunto. O valor das ações da ViacomCBS caiu mais de 50% desde o pico de 22 de março.

Hwang desapareceu, emitindo somente um curto comunicado em que qualificou o momento como “desafiador” para a Archegos.

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(Tradução de Augusto Calil)

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