O que este conteúdo fez por você?
- Biden prometeu transformar a Arábia Saudita em “pária” pelo assassinato de um conhecido dissidente, Jamal Khashoggi. Mas as autoridades disseram na semana passada que ele planejava visitar o reino em breve
- A equipe de Biden também está conversando com a Venezuela e o Irã, mas os avanços estão estagnados
- Especialistas em política externa dizem que, embora as crises de energia durante a guerra sejam inevitáveis, elas sempre parecem surpreender os governos
(Clifford Krauss, The New York Times) – Quando o presidente Joe Biden se encontrar com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman na Arábia Saudita, estará seguindo os passos de presidentes como Jimmy Carter, que viajou para o Irã em 1977 para trocar brindes com o xá do Irã no réveillon.
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Como o príncipe herdeiro, o xá era um monarca que não foi eleito e conta com um histórico manchado de violações contra os direitos humanos. Mas Carter foi obrigado a comemorar com ele devido ao que era uma grande preocupação para as pessoas nos Estados Unidos: gasolina mais barata e garantia de oferta de petróleo.
Como Carter e outros presidentes aprenderam, Biden tem poucas ferramentas valiosas para reduzir os preços na bomba, sobretudo quando a Rússia, um dos maiores produtores de energia do mundo, inicia uma guerra não provocada contra um vizinho menor. Na época de Carter, os suprimentos de petróleo dos quais os países ocidentais precisavam estavam ameaçados pelas revoluções no Oriente Médio.
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Durante a campanha de 2020, Biden prometeu transformar a Arábia Saudita em “pária” pelo assassinato de um conhecido dissidente, Jamal Khashoggi. Mas as autoridades disseram que ele planejava visitar o reino em breve. Foi apenas o mais recente sinal de que o petróleo recuperou de novo sua centralidade na geopolítica.
Apenas alguns anos atrás, muitos legisladores em Washington e executivos de petróleo e gás no Texas estavam dando tapinhas nas costas uns dos outros pelo boom da energia que transformou os EUA em um país que exportava mais do que importava petróleo e derivados, tornando o país mais independente em relação à energia. Com os preços subindo, essa conquista agora parece ilusória.
Os EUA são o maior produtor do mundo de petróleo e gás natural, mas são responsáveis por apenas cerca de 12% da oferta global de petróleo. O preço do petróleo – o principal custo da gasolina – ainda pode disparar ou cair dependendo dos acontecimentos do outro lado do mundo. E nenhum presidente, por mais poderoso ou competente que seja, pode fazer muito para controlar isso.
Esses fatos são um pequeno consolo para os americanos que estão descobrindo que uma ida ao posto de gasolina pode facilmente custar cem dólares, muito mais do que apenas um ano atrás. Quando os preços dos combustíveis sobem, os consumidores exigem ação e podem se voltar contra presidentes que parecem relutantes ou incapazes de baixá-los.
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Sempre de olho na próxima eleição quando seus empregos ou o poder de seu partido estão em jogo, os presidentes podem achar impossível não tentar bajular ou implorar aos produtores de petróleo estrangeiros e do país para perfurar e bombear mais petróleo, mais rápido.
“Um presidente tem que tentar”, disse Bill Richardson, secretário de energia da gestão Clinton. “Infelizmente, existem apenas opções ruins. E quaisquer opções alternativas são provavelmente piores do que pedir aos sauditas para aumentar a produção.”
Dois outros países produtores de petróleo que poderiam aumentar a produção – Irã e Venezuela – são adversários dos EUA e as sanções ocidentais praticamente os retiraram do mercado global. Fazer qualquer acordo com seus líderes sem garantir grandes concessões em questões como enriquecimento nuclear e reformas democráticas seria perigoso do ponto de vista político para Biden.
Especialistas em energia disseram que mesmo a Arábia Saudita, amplamente considerada como tendo a capacidade de produção sobressalente mais disponível para pronto uso, não poderia reduzir os preços de forma rápida por conta própria. Isso porque a produção russa está caindo e pode cair muito mais conforme os países europeus reduzem suas compras do país.
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“Os presidentes talvez sejam a figura mais poderosa do governo americano, mas não podem controlar o preço do petróleo na bomba”, disse Chase Untermeyer, embaixador dos EUA no Catar no governo de George W. Bush. “Mesmo se os preços caírem por motivos fora de seu controle, o presidente Biden provavelmente não receberá muito crédito por isso também.”
Alguns legisladores republicanos e executivos de petróleo defendem que Biden poderia fazer mais para aumentar a produção americana de petróleo e gás, disponibilizando mais terrenos e águas federais para a perfuração de petróleo em lugares como o Alasca e o Golfo do México. Ele também poderia flexibilizar os regulamentos sobre a construção de oleodutos para que os produtores canadenses pudessem enviar mais petróleo para o sul.
Mas até mesmo essas iniciativas – as quais ambientalistas e muitos democratas se opõem porque desacelerariam os esforços para combater as mudanças climáticas – teriam pouco impacto imediato, pois leva meses para novos poços de petróleo começarem a produzir e pode levar anos para se construir oleodutos.
“Mesmo se o governo concordasse com todos os aspectos da lista de desejos da indústria, isso teria um impacto modesto nos preços atuais, porque isso seria em grande parte sobre a produção futura”, disse Jason Bordoff, diretor do Centro de Política Energética Global da Universidade de Columbia e consultor do presidente Barack Obama durante sua gestão. “E isso viria acompanhado de consideráveis desvantagens políticas, sociais e ambientais.”
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Biden e seus assessores têm pressionado, sem muito sucesso, executivos de petróleo dos EUA para aumentar a produção. A maioria das petrolíferas está relutante em expandir a produção porque temem que perfurar mais agora leve a um excesso que fará os preços caírem. Elas lembram de quando os preços do petróleo caíram para abaixo de zero no início da pandemia. Grandes empresas como Exxon Mobil, Chevron, BP e Shell basicamente mantiveram os orçamentos de investimento que estabeleceram no ano passado antes de a Rússia invadir a Ucrânia.
Aqueles que vendem energia se tornaram tão convencidos de que a oferta permanecerá limitada que os benchmarks de preços de petróleo nos EUA e no mundo subiram depois da notícia de que Biden planejava viajar para a Arábia Saudita. Os preços do petróleo aumentaram para quase US$ 120 o barril, e o preço médio nacional do galão de gasolina comum chegou a US$ 4,85, US$ 1,80 acima do valor há um ano.
Outra iniciativa do governo Biden que parece ter fracassado completamente é a decisão de liberar 1 milhão de barris de petróleo diariamente da Reserva Estratégica de Petróleo. Analistas disseram que era difícil identificar qualquer impacto dessa decisão.
A equipe de Biden também está conversando com a Venezuela e o Irã, mas os avanços estão estagnados.
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O governo recentemente renovou uma licença que isenta em parte a Chevron das sanções dos EUA destinadas a prejudicar a indústria petrolífera na Venezuela. Em março, três funcionários do governo viajaram a Caracas para envolver o presidente Nicolás Maduro em negociações com a oposição política.
Em outra flexibilização das sanções, a Repsol, da Espanha, e a Eni, da Itália, podem começar a enviar pequenas quantidades de petróleo da Venezuela para a Europa em algumas semanas, informou a Reuters no domingo.
A Venezuela, que já foi um importante exportador para os EUA, possui as maiores reservas de petróleo do mundo. Mas sua indústria de petróleo está tão prejudicada que poderia levar meses ou até anos para o país aumentar de forma considerável as exportações.
Com o Irã, Biden está tentando ressuscitar um acordo nuclear de 2015 do qual o presidente Donald Trump desistiu. Um acordo poderia liberar o Irã para exportar mais de 500 mil barris de petróleo por dia, aliviando a crise de oferta global e compensando alguns dos barris que a Rússia não está vendendo. O Irã também tem aproximadamente 100 milhões de barris armazenados, os quais poderiam ser liberados com rapidez.
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Mas as negociações nucleares parecem estar imersas em desacordos e não se espera que deem frutos tão cedo.
É claro que qualquer negociação, tanto com a Venezuela ou com o Irã, pode se tornar um risco político para Biden, porque a maioria dos republicanos e até mesmo alguns democratas se opõem a acordos com os líderes desses países.
“Nenhum presidente quer tirar a Guarda Revolucionária do Irã da lista de terroristas”, disse Ben Cahill, especialista em energia do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington, a respeito de um dos pontos de atrito nas negociações com o Irã. “Os presidentes são cautelosos com qualquer movimento que pareça que eles estão fazendo sacrifícios políticos e entregando uma vitória aos adversários dos EUA.”
Especialistas em política externa dizem que, embora as crises de energia durante a guerra sejam inevitáveis, elas sempre parecem surpreender os governos, que costumam não estar preparados para a próxima crise. Bordoff, o consultor de Obama, sugeriu que o país invista mais em carros e caminhões elétricos e incentive mais eficiência e conservação para diminuir a demanda de energia.
“A história das crises do petróleo mostra que, quando há uma crise, os políticos correm de um lado para o outro confusos, tentando descobrir o que podem fazer para proporcionar alívio imediato aos consumidores”, disse Bordoff. Os líderes dos EUA, acrescentou, precisam preparar melhor o país para “a próxima vez que houver uma inevitável crise do petróleo”./ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA