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Bancos públicos surpreendem e ignoram Copom em suas taxas de juros

Veja como a redução da Selic anunciada nesta quarta-feira (20) impactou os juros de bancos estatais e privados

Bancos públicos surpreendem e ignoram Copom em suas taxas de juros
O nível de inadimplência foi fator decisivo para o setor bancário em 2023. (Imagem: phonlamaiphoto, em Adobe Stock)
  • Os Bancos públicos não cortaram suas taxas de juros após a queda da Selic
  • O Itaú foi o único grande banco privado a confirmar a redução das suas taxas
  • A decisão dos bancos públicos foi uma grande surpresa para agentes do mercado financeiro

Os dois maiores bancos públicos, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil (BBAS3), mantiveram suas taxas de juros mesmo após o corte de 0,5 ponto porcentual na Selic anunciada pelo Banco Central (BC). Por outro lado, o Itaú (ITUB4) foi o único grande banco privado a confirmar que cobrará uma taxa menor de seus clientes, mostra levantamento realizado pelo E-Investidor realizado nesta quinta-feira (21), no dia seguinte da decisão sobre os juros básicos da economia brasileira.

A Caixa Econômica Federal não confirmou nenhuma redução de juros em sua nota enviada ao E-Investidor. A companhia disse que a redução da Selic já vem sendo considerada na curva de juros utilizada para a definição de preço e taxas. “O banco mantém a liderança no crédito acessível para aqueles que mais precisam, disponibilizando menores taxas de mercado nas linhas de crédito pessoal”, comunicou a estatal.

Já o Banco do Brasil costumava comunicar sua redução de juros minutos após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). No penúltimo corte da Selic, em 31 de janeiro, a companhia havia informado uma queda de até 0,04 ponto porcentual ao mês em sua taxa de juros, a depender do perfil do cliente. No entanto, a instituição financeira não soltou nenhum comunicado depois da redução de juros realizada pela equipe de Campos Neto nesta quarta-feira (20).

Em nota, o Banco do Brasil não confirmou nenhum corte em suas taxas de juros. No entanto, o banco disse que monitora e avalia permanentemente os diversos fundamentos do mercado e a concorrência, sempre no propósito de estabelecer sua política de preços em condições competitivas e adequadas às necessidades dos clientes. “Além da Selic, a definição das nossas taxas considera diversas variáveis, como curva de juros futuros, comportamento do cliente, do mercado e as características individuais de cada operação”, explicou a empresa.

Bancos estatais tomam decisão “surpreendente”

Para Acilio Marinello, professor da Trevisan Escola de Negócios e Partner da Essentia Consulting, o fato dos bancos públicos não anunciarem uma redução imediata em suas taxas de juros é algo surpreendente e inesperado pelo mercado. “Quando há uma redução dos juros pelo Banco Central, os bancos públicos são os primeiros a cortar juros. Isso acontece para eles fazerem uma pressão sobre o restante do mercado. Esse é o caminho natural e essa não redução é muito inesperado”, disse o professor.

Ele relatou que a não redução das taxas pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal interferem não somente para as pessoas físicas, mas também pode atrapalhar o objetivo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “A dívida federal é ligada parcialmente aos bancos públicos. E se eles não reduziram suas taxas, o governo paga mais juros, aumentando o valor a ser pago, exigindo que o governo gaste mais dinheiro, o que atrapalha o objetivo de Haddad em encerrar o ano com déficit zero”, explicou Marinello.

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Por outro lado, o especialista vê esse posicionamento como positivo para o investidor de Banco do Brasil. “Essa manutenção de juros reforça a ideia de que o Banco do Brasil tem uma gestão independente do governo e afasta o temor de que a companhia iria reduzir juros forçadamente para fomentar a economia. Isso definitivamente não está acontecendo”, afirmou Marinello.

Redução de taxas de juros nos bancos privados

O Itaú foi o único banco privado consultado pela reportagem a confirmar redução em sua taxa de juros. Em nota, a companhia disse que irá repassar a redução na taxa máxima do empréstimo pessoal no caso de clientes da modalidade pessoa física que contratarem o serviço a partir de segunda-feira (25). “O banco informa ainda que as taxas variam de acordo com o perfil do cliente e de seu relacionamento com o banco. A decisão faz parte do compromisso do Itaú em manter preços competitivos no mercado, oferecendo a melhor relação custo-benefício para seus clientes”, relatou o Itaú.

As demais instituições financeiras não confirmaram nenhuma redução, mas afirmaram que estão atentas aos movimentos do mercado. O Bradesco (BBDC3; BBDC4) comentou que “está avaliando” a possibilidade de reduzir suas taxas de juros.

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O Santander (SANB11) afirmou que avalia constantemente a possibilidade de redução de juros em todas as suas modalidades de crédito para pessoa física. “As taxas aplicadas são compostas por uma série de fatores como a expectativa futura da taxa Selic, inadimplência e as políticas estratégias de crédito”, informou a empresa.

O Nubank (ROXO34) também foi procurado pela reportagem. A empresa disse que avalia periodicamente as taxas de juros dos empréstimos oferecidos aos clientes em função do custo de capital e do risco individualizado, de forma a refletir nas taxas praticadas as melhores condições possíveis.

“Em empréstimos consignados para servidores públicos federais, por exemplo, a redução de complexidades e a implementação de uma experiência 100% digital têm permitido ao Nubank cobrar uma das menores taxas de juros do mercado, segundo dados do Banco Central do Brasil”, detalhou o banco fundado por Cristina Junqueira.

Itaú sai na frente dos concorrentes

Segundo Acilio Marinello, o Itaú saiu na frente dos concorrentes pelo fato de ter uma boa gestão, o que resultou no maior lucro entre os privados com uma inadimplência controlada. A empresa administrada por Milton Maluhy Filho encerrou 2023 com um lucro líquido de R$ 35,6 bilhões. O Bradesco teve um lucro de R$ 16,3 bilhões, o Santander lucrou R$ 9,4 bilhões e o Nubank encerrou 2023 com um lucro de US$ 1 bilhão.

O Itaú também está com a menor inadimplência entre os pares privados. O indicador encerrou o quarto trimestre de 2023 em 2,8%. O número é menor que a inadimplência de 6,1% do Nubank, de 5,2% do Bradesco e de 3,1% no Santander.

Segundo Marinello, quanto maior a taxa de inadimplência entre os bancos, maior são os juros que a instituição financeira tende a cobrar de seus clientes. “Isso acontece pelo fato do aumento das provisões. Cobrar um juro maior ajuda o banco a cobrir os calotes dos clientes que não pagam. Infelizmente, quem paga as contas em dia acaba sendo penalizado no mercado por quem não paga”, argumentou Marinello.

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Por fim, ele disse, ainda, que seria interessante para qualquer brasileiro, seja investidor ou não, continuar monitorando as taxas de juros dos bancos públicos. “Esse realmente é o grande destaque e um movimento muito inesperado. Talvez eles anunciem mudanças nas próximas semanas ou meses. A queda dos juros é um instrumento do Banco Central para reduzir o endividamento da população, mas se as instituições financeiras não reduzem os juros, o objetivo final não acontece na prática”, conclui Marinello.

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