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Ex-CEO da Americanas (AMER3) é preso em Madri por suspeita de fraudar balanço

Detenção ocorre no âmbito da operação da Polícia Federal deflagrada nesta quinta-feira; confira os detalhes

Ex-CEO da Americanas (AMER3) é preso em Madri por suspeita de fraudar balanço
Fachada de loja da Americanas (Foto: PEDRO KIRILOS/ Estadão Conteúdo)

O ex-CEO da Americanas (AMER3), Miguel Gutierrez, foi preso nesta sexta-feira(28) em Madri, na Espanha, segundo informações divulgadas pelo Estadão. Gutierrez é suspeito de fraudar o balanço da varejista junto com sua diretoria, que resultou em um rombo de R$ 25,3 bilhões. Ontem, o ex-executivo da varejista teve seu mandato de prisão preventiva emitido pela Polícia Federal na Operação Disclosure, que foi realizada em parceria com o Ministério Público Federal (MPF).

Além do mandato de prisão de Gutierrez, a polícia também emitiu um mandato de prisão para Christina Ramos Saicali, também ex-diretora da Americanas. A PF ainda emitiu outros 15 mandados de busca e apreensão nas residências de ex-executivos. O Ministério Público informou que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) prestou apoio técnico durante a investigação. Por ordem da Justiça Federal, foi determinado o bloqueio de bens e valores dos ex-diretores, ultrapassando R$ 500 milhões.

Em nota enviada ao E-Investidor, a Americanas reiterou sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforçou que foi vítima de uma fraude de resultados pela antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes. “A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos”, informou a empresa.

Relembre o caso Americanas

No dia 11 de janeiro de 2023, a Americanas enviou um comunicado ao mercado reportando “inconsistências contábeis” de R$ 43 bilhões nos balanços. Oito dias depois do anúncio do rombo financeiro, em 19 de janeiro de 2023, a Americanas entrou em recuperação judicial.

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Após a divulgação do rombo – que no início era de R$ 20 bilhões e em junho de 2023 foi reconhecido como um rombo de R$ 25,3 bilhões –, Sérgio Rial deixou o cargo de presidente da varejista acompanhado do então diretor de Relações com Investidores, André Covre. Os executivos haviam tomado posse há menos de dez dias. Atualmente, Leonardo Coelho é o CEO da empresa.

No dia seguinte à descoberta, Rial declarou em evento do BTG Pactual que o impacto bilionário da companhia estava relacionado ao “risco sacado, que não era lançado como dívida”.

Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o “risco sacado” consiste em uma modalidade de antecipação de recebíveis. Ou seja, “a companhia vendedora emite uma fatura que contempla o prazo a ser financiado pelo banco, porém não reconhece em sua contabilidade a venda pelo valor presente. E com isso apresenta um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) maior”.

Assim, a empresa compradora consegue distorcer sua real situação financeira. O Ebitda, por sua vez, serve como “um indicador bastante útil para medir o potencial de geração de caixa da empresa”, afirmou a Rico Investimentos, em relatório.

PwC, empresa que realizava as auditorias da Americanas (AMER3), negou responsabilidade por “inconsistências contábeis” da varejista na ação civil pública proposta pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor e Trabalhador (Abradecont). No processo, a Abradecont pede a responsabilização da auditoria e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por omissão e negligência. Entretanto, no final de junho deste ano, a auditoria foi substituída pela BDO.

Vale destacar também que a CVM abriu processos administrativos para investigar a Americanas, além de ter recebido uma denúncia contra a companhia. Bancos e corretoras colocaram as ações da varejista sob revisão e as principais agências de classificação de risco – Moody’sFitch e S&P Global Ratings – rebaixaram os ratings da companhia após a descoberta do rombo contábil.

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Funcionários da Americanas (AMER3) e sindicatos protestaram em frente a uma loja da empresa no Centro do Rio de Janeiro, em fevereiro. O grupo reclamava de demissões e temiam perda de direitos trabalhistas em meio ao turbilhão judicial do caso. Em junho de 2023, a Americanas divulgou a lista de quais seriam os executivos que seriam investigados.

Confira quem são os executivos acusados de fraude pela Americanas

Miguel Gutierrez

Gutierrez tem longa carreira na varejista. O engenheiro entrou na empresa em 1993 e passou por áreas como operações, financeira e logística. Esteve à frente do cargo de CEO das Americanas desde 2001 até dezembro de 2022, quando deu lugar ao executivo Sérgio Rial, que revelou o rombo da empresa em janeiro de 2023.

Miguel Gutierrez tinha um perfil discreto, ausente de redes sociais. O ex-CEO raramente concedia entrevistas. Ele era o principal homem de confiança de Beto Sicupira, um dos três principais acionistas da empresa, no negócio.

Anna Saicali

A ex-diretora da varejista está na empresa desde 1997 e foi CEO da AME Digital, carteira digital da Americanas. Formada em artes plásticas e em finanças corporativas, passou pelas áreas de recursos humanos e tecnologia.

Saicali foi diretora presidente da B2W de 2004 a 2018, depois assumiu a presidência do conselho administrativo da companhia até o ano de 2021. A ex-diretora está afastada de suas funções executivas desde desde 3 de fevereiro de 2023. Na época, a Americanas disse que seu desligamento da empresa já foi determinado pela administração.

José Timótheo de Barros

José Timotheo Barros foi vice-presidente de lojas físicas, logística e tecnologia da empresa. Com carreira na companhia desde 1996, onde começou como trainee, tinha atribuições relacionadas com relação com fornecedores, lojistas terceirizados, entregadores e gestão de estoque.

Barros foi afastado de suas funções executivas 3 de fevereiro de 2023 e comunicou sua renúncia em 1 de maio do mesmo ano.

Márcio Cruz Meirelles

O executivo foi presidente da B2W entre 2018 e 2021, quando ocorreu a fusão com a Americanas. A partir de 2021, assumiu o cargo de CEO de digital da empresa. Cruz também foi afastado em 3 de fevereiro e já teve o seu desligamento determinado pela administração da Americanas.

Fábio da Silva Abrate

O executivo está na empresa desde 2003 e já passou pelo posto de diretor financeiro e esteve à frente da contabilidade da empresa pelos últimos anos. Abrate é mais um dos afastados em 3 de fevereiro de 2023 e com desligamento determinado agora.

Flavia Carneiro

Também vinda da fusão com a B2W, Carneiro atuava como superintendente de controladoria da companhia. Foi afastada das funções em fevereiro e está desligada da empresa.

Marcelo da Silva Nunes

Outro executivo fruto da fusão com a B2W em 2021, Nunes era diretor financeiro da Americanas. O executivo está afastado das funções desde fevereiro e agora foi desligado da empresa.

Vale lembrar que o processo está em investigação, e todos da listas são considerados pela lei inocentes até que se prove o contrário.

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* Colaboraram: Iuri Gonçalves, Luiza Lanza e  Artur Nicoceli. Com informações do Broadcast