Queda da Selic em 2026 deve aliviar custos financeiros das empresas e impulsionar a recuperação dos lucros, segundo o BTG Pactual. (Foto: Adobe Stock)
A projeção do BTG Pactual para os próximos anos parte da tese de que os lucros das empresas brasileiras devem acelerar de forma significativa em 2026, mesmo com uma economia mais fraca. O banco estima que as companhias listas, excluindo Petrobras (PETR3; PETR4) e Vale (VALE3), devem registrar alta de 14% nos lucros em 2025 e 17% em 2026, num cenário em que o Produto Interno Bruto (PIB) desacelera de 2% para 1,5%. O relatório “Brazil Strategy” sustenta a leitura de que a dinâmica financeira será mais determinante do que a macroeconômica.
O ponto-chave para entender essa aparente contradição é o comportamento da política monetária. O BTG é direto: os juros vão cair muito em 2026. A projeção do banco é de um “corte total de 300 pontos-base na Selic” no próximo ano, começando já em janeiro. Com isso, a taxa média passaria de 14,6% em 2025 para 13,1% em 2026, ainda alta, mas bem menos sufocante. Como grande parte das empresas carrega dívidas diretamente indexadas à Selic, essa queda funciona como um alívio imediato no resultado financeiro. O efeito, segundo o relatório, é tão intenso que passa a ser o principal motor de crescimento dos lucros corporativos.
Para cada 100 pontos-base de queda dos juros, varejo e locadoras, por exemplo, têm um salto estimado de 4% nos lucros. Esses setores compartilham características estruturais (balanços mais alavancados e dívidas de curto prazo atreladas aos juros básicos) que amplificam o impacto da política monetária.
Atenção ao mercado doméstico
Nesse contexto, um grupo específico de empresas deve experimentar uma recuperação expressiva: as companhias voltadas ao mercado doméstico. Depois de um crescimento tímido de 5% nos lucros em 2025, a expectativa é que o avanço chegue a 13% em 2026. O BTG lembra que essas empresas “foram muito prejudicadas pela Selic média altíssima de 2025“, e que o alívio monetário leva, por si só, a uma normalização dos resultados.
Entre os setores, os bancos devem ser a maior fonte absoluta de expansão dos lucros. A projeção é de um aumento de R$ 15,8 bilhões na rentabilidade do setor em 2026, com destaques para Banco do Brasil (BBAS3, +R$ 5,6 bi), Bradesco (BBDC4, +R$ 4,3 bi) e Itaú (ITUB3, +R$ 3,4 bi). Segundo o relatório, o desempenho fraco de 2025, especialmente no BB, pressionado por calotes no agro e pelos efeitos da Resolução 4.966, deve dar lugar a um ano de normalização da inadimplência rural e retomada gradual do crédito.
O setor financeiro, portanto, volta a ser um dos pilares do crescimento agregado.
Natura, Raia Drogasil e Assaí: empresas que carregam o varejo
Outro destaque é o varejo, cuja disparada esperada para 2026 chama atenção: +34% nos lucros, puxados principalmente pela Natura (NATU3, responsável por cerca de um terço do ganho total do setor) e também por Raia Drogasil (RADL3) e Assaí (ASAI3). O BTG reforça que essa melhora ocorre “mesmo sem considerar um PIB mais forte“, apenas a queda dos custos financeiros já proporciona um impulso relevante, dada a estrutura de dívidas indexadas à Selic.
Expectativas de lucro para 2026
O banco também avalia como as estimativas de lucro mudaram nos últimos meses. No geral, as projeções para 2026 recuaram apenas 1,7%, com quedas maiores entre empresas domésticas (-2,8%) e estabilidade nas companhias de commodities. Mas esses números escondem movimentos fortes dentro de setores. As maiores revisões negativas vieram dos bancos (-R$ 5,2 bi), do agronegócio (-R$ 5,1 bi) e do setor de papel e celulose, puxado pela Suzano (SUZB3), com -R$ 4,4 bi.
Entre as revisões positivas, brilham metais e mineração com alta de R$ 3 bi, e a própria Vale (VALE3), com melhora de 30% na estimativa de lucro graças a minério mais caro e maior volume. Em utilities, a Axia Energia (AXIA3) aparece como destaque após revisão de +R$ 3,4 bi motivada pelo preço mais alto de energia.
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A conclusão do BTG é que, mesmo com a economia fraca e algumas revisões setoriais negativas, 2026 deve ser um ano forte para os lucros corporativos no Brasil.