- Governo vai virar sócio das empresas aéreas para evitar que o setor quebre
- Ministro projeta queda brusca seguida por um período de estagnação econômica
- Auxílio emergencial pode ser prorrogado, porém por valor menor
Socorro às empresas aéreas, extensão do auxílio emergencial, retomada em V (“mas o V da Nike”)… Após algumas semanas de silêncio, em que o risco de sua saída do governo causou enorme preocupação no mercado financeiro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou à cena essa semana para expor linhas de enfrentamento da crise econômica decorrente da pandemia de coronavírus e do caos político no Brasil.
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As visões e planos de Paulo Guedes foram expostos em uma reunião com empresários e reportagens baseadas em informações apuradas junto a integrantes da pasta. O E-Investidor compila as principais ideias do ministro da Economia para o combate à crise econômica.
Governo vai virar sócio das empresas aéreas
Paulo Guedes revelou que o governo federal vai virar sócio das companhias aéreas, como parte do plano para socorrer o setor, duramente afetado pelas restrições de deslocamento.
“Nós vamos comprar debêntures conversíveis. É dinheiro público, então é um dinheiro que tem potencial de ganho. É o correto a fazer. Vamos botar o dinheiro lá e vamos comprar um pedaço da empresa. E lá na frente, quando a empresa tiver recuperada e começar a voar de novo, a gente vende isso e ganhamos dinheiro para preservar as companhias brasileiras”, afirmou o ministro, em encontro com empresários do setor de serviços, na terça-feira (19).
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A ajuda ao setor aéreo será de R$ 6 bilhões, em ação coordenada entre o BNDES e os quatro maiores bancos do país: Bradesco, Itaú, Santander e Banco do Brasil. Azul, Gol e Latam receberão R$ 2 bilhões cada.
Deste total, 75% serão injetados por meio de debêntures e os 25% restantes, convertidos em ações, o que tornaria o governo sócio das empresas. As informações são de O Globo.
Crise do Brasil será em V. Mas o V da Nike
No mesmo encontro com empresários, Guedes disse esperar uma retomada rápida da economia brasileira. O otimismo, porém, não chega ao que no jargão econômico se chamada de recuperação em “V”. Ou seja, uma queda rápida sucedida por uma recuperação igualmente veloz.
“Eu ainda acredito numa saída do Brasil em V. Não é um V. É um ‘V da Nike’. Ele cai meio rápido, sobe meio devagar, mas fica pouco tempo lá embaixo, já começa a subir de novo. O Brasil tem capacidade de fazer uma recuperação relativamente rápida. Isso é o que eu acredito. Mas nós vamos ter que entrar em campo para fazer isso acontecer daqui a uns 30 dias”, disse, em alusão à logomarca da Nike, o Swoosh.
40% de risco de recuperação em “U”
A equipe econômica, contudo, trabalha com outro cenário, mais sombrio. Reportagem do Estadão publicada no domingo (17) revelou que o time de Guedes vê 40% de probabilidade de uma retomada em “U”, caso a pandemia se agrave. Com isso, a recessão duraria mais e a recuperação seria mais lenta.
O “V da Nike” tem, na mesma análise, 50% de chance de se concretizar. Isso significaria uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de no máximo 4% este ano, com alta de cerca de 5% em 2021.
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Há um terceiro cenário, mais sombrio, de retomada em “L”. Ou seja, queda brusca seguida de um período de estagnação econômica. Hoje, o ministério vê 10% de risco de este cenário se concretizar.
Auxílio emergencial prorrogado, mas reduzido a R$ 200
O ministro trabalha com a hipótese de prorrogar o auxílio emergencial, benefício do governo federal destinado a trabalhadores informais, microempreendedores individuais, autônomos e desempregados. O pagamento foi inicialmente previsto para durar três meses, de abril a junho. Pode ser ampliado até agosto, porém com valor inferior aos atuais R$ 600 mensais.
“Se voltar para R$ 200 quem sabe não dá para estender um mês ou dois? R$ 600 não dá. O que a sociedade prefere, um mês de R$ 600 ou três de R$ 200? É este tipo de conta que estamos fazendo”, afirmou Guedes, na mesma reunião com empresários.
O ministro também disse temer que a extensão do auxílio possa desestimular as pessoas a retomar a atividade profissional.
“Se falarmos que vai ter mais três meses, mais três meses, aí ninguém trabalha. A prateleira vai estar vazia porque vão parar de produzir”, complementou.
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A prorrogação também estará atrelada à revisão de gastos considerados ineficientes, como o abono salarial, o seguro-defesa e o programa farmácia popular, conforme noticiou o Estadão/Broadcast.
Carteira verde amarela mais robusta
Também faz parte do plano de retomada de Guedes um regime especial contra desemprego em massa. Na prática, uma versão mais robusta da “carteira verde amarela”, projeto do ministério da Economia para geração de empregos com menos encargos para as empresas.
O programa deu origem à Medida Provisória 905, que perdeu validade antes de ser aprovada pelo Congresso. Agora, a equipe de Guedes trabalha no desenvolvimento de um formato diferente, desatrelado de faixas etárias específicas. O Programa Verde Amarelo era para jovens de 18 a 29 anos.
Aos empresários do setor de serviços, Guedes disse pretender desonerar os encargos sobre a folha salarial, criando um “sistema favorável ao emprego e não hostil” que possa gerar nos próximos anos de 10 milhões a 15 milhões de empregos.
“Temos 40 milhões de formais e 40 milhões de empregados e subempregados porque a cada emprego que gera para mais um em encargos e obrigações”, disse, no encontro.