O que este conteúdo fez por você?
- Os títulos dos dois países sul-americanos despencaram neste mês e devem permanecer com baixo desempenho em meio a eleições polarizadas, débitos fiscais crescentes e, no caso da Colômbia, um déficit em conta corrente cada vez maior
- Embora os títulos em moeda local de alguns países provavelmente se recuperem das perdas assim que a atual série de reprecificação terminar, Brasil e Colômbia talvez despenquem ainda mais, depois de seus bancos centrais terem aumentado as taxas de juros no ano passado
(Davison Santana e Maria Elena Vizcaino, WPost/Bloomberg) – Conforme os rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos aumentam e fazem as telas que mostram as negociações ficarem vermelhas em todo o mundo, dois países em particular têm um ano conturbado pela frente: Brasil e Colômbia.
Leia também
Os títulos dos dois países sul-americanos despencaram neste mês e devem permanecer com baixo desempenho em meio a eleições polarizadas, débitos fiscais crescentes e, no caso da Colômbia, um déficit em conta corrente cada vez maior.
Embora os títulos em moeda local de alguns países provavelmente se recuperem das perdas assim que a atual série de reprecificação terminar, Brasil e Colômbia talvez despenquem ainda mais, depois de seus bancos centrais terem aumentado as taxas de juros no ano passado.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
O rendimento dos títulos em moeda local de 2025 da Colômbia foi para mais de 8% esta semana, ante os 7,4% no início do ano. Ao mesmo tempo, os rendimentos das notas domésticas do Brasil com vencimento no mesmo ano subiram de 10,65% para mais de 11,50%, antes de reduzir parte da movimentação. Só a Rússia se saiu pior, em meio ao pessimismo quanto às negociações com os EUA.
“As manchetes talvez sejam desagradáveis e todos nós estaremos fartos das campanhas eleitorais em alguns meses”, disse Viktor Szabo, investidor da Aberdeen Asset Management em Londres. “O ruído político será alto.”
As preocupações dos investidores também podem ser vistas nas taxas de swap de cinco anos, um indicador da percepção do ‘risco país’. Na Colômbia, os contratos de swap de cinco anos subiram 73 pontos base até agora, saltando 69 pontos apenas nos primeiros cinco pregões, a maior movimentação semanal desde o início da pandemia em março de 2020. O contrato de swap do Brasil com vencimento em janeiro de 2027 subiu até 88 pontos base, antes de reduzir a movimentação para 56 pontos nesta semana.
Embora os mercados de títulos no México, Peru e Chile acompanhem quedas globais, na Colômbia e no Brasil o aumento dos rendimentos nos EUA reforçou uma série de preocupações locais.
Publicidade
A Colômbia realizará o primeiro turno das eleições presidenciais em maio, com pesquisas mostrando uma clara vantagem para o esquerdista Gustavo Petro. O candidato disse que o governo deve pedir dinheiro emprestado ao banco central com taxas de juros a zero, em vez de recorrer aos mercados e interromper a exploração de petróleo.
“Em virtude das condições fundamentais por trás de tudo isso, a Colômbia não pode se dar ao luxo de ter uma mudança de regime”, disse Patrick Esteruelas, chefe de pesquisa da Emso Asset Management. “O país precisa de uma âncora fiscal confiável depois de perder o grau de investimento.”
Tanto a Fitch Ratings como a S&P Global Ratings reduziram a Colômbia ao status de junk em 2021, depois que uma onda de protestos nas ruas do país obrigou o governo a voltar atrás nos aumentos de impostos.
Ao mesmo tempo, o déficit em conta corrente da Colômbia, uma preocupação de longo prazo dos investidores, aumenta cada vez mais com a saída de dólares da economia. O déficit subiu para 5,1% do PIB do país no terceiro trimestre de 2021, ante os 4,3% nos três meses anteriores. E provavelmente atingiu cerca de 5,6% no quarto trimestre, segundo o banco central.
Publicidade
“O agravamento do déficit em conta corrente torna a Colômbia ainda mais vulnerável às condições externas cada vez mais rigorosas do que outros países da região”, escreveu Olga Yangol, chefe de pesquisa de mercados emergentes do Credit Agricole em Nova York, em nota.
O Brasil talvez esteja em uma posição ainda pior. Espera-se que a economia do País cresça 0,75% este ano, menos do que qualquer outro mercado emergente vizinho, de acordo com economistas consultados pela Bloomberg. Ao mesmo tempo, os traders terão que lidar com uma eleição presidencial polarizada em outubro e constantes ameaças às regras fiscais do governo.
É provável que a eleição coloque o atual presidente Jair Bolsonaro contra o ex-líder de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva. Os investidores nem mesmo têm certeza de qual deles os mercados devem apoiar.
Apesar de Lula ter adotado políticas amplamente favoráveis ao mercado durante seus dois mandatos, isso talvez mude se ele tiver um terceiro mandato, já que seu partido está se comprometendo a revisar a reforma da Previdência e os projetos de teto de gastos aprovados nos últimos seis anos.
Publicidade
Bolsonaro, por sua vez, não conseguiu convencer os investidores de que ele é uma opção segura quando se trata de finanças do governo, movimentando-se para mudar as regras fiscais para permitir que ele gaste mais e melhore suas chances na disputa pela presidência.
“No Brasil, esperamos um ambiente barulhento e polarizador durante o período que antecede as eleições presidenciais de outubro de 2022”, escreveu o diretor de investimentos da Gramercy Funds Management, Robert Koenigsberger, nas perspectivas trimestrais da empresa. “Os investidores estarão em busca de sinais sobre as prioridades da política econômica dos principais candidatos no contexto de crescimento estável do PIB projetado e de uma perspectiva fiscal desafiadora.”
Tradução: Romina Cácia