O que este conteúdo fez por você?
- Nesta quinta-feira (24), a Bloomberg promoveu um evento sobre mulheres nos negócios
- O encontro aconteceu em São Paulo, no Instituto Tomie Ohtake
- Executivos do Itaú, SulAmérica e Eletrobras foram os palestrantes. Entre as pautas, os especialistas endossaram a importância de ações afirmativas
Tomie Ohtake foi uma artista que começou a carreira tarde: dona de casa e mãe de dois filhos, só iniciou aos 39 anos os trabalhos de pintura pelos quais se tornou conhecida e respeitada no Brasil. Parou de pintar poucos dias antes de falecer, aos 101 anos. A japonesa de alma brasileira, entretanto, se tornou uma exceção em uma sociedade desigual em oportunidades.
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E foi no instituto que leva seu nome, o Instituto Tomie Ohtake, que a Bloomberg promoveu um debate sobre desigualdade de gênero nos negócios nesta quinta-feira (24) – o primeiro presencial em quase dois anos. Participaram do bate-papo executivos do Itaú Unibanco (ITUB4), SulAmérica (SULA11) e Eletrobras (ELET3), três das 13 empresas de capital aberto brasileiras que fazem parte do Índice de Igualdade de Gênero da Bloomberg (GEI, na sigla em inglês).
O indicador é composto por 418 companhias, de 45 países, que se comprometeram a eliminar disparidades de gênero no ambiente de trabalho. Na pauta, estava a importância de políticas públicas voltadas para a promoção da equidade corporativa.
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Para Luciana Nicola Schneider, diretora do Itaú Unibanco, sem ações afirmativas o caminho para o alcance da igualdade se torna ainda mais árduo. A especialista defende o direito de reservar vagas a minorias em processos seletivos, já que o fator humano pode atrapalhar nas seleções.
“Sim, está presente o preconceito, o viés inconsciente, em todas as empresas”, afirma Schneider. “Sem ações afirmativas, não conseguiremos conquistar o que queremos. É quase que uma dívida social que precisamos sanar.”
A executiva do maior banco privado do Brasil ressalta o sucesso do programa de trainee do Itaú, após o estabelecimento de vagas reservadas a públicos minoritários, especialmente quando o assunto é diversidade étnica. “Mexemos no processo como um todo e o resultado foi espetacular, conseguimos alcançar a representatividade”, diz Schneider.
A visão é compartilhada por Pedro Villela, gerente de responsabilidade social, marca e reputação na Eletrobras. O executivo trouxe para a discussão os ganhos financeiros que as companhias têm quando o quadro de colaboradores é diverso. Ele defende que pessoas com diferentes panoramas socioculturais conseguem trazer soluções diversas para os negócios.
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“Pensa em uma sala de um conselho de administração só com homens, brancos e de meia idade. Eles pensam quase igual. Como vão trazer outras perspectivas e vivências se eles não têm esse repertório?”, afirma Garcia. “Ações afirmativas geram valor para todo mundo. Equidade de gênero é um ganha-ganha.”
Já Patrícia Quirico Coimbra, vice-presidente de capital humano, administrativo, sustentabilidade e marketing da SulAmérica Seguros, exemplificou a importância da representatividade. Já nos anos 1980, a companhia possuía uma CEO mulher, a Beatriz Larragoiti, conhecida como ‘Dona Beatriz’.
De acordo com Coimbra, a presença de Dona Beatriz na cadeira da presidência era inspiradora. “A política pública [para promoção da igualdade] nos ajuda a ter a consistência, mas ela só é alimentada quando de fato a companhia tem essa cultura. Não pode ser uma agenda paralela, deve ser a agenda do negócio”, afirma. “O fato de termos tido uma CEO mulher fez com que hoje tenhamos percentuais tão elevados de diversidade dentro da empresa.”
Por último, os executivos destacam o conceito de ‘equidade’. Seja por meio de projetos direcionados, cotas e demais ações afirmativas, é necessário entender e atender as necessidades particulares de cada fatia da população. Isto é, quem precisar de mais suporte, recebe mais apoio.
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“É necessário ter a marcação de vagas, precisamos ter o direito de recrutar públicos minorizados. Essa é uma questão muito importante que precisamos colocar na mesa. Hoje o status quo já traz o processo de discriminação, então ter ações afirmativas no processo de recrutamento e seleção não é discriminativo”, afirma Schneider.